quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Há quem diga que esta sorte dá muito trabalho!...


Saiu o jackpot a Varandas

«Conta a lenda que Egas Moniz e a sua família se apresentaram vestidos de condenados ao rei de Castela, apresentando as suas vidas como penhor pela palavra não cumprida por D. Afonso Henriques ao ter invadido a Galiza. Pela humildade e honra demonstrada foram perdoados. É assim que, honradamente, os 99,9 por cento de jornalistas, comentadores (como eu) e adeptos que questionaram na altura, pelos montantes envolvidos, a aquisição de Ruben Amorim, devem reconhecer que esse movimento de "all-in" se tem revelado um óptimo acto de gestão.

A memória é curta e a euforia do momento obnubila factos. Quando Frederico Varandas (com o forte empenho de Hugo Viana) o foi buscar a Braga, em Março de 2020, o Sporting estava em quarto a 20 pontos do primeiro, numa das piores épocas desportivas de sempre. O clube estava em polvorosa e o presidente perdia diariamente base de apoio. O risco desse investimento era sinal de desespero? Inequivocamente, parecia. Era quase insano gastar 10 milhões num treinador? Sim. Já se tinha falhado com Keizer e Silas e apostava-se em quem mostrava muito valor mas ainda gatinhava na sua profissão e se tornava o terceiro técnico mais caro da história do futebol. Era um "hara-kiri" se falhasse? Claro, seria o ocaso do presidente. Se havia dúvidas, portanto, nessa altura, também é justo reconhecer agora o mérito nesse golpe ultra-arriscado. Usando uma passagem de "O som da montanha" do Nobel da literatura, Yasunari Kawabata, foi "uma janela aberta para o exterior de uma casa sombria".

O mar de opróbrio, a inveja, o ódio de grupinhos e criaturas repelentes que se alimentam na nojeira das redes sociais tem de ser esmagado pela decência das pessoas bem formadas que criticam livremente o que está mal no tempo correcto, mas, com a mesma dignidade, não têm pejo em valorizar e elogiar o que corre bem.

Há muito que escrevo e digo que o Sporting só tem dois caminhos para a paz. O rei tem de ser carismático ou ganhar. No primeiro caso, será o próprio presidente a reconhecer que não tem características pessoais e empáticas para isso, logo, resta-lhe ganhar. Ao ganhar, os senhores feudais que há muito tentam pôr e dispor nos destinos do clube voltam para os seus castelos em silêncio. E, se conquistar o campeonato como todos os leões desejam, tem todas as condições para sarar feridas, ser magnânimo e congregar apoios até ao fim do mandato.

Não é tempo para fogosas contendas, irmãos desavindos ou começar a discutir com o Céu, como o Rust de "True Detective", por não se gostar do tom de azul, pecados que fazem os sportinguistas perder energias há décadas. É tempo de escutar a flauta mágica de Ruben Amorim que, como escrevi há três semanas, trará múltiplos retornos e, se possível, renovar e aumentar a sua cláusula de rescisão para precaver desvarios de quem está entre a espada e a parede como acontece com Luís Filipe Vieira. Porém, não embarco em crónicas de mortes anunciadas e é cedo para ditar a extrema-unção dos rivais. O Sporting tem de continuar sólido e de pés assentes na terra. Se a calma e a razão imperarem, é cristalino que saiu o jackpot a Varandas.»

Sim, "é cristalino que saiu o jackpot a Varandas"! Mas teremos de separar as águas. Há sorte e sorte! Será bem diferente a sorte de um apostador no euromilhões que passa anos a jogar com a mesma chave sem qualquer sucesso; ou a de um outro que constrói as suas chaves lançado os dados; mas será necessariamente diferente a sorte de um terceiro apostador que antes de cada sorteio estuda em profundidade todas as estatísticas sobre os números saídos anteriormente e constrói duas vezes por semana uma chave matematicamente diferente. O primeiro, espera que a sorte lhe caia no regaço. O segundo, mais elaborado, acredita na sorte a dobrar. Já o terceiro trabalha árdua e incansavelmente, busca incessantemente de todas as formas, ser merecedor que um dia a sorte lhe sorria... 

Varandas recusou-se liminarmente a seguir os processos do primeiro e segundo apostadores. E preferiu um caminho com bastantes semelhanças com o terceiro. Teve em conta o que acontecia à sua volta e foi capaz de ouvir quem escolheu para estar próximo de si na arquitectura de cada uma das chaves. E foi capaz de as alterar em função de inúmeros e importantes parâmetros. Trabalhou para ter a sorte que acabou por lhe bater à porta! E persiste, corajosamente, em melhorar em cada dia e semana as chaves com que voltará a apostar no futuro. Isto chama-se trabalho!...

Há quem diga que esta sorte dá muito trabalho!...

Leoninamente,
Até à próxima

5 comentários:

  1. Concordo muito consigo. Também me parece que Varandas finalmente encontrou a sorte que tanto procurou.

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    1. Sempre me pareceu um homem bem intencionado. E nunca mereceu a forma como alguns sectores o trataram. Com os defeitos inerentes a qualquer ser humano, mas sempre fez por honrar e dignificar o Sporting!...

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  2. Caro Álamo:

    Como sabe, leio Rui Calafate desde o tempo em que ainda não era uma figura muito conhecida, e tinha só um blogue, bem interessante, por sinal, onde se falava de futebol mas também de política e não só.
    Como o Álamo também sabe, fiquei muito desapontado quando o vi alinhar numa campanha acirrada contra os Orgãos Socias e a estrutura do Clube, ainda mal acabados de ser eleitos. Não porque não se tenha direito à crítica (eu também, como sabe, não votei nos actuais Corpos Sociais), mas porque acho que nem lhes deu tempo de apresentar trabalho.
    Como tal, creio que só lhe fica bem este "mea culpa". Creio que o Sporting, se a sorte ajudar, está no bom caminho, para temmpos de glória que se poderão avizinhar mais rápido do que imaginaríamos.

    Um grande Abraço,

    José Lopes

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    1. Completamente de acordo com o meu Amigo. Sem até hoje eu compreender porquê, Rui Calafate entrou de espada em riste nessa "triste campanha acirrada"! Como se poderá ver hoje, estava profundamente errado. Ninguém é infalível, meu Amigo! E fica-lhe realmente bem, embora tardio, este "mea culpa"...
      Também acredito que estaremos no bom caminho. Mas sem euforias e continuando o esplêndido trabalho que tem vindo a ser feito, especialmente por Rúben Amorim. Mas haverá que reconhecer, que todos, mas mesmo todos, têm corrigido alguns dos erros que de início cometeram e as coisas hoje serão bem diferentes, óbvia e substancialmente melhores. Também confesso que tudo tem sido para mim uma agradabilíssima surpresa. Que bem mereceremos!...
      Abraço grande e que tudo possa estar bem consigo, meu Amigo.

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  3. Não podia estar mais de acordo e em sintonia.
    A sorte dá muito trabalho e pessoalmente sempre valorizei mais a estratégia, a honorabilidade, a competência e a coragem, para seguir um rumo e alcançar objectivos de sucesso.
    O Dr. Varandas e todos os O.S., merecem o n/ reconhecimento, orgulho e gratidão.
    Tudo o que têm feito, é em prol da grandeza e prestígio do Sporting CP, com alguns inevitáveis acidentes de percurso e eventuais decisões que não resultaram em pleno.
    Mas de forma abnegada, com alma e raça leonina, coragem e resiliência e lutando contra energúmenos e desordeiros, souberam recolocar o clube na senda e no caminho do qual nunca deveria ter saído.
    Bem Hajam.
    Força Sporting.

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