«Mostra-se como auxílio sistemático dos outros, porque o orgulho faz dele solidário e ambicioso. É hábil nas associações curtas de envolvimento participado e dotado de argumentos para épicas aventuras individuais quando a solução se proporciona e a coragem o impele a tentá-las. É robusto a segurar a bola de costas para a baliza; com essas acções de contenção permite que a equipa se aproxime mas também pode surpreender inventando espaços em profundidade, com sucessivas diagonais de fora para dentro e vice-versa. Paulinho começou por gerar desconfiança, pelo preconceito de atingir tarde a Liga, sem escola e com uma história construída nos escalões secundários. A partir do momento que chegou ao Sp. Braga tornou-se referência. Impôs-se e já atingiu a Selecção Nacional.
É um avançado com visão, intervenção e técnica de centrocampista; quando recua e participa no bordado da construção não reprime a alma de avançado – todas as bolas que toca adquirem a malícia de um perigo que não tinham antes. Paulinho foge às marcações com inteligência, não porque as tema mas porque a equipa pode tirar benefícios da sua movimentação; atribui limites à paciência (não consegue passar uma noite inteira à espera de um tiro); participa na construção com critério e alimenta a cerimónia na antessala do golo. No fim, sugere-se como sintetizador do bordado, revelando velocidade, contundência e precisão para descarregar o veneno acumulado nesse processo de aproximação à baliza.
Paulinho é um avançado dos tempos modernos, para quem o futebol e a função que desempenha excedem em grande medida a mera glorificação da eficácia. Para ele a questão não se reduz a marcar ou não marcar golos; a ser protagonista de vitórias ou réu de derrotas; a ser herói ou vilão. Para Paulinho o futebol é jogar ou não jogar; é entendê-lo em toda a sua complexidade e apreender as suas chaves colectivas ou ir para o campo e reduzir tudo à assinatura de um momento decisivo; é lutar por uma ideia, um estilo e uma forma de ser ou defender rigorosamente nada. É ter uma estética e uma orientação de compromisso com a equipa e com os adeptos ou apostar tudo no resultado e na sorte.
Assente em números de excelência – 85 golos nas últimas cinco épocas –, Paulinho revela desprendimento com essa contabilidade pessoal. Realiza-se mais pela contribuição táctica, pela defesa do equilíbrio colectivo, pela noção de que muito pode acontecer em hora e meia e que a sua utilidade também pode ser sentida longe do último toque, apesar de saber, ele e todos nós, o valor da assinatura no gesto mais aclamado do futebol. Os especialistas, por serem raros, são muito valiosos. Não se trata de diminuí-los; trata-se de recordar que o golo, sendo importante, pode não ser tudo na apreciação de um avançado.
Rúben Amorim está perfeitamente identificado com o jogador. Ao reencontrar-se com Paulinho cumpre um sonho antigo, do qual nunca desistiu, mesmo colocado perante argumentos difíceis de contrariar, o mais eloquente dos quais o fatal "não há dinheiro". O esforço do Sporting para a aquisição de Paulinho dificilmente terá retorno financeiro – está com 28 anos –, o que torna clara a intenção do treinador: o ex-bracarense deve pagar-se pela via de um superior rendimento futebolístico. Paulinho, sendo um só, sintetiza as principais características de Tiago Tomás, Sporar e Jovane – e ainda acrescenta outras que nenhum deles possui. Com os riscos inerentes de mexer numa estrutura a funcionar perfeitamente, é ele a peça final no xadrez leonino para se consolidar como grande equipa e assumir de uma vez por todas, mesmo que os responsáveis se recusem a reconhecê-lo, como seriíssimo candidato ao título...»
Desfrutemos sem pressas ou sofismas a 'arte' de Rui Dias para que, embalados por esse mesmo jeito, possamos assistir ao definitivo desabrochar do melhor ponta de lança, segundo Rúben Amorim, que tem jogado nestes últimos anos em Portugal!...
O Sporting teve a ousadia, ou o realismo, ou a premonição, ou o que quer que tenha sido, de o trazer para Alvalade. Agora deverá estar-nos vedada, a nós adeptos sportinguistas, a impaciência. Mas...
Será que Amorim o lança já na Madeira?!...
Leoninamente,
Até à próxima
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