segunda-feira, 11 de março de 2024

Nem todos serão "escribas a soldo"!...


O paradigma Geny Catamo é a virtude de Rúben Amorim

Pedro Barata
«Tal como Rúben Amorim sublinhou no final do triunfo contra o Arouca, o 3-0 é um resultado que não traduz as dificuldades que o Sporting sentiu contra a talentosa equipa de Daniel Sousa. Entre o cansaço dos verde e brancos e o talento de Cristo e companhia, os leões chegaram ao período de descontos da segunda parte com uma vantagem pela margem mínima no marcador.

Até que, ao minuto 91', a bola chegou, mais ou menos na linha de meio-campo, a Geny Catamo. O campo estava em más condições, havia buracos e lama e irregularidades e escassos metros de relva impoluta, mas para quem se criou a jogar entre o pó dos baldios de Maputo aquele recinto era de um luxo supremo. O moçambicano, leve e audaz, progrediu, simulou, fintou, rematou e festejou, um golo que deu a tranquilidade aos lisboetas e que foi, também, um selo da ginga da mais surpreendente arma do Sporting versão 2023/24.

Agora que Geny se consolidou entre as opções de Amorim, vale a pena lembrar o quão improvável era, até há uns meses, ver o canhoto de 23 anos entre os habituais titulares dos leões. Até esta época, Catamo só realizara quatro partidas a titular na I Liga, uma pelo Vitória SC, a quem esteve cedido na segunda metade de 2021/22 (só somando 10 encontros no total), e quatro pelo Marítimo. Com efeito, na época passada, o amante da finta com face de menino não chegou, sequer, a realizar 500 minutos de competição pelos madeirenses, um conjunto que viria a descer pela primeira vez em 38 anos.

Indiferente a isto, Rúben Amorim olhou para Geny não se fixando no nível recente que este atingira, mas no leque de características que poderia dar ao colectivo. O técnico não ligou tanto ao desempenho, mas mais à forma, ao que aqueles dribles ágeis poderiam oferecer à equipa a partir das alas.

Era evidente que, desde a saída de Pedro Porro, o Sporting carecia de capacidade para fintar nas faixas, de quem tirasse gente do caminho e contribuísse para desmontar defesas. Note-se: segundo dados da Driblab, em 2021/22, na última época completa de Porro em Alvalade, o espanhol fez, em média, 1,68 dribles com êxito por encontro; esta época, Esgaio faz 0,22 fintas com sucesso por desafio, e Matheus Reis e Nuno Santos fazem, ambos, 0,4. Catamo conta com uma média de 1,73 dribles por partida. É o regresso do desequilíbrio individual às extremidades do campo para o Sporting. Entre os laterais/alas da I Liga, só Nathan, do Famalicão (1,92 por compromisso), faz mais em 2023/24.

Esta capacidade de Amorim farejar jogadores que, sem se terem ainda afirmado ao mais alto nível, podem contribuir para o êxito colectivo é, mesmo, uma das melhor marcas dos quatro anos do ex-internacional português em Alvalade. É óbvio que, para os bons resultados, também contribuem os milhões gastos em Gyökeres, Hjulmand, Trincão e companhia, mas é impossível falar das melhores versões deste Sporting sem notar esta arte de maximizar os recursos que há ao dispor.

Eduardo Quaresma, reconvertido em opção mais que válida para a defesa, vinha de só fazer quatro encontros, na época passada, pelo Hoffenheim, e de não ser titular absoluto, na campanha anterior, num Tondela que, tal como o Marítimo de Catamo, desceu de divisão. O central esteve, mesmo, mais de ano e meio — de Maio de 2022 até Janeiro de 2024 — sem realizar um jogo completo. Desde que reapareceu contra o FCPorto, leva já 14 desafios de início.

Indo à época do último título nacional, Daniel Bragança chegou àquela temporada sem qualquer minuto disputado na I Liga, após empréstimos, na II Liga, a Farense e Estoril. Viria a realizar 25 jogos em 2020/21, 36 em 2021/22 e, depois de uma lesão grave, vai em 34 em 2023/24. Já Gonçalo Inácio foi incluído no plantel sem ter, sequer, passado pela equipa B e somando apenas três presenças pelos sub-23. Fez 19 partidas a titular na campanha que devolveu a glória a Alvalade e leva já 158 duelos com os leões.

Rúben Amorim não é Midas e o próprio admitiu que falhou ao não potenciar certos talentos (olá, Fatawu), mas pegar em futebolistas que vinham de empréstimos a clubes que desceram de divisão e torná-los úteis peças de um candidato a campeão é uma arte que merece ser devidamente aplaudida. Mais do que genialidades tácticas ou artes estratégicas, este paradigma Geny Catamo fica como uma das melhores marcas da era Amorim em Alvalade.»

Nem todos serão "escribas a soldo"!...

Leoninamente,
Até à próxima

2 comentários:

  1. Estamos no caminho certo. Jogamos de forma igual e consistente todos os jogos. Desejo do fundo do coração que muitos e grandes meus amigos sportinguistas saibam fazer o luto e apoiem do princípio ao fim a nossa equipa . ,forte abraço a todos os sportinguistas.

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