Vieira, o tugo-esperto... da iluminação
«Rui Vitória deixou o comando técnico do Benfica. A decisão era há muito esperada e pecou por tardia.
Se Rui Vitória já nada tinha para dar ao Benfica, a verdade é que o Benfica já se encontrava em esforço para dar mais alguma coisa a Rui Vitória.
A relação há muito que estava esgotada. Era uma questão de tempo e mesmo a visão da ‘luz’ não passou de um artifício para se ganhar algum tempo na definição e na caracterização do ciclo pós-Rui Vitória. Foi um ‘tiro (mal calculado) de conveniência’, que se revelou absolutamente ineficaz.
Rui Vitória não era um extraordinário treinador quando chegou ao Benfica e não sai da Luz como um extraordinário treinador. Sai da Luz com uma extraordinária experiência, que lhe será útil noutros ciclos profissionais e só eventualmente conseguirá algum reconhecimento e destaque quando deixar de ser o ‘treinador bonzinho’, que todos admiram pela sua educação e carácter.
Aliás, há três anos e meio, o Benfica contratou o ‘treinador bonzinho’, com provas dadas de competência, e não o ‘treinador competente’, com qualidade suficiente para se tornar num extraordinário treinador.
Há três anos e meio, o Benfica precisava de um treinador que fosse a antítese de Jorge Jesus. Na Luz, Jorge Jesus era o treinador que não ouvia a estrutura e nem queria saber se A ou B compunha a estrutura. A estrutura era ele, em estreita relação com Luís Filipe Vieira. Jogava quem o treinador achava que tinha condições para jogar e essa coisa de colocar os jovens da formação do ‘onze’ não poderia ser nem uma obrigação, nem algo forçado ou meramente induzido.
O presidente do Benfica, naquele momento, achou que era tempo de abalizar a estrutura e tentou ejectar Jorge Jesus sem dor e até com algum ‘carinho’. A coisa saiu-lhe mal e Jesus acabou no Sporting. Era preciso arranjar um treinador que ouvisse e respeitasse a estrutura e, mais do que isso, se convertesse rapidamente na extensão dessa mesma estrutura. E um treinador que não fizesse ‘peito’ à estrutura só podia ser um ‘treinador bonzinho’. Logo, Rui Vitória.
Luís Filipe Vieira é um ’self-made man’, com faro para o negócio, mas foi desenvolvendo ao longo dos anos o seu lado político. Todavia, o autoconvencimento de que é capaz de controlar tudo e todos, utilizando um tacticismo — como lhe chamar? — tugo-esperto, tem-lhe trazido alguns dissabores.
Tentou ser tugo-esperto quando queria desembaraçar-se de JJ sem estrondo. Ia para a Ásia e pronto.
Todavia, porque era importante manter a presidência intacta, permitiu que a ‘máquina de comunicação’ do Benfica, na qual se inscrevem um conjunto de ‘utilitários’ que só fazem mal à imagem da grande instituição chamada Sport Lisboa e Benfica, derretesse a imagem de Jorge Jesus.
Tentou ser, de novo, tugo-esperto, na jogada de maquilhada protecção a Rui Vitória para ver se conseguia, de facto, recuperar Jorge Jesus, a sua prioridade, mas a tugo-espertice de há três anos e meio acabou por ter um efeito contraproducente.
Agora, com a estrutura menos forte e mais dividida, quando quis reabilitar Jorge Jesus (de quem nunca perdeu o apreço profissional e até pessoal), o feitiço virou-se contra o feiticeiro: muitos adeptos do Benfica, muito por força dessa campanha que lhe foi movida, não querem ouvir falar em Jorge Jesus. As ‘tugo-espertices’ naturalmente pagam-se caras. Pode levar tempo, mas uma tugo-espertice raramente apaga o efeito de outra tugo-espertice.
Sem Rui Vitória e praticamente ‘sem’ Jorge Jesus, Luís Filipe Vieira precisa de novo de um treinador que o proteja. Quer dizer, o Benfica deixou de precisar de um treinador para proteger (de outro treinador) para necessitar de um treinador que proteja a imagem do presidente. É aqui que se encaixaria José Mourinho, mas é natural que Mourinho tenha outros planos, e antes de segunda-feira, data oficial da ‘caça’ ao novo treinador, já há vários planos perdigueiros a concorrer entre eles… O plano A, B, C, D - e por aí adiante…
O melhor dos planos perdigueiros era recuperar Jorge Jesus no final da época, com Rui Vitória a fazer de treinador-embrulho até Junho, e daí a tentativa de o credibilizar como ‘o treinador do projecto’. Mas, como se viu, o essencial não mudou. Não mudou a qualidade de jogo e, nesse período da ‘iluminação’ (patrocinado pela luz-led de Vieira), a equipa jogou sempre muito menos do que a qualidade do plantel sugere ou projecta.
