quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Quem acredita em milagres?!...


Clássico decisivo para o Sporting

«Há algo essencial antes de qualquer embate, sobretudo num clássico. O estado moral das tropas. O Porto lidera a tabela e tem oito pontos de vantagem sobre o adversário. Vem a Alvalade tranquilo pois tem a certeza que, mesmo em caso de derrota, continuará a olhar todos os outros de posição cimeira. Soma-se a este facto, a fase de vitórias sucessivas que é "record" e uma união de aço do grupo de trabalho reforçada com o discurso vibrante e de enorme empatia com os portistas, que confiam plenamente no sangue e alma de campeão de Sérgio Conceição.

O Sporting, depois do excepcional arranque de Marcel Keizer, dos melhores de sempre da história do clube, benzido com muitos golos, futebol atractivo e dominador, ancorado num discurso civilizado, tranquilo, positivo do holandês, sofreu um forte abalo na sua confiança após a derrota de Tondela, onde era obrigatório vencer para não tornar determinante para esta época o confronto com o Porto. Keizer afirmou que em Março ou Abril iria ver onde podia chegar, porém, o jogo de sábado, finalmente a horas decentes, é decisivo para os leões. E não é criar pressão, pois um clube grande como o Sporting Clube de Portugal tem de conviver diariamente com ela. Só os pequenos, os que não estão habituados a andar lá em cima, é que vacilam quando sentem pressão. Os colossos respiram-na, está no seu código genético.

Tenho a mesma visão de Jorge Jesus. O principal candidato é sempre o campeão da época transacta. E o dragão não tem decepcionado os seus adeptos, sente-se a voracidade das aves de rapina por mais um título, foi essencialmente esta vertigem a mentalidade que Sérgio Conceição trouxe de novo, após atravessarem um deserto em que nenhum troféu entrou no museu. Um plantel forte recheado de grandes jogadores, com defesa sólida - excepcionais Eder Militão e Alex Telles – e ainda mais segura com um homem que está aí para as curvas, central de classe mundial que tanto tem dado a Portugal, Pepe. Um 6 mais que fiável, Danilo Pereira, uma casa das máquinas de alta voltagem, um mágico que será uma enorme perda para o futebol português se decidir partir como se adivinha, Brahimi, e dois bichos poderosíssimos no ataque, Marega e Soares. É uma armada temível, não invencível, mas que põe em sentido qualquer um.

Do outro lado, que não se iludam os sportinguistas, a esquadra construída e deixada por Sousa Cintra e José Peseiro não tem a mesma artilharia e consistência. Um plantel desequilibrado, dependente da classe de Bruno Fernandes e do poder de fogo de Bas Dost. O factor surpresa de Marcel Keizer já foi identificado, o jogo interior é facilmente manietado, o processo defensivo é débil e os laterais são uma dor de cabeça. O Sporting, com a excepção do Vorskla Poltava, encaixou sempre golos e enquanto o holandês dizia que preferia ganhar por 3-2 do que por 1-0, ouviu a resposta do treinador português, em subtil "mind game", que não se importava de vencer 1-0, pois «não sofrer golos é a base de uma vitória». A máquina goleadora leonina emperrou, tal como a qualidade de jogo, trazendo um novo cepticismo à maioria dos adeptos. Nos azuis e brancos reina o optimismo. É um choque de titãs em que o Sporting, se não ganhar, pode dizer adeus já em Janeiro ao título que a melhor massa associativa do mundo merece há muito tempo.»
(Rui Calafate, Factor Racional, in Record)

Os dados estarão racionalmente lançados por Rui Calafate que, mesmo naquela hoste dos indefectíveis sportinguistas que há quase duas décadas têm vindo a persistir em cultivar a esperança e onde orgulhosamente me incluo, muito dificilmente encontrará contraditório relevante.

Dois meses volvidos após a sua surpreendente chegada a Alvalade e ultrapassado o "estado de graça" que sucessivas goleadas lhe terão concedido, Marcel Keizer viverá porventura no próximo sábado o dia mais difícil da sua ainda curta carreira de treinador. Nada que se compare com os clássicos que na sua terra terá vivido por fora e por dentro. Longe irão os tempos da "laranja mecânica" que os leões que actualmente lidera terão tentado replicar, mas que, tão rapidamente quanto foram capazes de se galvanizar e aplaudir, teão visto desaparecer, como areia seca, por entre dedos dormentes de "cansaço" e... de alguma falta de classe e temperamento guerreiro!...

Como tão bem referiu Calafate, nas circunstâncias em que em Alvalade serão lançados os dados no próximo sábado, apenas um milagre poderá salvar Marcel Keizer da terceira derrota em Portugal. E esse milagre só poderá acontecer se os seus e nossos leões fizerem o jogo das suas vidas. E, depois de Tondela...

Quem acredita em milagres?!...

Leoninamente,
Até à próxima

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