«Num desporto colectivo como o futebol, que implica a harmonização de cada uma das onze parcelas que compõem o todo, correr é o primeiro instinto, por norma em função da bola. O jogo, porém, encarrega-se de mostrar que esse apelo muscular só faz sentido respeitando duas orientações: quando e para onde, caso contrário instala-se o caos e, a partir daí, é quase impossível retomar o rumo. Raphinha revelou em Braga ter o disco rígido bem preenchido nessa rara gestão de tempo e espaço, porque uma das suas principais qualidades, que outros só revelam mais tarde, é a de saber esperar pela sua hora. Assente em talento deslumbrante, não confia só na inspiração; tem um reportório ilimitado mas não se diminui quando interpreta o jogo sem o apoio das musas. Aos 21 anos comporta-se com a maturidade das grandes estrelas e espera pela genialidade trabalhando como operário – menos um capítulo com o qual tem de preocupar-se na enciclopédia que precisa de aprender e assimilar.
Para Raphinha, travar tem o mesmo impacto de acelerar. O seu jogo é feito de pára-arranca e sucessivos ziguezagues em campo aberto, mas não é caracterizado pela vertigem da velocidade. Sendo rápido em todos os sentidos (a pensar, a deslocar-se, a conceber e a executar) é um bom exemplo do raciocínio que distingue futebolistas e atletas, nas palavras do argentino Angel Cappa, um dos grandes pensadores do futebol moderno: "O atleta quando chega acaba, o futebolista quando chega começa." Iniciando as acções a partir das faixas laterais, é um notável criador de desequilíbrios e um gerador constante de situações de apuro. Como esquerdino, as diagonais da direita para o meio, com a bola controlada, em tabelinhas na aproximação à zona de tiro, são diabólicas e constituem momentos de grande exaltação colectiva (em Braga teve remates que não passaram longe do alvo); na esquerda, porque nunca perde a lucidez, não se distrai e mantém o foco na acção, provoca estado de alerta máximo, porque o caminho em linha recta vai acumulando veneno para ser descarregado na chegada ao destino.
Jogador com soluções para cada dificuldade, mantém a atitude, recusa a urgência e ainda nem sequer sabe o que significa ansiedade; sendo rápido, articulado e muitíssimo talentoso, guia-se pelos parâmetros dos grandes futebolistas: nunca tem pressa, não comete erros por precipitação e está sempre alerta para aproveitar deslizes alheios traduzidos em centésimos de segundo de atraso na chegada aos lances ou em milímetros de folga em marcações tantas vezes impiedosas. Raphinha é hábil a participar em acções combinadas de progressão participada, que melhora a cada toque na bola, e faz disparar as sirenes que prenunciam a desgraça quando pega na bola, vai direito ao assunto e assina quadros esplendorosos nos quais todos têm um papel a cumprir: ele como protagonista, a bola como instrumento da emboscada e os adversários como vítimas da desgraça.
Claro que não é ainda um projecto concluído; que a técnica escandalosa precisa de ser apetrechada com melhor entendimento táctico; que jogar em bicos de pés, como se não quisesse fazer barulho, muito menos concessões imorais à tresloucada dinâmica dos choques e demais decisões heróicas, precisa de contundência em determinados gestos e movimentos. Aos 21 anos, Raphinha tem tudo para vir a ter uma carreira excepcional, de que a passagem por Alvalade poderá ser apenas uma etapa transitória. Agora, basta-lhe progredir naturalmente e não ter azar para se tornar figura maior no Sporting. Correndo algum risco na perspectiva de futuro (é ainda muito cedo), numa análise a médio prazo, se tiver sorte pode mesmo vir a tornar-se um dos grandes jogadores do futebol moderno, figura de uma qualquer potência europeia. E estrela da reserva espiritual do futebol mundial que é a selecção do Brasil.»
Para Raphinha, travar tem o mesmo impacto de acelerar. O seu jogo é feito de pára-arranca e sucessivos ziguezagues em campo aberto, mas não é caracterizado pela vertigem da velocidade. Sendo rápido em todos os sentidos (a pensar, a deslocar-se, a conceber e a executar) é um bom exemplo do raciocínio que distingue futebolistas e atletas, nas palavras do argentino Angel Cappa, um dos grandes pensadores do futebol moderno: "O atleta quando chega acaba, o futebolista quando chega começa." Iniciando as acções a partir das faixas laterais, é um notável criador de desequilíbrios e um gerador constante de situações de apuro. Como esquerdino, as diagonais da direita para o meio, com a bola controlada, em tabelinhas na aproximação à zona de tiro, são diabólicas e constituem momentos de grande exaltação colectiva (em Braga teve remates que não passaram longe do alvo); na esquerda, porque nunca perde a lucidez, não se distrai e mantém o foco na acção, provoca estado de alerta máximo, porque o caminho em linha recta vai acumulando veneno para ser descarregado na chegada ao destino.
Jogador com soluções para cada dificuldade, mantém a atitude, recusa a urgência e ainda nem sequer sabe o que significa ansiedade; sendo rápido, articulado e muitíssimo talentoso, guia-se pelos parâmetros dos grandes futebolistas: nunca tem pressa, não comete erros por precipitação e está sempre alerta para aproveitar deslizes alheios traduzidos em centésimos de segundo de atraso na chegada aos lances ou em milímetros de folga em marcações tantas vezes impiedosas. Raphinha é hábil a participar em acções combinadas de progressão participada, que melhora a cada toque na bola, e faz disparar as sirenes que prenunciam a desgraça quando pega na bola, vai direito ao assunto e assina quadros esplendorosos nos quais todos têm um papel a cumprir: ele como protagonista, a bola como instrumento da emboscada e os adversários como vítimas da desgraça.
Claro que não é ainda um projecto concluído; que a técnica escandalosa precisa de ser apetrechada com melhor entendimento táctico; que jogar em bicos de pés, como se não quisesse fazer barulho, muito menos concessões imorais à tresloucada dinâmica dos choques e demais decisões heróicas, precisa de contundência em determinados gestos e movimentos. Aos 21 anos, Raphinha tem tudo para vir a ter uma carreira excepcional, de que a passagem por Alvalade poderá ser apenas uma etapa transitória. Agora, basta-lhe progredir naturalmente e não ter azar para se tornar figura maior no Sporting. Correndo algum risco na perspectiva de futuro (é ainda muito cedo), numa análise a médio prazo, se tiver sorte pode mesmo vir a tornar-se um dos grandes jogadores do futebol moderno, figura de uma qualquer potência europeia. E estrela da reserva espiritual do futebol mundial que é a selecção do Brasil.»
Raphinha é mesmo uma pérola a crescer em Alvalade!...
Leoninamente,
Até à próxima
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