Quando, no ‘ciclo da iluminação’, isto é, no ‘ciclo-luz-led-de-Vieira, a única coisa que muda é a cor da gravata, deixando de ser às riscas, para ser vermelha lisa, alguma coisa está de facto errada. Ferreyra e Castillo já não faziam parte das opções quando ecoou a promessa de opinião e o o futebol continuou como a primeira gravata: listrada, como um ecrã de televisão (dos antigos) cheio de interferência. Pedimos desculpa por esta interrupção, o futebol do Benfica segue dentro de momentos.
O futebol do Benfica precisa de mudar muito mais, para além da gravata.
O CACTO - A estrutura e a jibóia
… E o FC Porto a 7 pontos, com um Sporting ‘esfarrapado’ no 2.º lugar da Liga e com o SC Braga na 3.ª posição. É neste contexto (com 15 jogos realizados, na Liga) que Rui Vitória deixa o Benfica. Deixa o Benfica sem uma ‘ideia de jogo’ bem definida e deixa o Benfica com a imagem desgastada, muito por força da protecção que a certa altura deixou de lhe ser dada, com abundância de fingimentos. É preciso dizer, no entanto, que o problema do Benfica não se esgota no treinador. O Benfica precisa de um treinador assertivo e convicto nas suas ideias e opções, mas precisa, igualmente, de remodelar a sua estrutura. O falhanço de Rui Vitória é também o falhanço da estrutura. E, sendo o falhanço da estrutura que Vieira criou, é também o falhanço de Vieira. Há papéis que não se entendem, há papéis que se acumulam e chocam, às tantas é o fim da papelada. A estrutura do Benfica, de tanto querer, de tanto querer fazer e comandar, estoirou. Vieira tem uma componente de ‘político’, mas está a faltar-lhe a capacidade de fazer a ‘leitura política’ para onde levou o Benfica ou deixou que levassem o Benfica. Este ‘governo’ já deveria ter sido remodelado. Não o fazê-lo pode ser sinal de que já está demasiado aprisionado à estrutura que criou e que, neste momento, já pode estar a estrangulá-lo, numa espécie de ‘abraço de jibóia’. Nunca se deve confiar totalmente na jibóia.
Não sei se Vieira vai a tempo de desintoxicar o Benfica, isto é, eliminar os produtos tóxicos que, sobretudo a nível da comunicação, estão a dar cabo da imagem da instituição. Não o fazer, contudo, pode levar á consequência de se achar que, afinal, o principal produto tóxico é ele, Vieira. E isso choca com tudo aquilo que de bom conseguiu fazer.»
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record)
Ninguém saberá ao certo quantos e quais os "padrinhos" de todos os múltiplos "cognomes" com que ao longo de todo o seu "longuérrimo" consulado, Luís Filipe Vieira foi sendo presenteado na "pia baptismal da má-língua", tanto por críticos quanto pelos próprios prosélitos! De "rei dos pneus", a "kadafi dos ditos", "ambos os três", "o que passou-se" e, para abreviar a extensa lista, terminando no mui castiço e apropriado "orelhas", tudo terá servido para rotular a inculta, presumida, ridícula, anedótica e o mais que o tempo eventualmente nos possa vir a trazer, figura do presidente do Benfica!...
Hoje Rui Santos acabou por ser o primeiro protagonista a ser conhecido, por lhe despejar a última malga de piedosa água benta por aquela tola grisalha abaixo: "TUGO-ESPERTO"! Para não lhe chamar "chico" e, direi eu, não correr o risco de ser mais um nas dezenas e dezenas de processados a que o presidente dos benfas nos habituou a todos!...
Cá para mim e depois desta sua "mortífera" crónica, poucas dúvidas me restarão de que não demorará muito tempo para que um certo "anão lampião bem conhecido na Jamba", não resista a...
Convidar Rui Santos para jantar!...
Leoninamente,
Até à próxima
Jantar no Museu da Cerveja?...
ResponderEliminarBom dia,
ResponderEliminarEste comentário, apesar de tardio, vem a propósito dos acontecimentos recentes!
Eu estive para comentar na altura que o publicou, mas como a minha opinião sobre este sujeito é demasiado negativa, tentei conter-me.
Mas ontem, este sujeito brindou-nos na SIC Notícias com esta pérola: "Este é o meu benfica!". Depois tentou emendar a mão, mas de pouco lhe valeu. Percebe-se agora a "brandura" que sempre teve com o "seu" presidente e o ódio e agenda que sempre teve contra Bruno de Carvalho - e atenção, este não é um comentário pró-BdC - e, com o devido respeito pelo Álamo, acho que não fica bem a este espaço a partilha das crónicas deste sujeito. É que uma coisa é um benfiquista assumido, outra coisa é um pretenso "independente" que, vemos agora - embora eu já soubesse - que de "independente nada tem.
SL.