«O futebol é o mais democrático dos desportos, porque não elimina por físico e, muitas vezes, distingue por uma simples virtude. Na sua história centenária houve espaço e circunstâncias para gordos (Puskas) e magros (Cruyff); altos (Van Basten) e baixos (Chalana); novos (João Félix) e velhos (Roger Milla); ricos (Michael Laudrup) e pobres (Garrincha); lentos (Pedro Barbosa) e rápidos (Futre); senhores (Beckenbauer) e plebeus (Romário); toscos (Inzaghi) e habilidosos (Ronaldinho Gaúcho); conservadores (Beckenbauer) e revolucionários (Maradona); eternos (Pelé) e esporádicos (Schillaci); consensuais (Iniesta) e discutidos (Sérgio Ramos); corajosos (Gerd Müller) e racionais (Nené); fortes (Hagi) e fracos (Robben). O futebol só não pode prescindir da inteligência, revelada das mais diversas formas.
Daniel Bragança diferencia-se pela lucidez com que está em campo e na expressão de um talento prodigioso que se traduz no sentido de organização, na criatividade e na preponderância ligada à utilização da bola, do movimento e da harmonia colectiva que conduz o jogo a zonas de risco para o adversário. Mas o jovem médio do Sporting também exerce integrado na força de segurança que barra o caminho para a sua baliza, porque percebe de onde vem o perigo, quais as zonas mais frágeis do seu exército e as linhas que precisam de ser reforçadas.
É um jogador com técnica refinada e ampla visão; que entende e domina as chaves colectivas e estruturais do futebol; que sabe posicionar-se e toma decisões sempre acertadas. Em posse privilegia as associações curtas mas tem precisão extraordinária nas solicitações longas – ao contrário de outros, vê bem ao perto e ao longe. É responsável no trabalho mais sujo e brilhante a iluminar os caminhos de acesso ao golo. O seu futebol só atinge a excelência quando reúne as condições para pensar e criar com a bola nos pés – nada perdeu pela ausência no jogo de Braga.
DB defende um estilo, fortalece uma atitude e adapta o requinte de uma plasticidade indiscutível a inegáveis qualidades para a função que desempenha. Não negoceia convicções, antes aplica o talento de um excepcional maestro às exigências de um 8 (como box to box) ou mesmo de um 6 (ponta-de-lança dos defesas e líbero de toda a manobra ofensiva, como fez nos sub-21 de Rui Jorge). As alterações tácticas introduzidas em determinado momento por Rúben Amorim tiveram em conta o seu momento deslumbrante; o seu instinto criativo e o modo como melhora cada bola que toca; as decisões correctas e tomadas em prol do colectivo; a imaginação agregada ao senso comum da distribuição, ao sentido dos movimentos e à perfeição dos gestos; a magia no trato da bola e o jeito especial para transformar qualquer esquema táctico, incluindo o mais improvável, num potencial lance de golo.
Sob o comando de um treinador que sobrepõe o talento à luta (sejamos educados e omitamos o que sucedeu em Braga); para quem ordem, disciplina e organização constituem ponto de partida sagrado para o funcionamento da máquina mas não são tudo numa equipa; que confia nas suas ideias e não corta as asas ao talento e ao espírito criativo dos seus jogadores, DB não se tem inibido. Aos 21 anos oferece tudo a um colectivo que lhe concede liberdade para não ser prisioneiro de uma complexa teia de obrigações limitativa da intervenção. Porque quando se joga com bola os espaços são mais importantes do que os adversários, DB sente-se em casa. Pode jogar menos bem mas nunca joga mal e domina sempre o papel que lhe cabe na peça, razão pela qual não o vemos pressionado por nervos e insegurança que costumam acompanhar os jovens actores antes de subirem ao palco. Com mais ou menos minutos na Liga, o futebol português ganhou um enorme centrocampista..»
Leoninamente,
Até à próxima
Os grandes treinadores percebem os jogadores e metem os melhores a jogar. RA é assim, nao liga a nomes. Outros ha, tipo Ivo Vieira que nao põem os melhores para fazer favores ao dono. Triste futebol portugues...
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