O leitão do nosso descontentamento
«Foi dado grande destaque mediático ao recente encontro dos presidentes dos clubes da Primeira Liga, no restaurante o Rei dos Leitões, na Mealhada.
Esta reunião nada teria de singular não fora dois significativos pormenores. O presidente da Liga não foi incluído e os presentes fizeram questão que isso se fosse conhecido. Foi noticiado ainda, pouco tempo depois, um improvável tête-à-tête, entre os presidentes do Benfica e do FC Porto, no mesmo restaurante. Desta feita, o presidente da Liga teria participado em parte da conversa. Finalmente dá-se agora eco à possibilidade de os principais clubes da Primeira Liga formarem uma associação independente para dialogar com o Governo sobre o incerto futuro do futebol.
Esta cronologia justifica algumas reflexões. A primeira é que o futebol está em tempo de divisão. Parece óbvio que os grandes clubes não se sentem representados pela Liga e, dentro desses grandes clubes, há quem se posicione para liderar o processo. A segunda é que causa alguma impressão ver assuntos tão importantes tratados entre duas trinchadelas. A terceira é que FC Porto e Benfica querem voltar a liderar o futebol português, mesmo que, para isso, tenham de engolir ressentimentos ancestrais.
Se há alguma coisa que o ‘Apito Dourado’ e o ‘E-Toupeira’ ensinam é que os presidentes actuais do Benfica e FC Porto alimentam um sentimento proprietário relativamente ao futebol e não hesitam sequer na legalidade dos meios utilizados para alcançar esse desiderato. Como é óbvio, o FC Porto não encara, nem por um minuto, partilhar o poder com o Benfica; aproveita-se, sagazmente, das debilidades actuais do presidente do Benfica para o atrair com cantos de sereia. Depois, quando for altura, descarta-o, se a oposição interna não o fizer antes.
Toda esta movimentação pressupõe a marginalização da Liga, que fica remetida a um papel de gestora administrativa do futebol profissional. A hegemonia que o Sporting conquistou este ano desencadeou um abalo telúrico de enormes proporções na concorrência, porque os confrontou com a amarga constatação que já não mandavam como outrora.
Com estes protagonistas e esta mentalidade, não parece que o futebol possa esperar a transparência, sustentabilidade e competitividade tão necessárias à sua credibilização. Este ‘dueto do leitão’ lembra-me irresistivelmente os velhos dos Marretas, que teimam em não sair de cena.
A alternativa, portanto, é continuar a ser afilhado destes padrinhos ou assumir o Ipiranga de um novo modelo de modernidade, no seio das instituições a quem foi legalmente cometido o encargo de gerir o futebol.»
Traduzida para linguagem popular, de forma a que nenhum adepto do futebol que vamos tendo por cá necessite que lhe expliquem, a lógica e incontornável conclusão deste excelente texto de Carlos Barbosa da Cruz aponta para um único caminho capaz de fazer regressar ao nosso futebol, "a transparência, sustentabilidade e competitividade tão necessárias à sua credibilização": o prolongamento por tempo razoável e capaz de tal permitir, da "hegemonia conquistada este ano pelo Sporting Clube de Portugal". Daí que se possa afirmar, sem margem para muitas dúvidas, para bem do futebol português...
O Sporting terá de voltar a ser campeão!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
Caro Alamo, á sua expressao acrescento “seno deixarem”…SL
ResponderEliminarNesta última época também não deixaram, mas... aconteceu!!!...
EliminarVai ser mais difícil? Ai isso vai, muito mais, até. Mas, jogo a jogo, porque não?
Parabéns pelo o artigo do CBC. Não estou a ver como o futebol português com estes dois senhores poderá ser regenerado. Os clubes estão neste momento a marginalizar a instituição que representa os clubes. E agora vão formar uma associação para falar com o Governo. A minha grande dúvida é o papel que o Sporting pode ter nesta situação. Andar a reboque daqueles que têm sido os maiores coveiros deste futebol que temos?
ResponderEliminarNão sei...
Ainda sou do tempo, embora fosse criança, de ouvir falar nas reuniões em Canal Caveira, onde degustando o famoso cozido á portuguesa se decidiram vencedores, se combinaram pagamentos a árbitros e outros agentes. Um dos protagonistas ainda é o mesmo, afinal está cá há 40 anos!
ResponderEliminarMudam-se os tempos, mudam o menu, tudo o resto parece não ter mudado!!
SL