quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Nada fica por dizer!...


Um adulto na baliza do Sporting

«Jorge Valdano diria que agiu como um mau burguês, ao trocar o conforto de um banco milionário no Atlético Madrid, que lhe dava fortuna e sossego, pela aventura de sucesso problemático no Sporting. A decisão, tomada nos alvores da veterania, constitui sinal animador de inconformismo de um homem que mantém acesa a paixão pelo futebol, o orgulho de ser profissional e o respeito por um passado que o levou de internacional por Espanha nas camadas jovens a cinco épocas brilhantes ao serviço do Betis – com o Real Madrid sempre presente até aos 25 anos e uma passagem fugaz pelos italianos do Cagliari.

Rúben Amorim escolheu um guarda-redes que, ao contrário de Luís Maximiano, por exemplo, já não precisa de tempo para se impor. Trazia na bagagem cerca de 200 jogos ao mais alto nível, com tudo quanto isso implica na sua formação desportiva, mas veio com o espírito juvenil de quem se predispõe a testar agilidade, reflexos e coragem. Não é uma aposta para o futuro nem enquadra o passado como sendo um leão de toda a vida. Aos 33 anos, Adán é o presente numa função tendencialmente interdita a menores e cuja longevidade ainda lhe pode proporcionar uma história de sucesso em tons verdes e brancos – para situar, recordemos que Preud’homme veio para o Benfica aos 35 anos e Peter Schmeichel fez a viagem até Alvalade, como campeão europeu, no ano em que completava as 36 primaveras.

Os 30 anos não constituem um ponto de chegada para os guarda-redes, nem são a fronteira para coisa alguma. São apenas a portagem imaginária que conduz à maturidade plena, estimula o sentido de responsabilidade e cria os alicerces da sempre relevante autoridade. Só depois de atingir esse patamar da carreira, o guardião do cofre de redes brancas que é a baliza consegue conjugar os valores adultos de simplicidade de processos; total valorização de eficácia e estímulo à frieza. Só quando gela o sangue quente de outrora é possível digerir o veneno criado e alimentado na juventude.

Adán corresponde ao resultado de uma feliz mescla de características. Impôs prudência, calculismo e sobriedade a espetacularidade, extravagância e atitude kamikaze, razão pela qual potenciou a qualidade global. Recusa reduzir-se a uma estátua debaixo dos postes ou a um viajante inconsciente pela grande área; não corresponde à esquizofrenia de quem cria o caos por nervosismo, nem aos fantasmas que contagiam por inércia e provocam o sono. Sabe quase tudo o que precisa para se impor e corresponde ao perfil de quem não utiliza apenas o corpo como obstáculo às intenções dos avançados. Não é um portento a jogar com os pés (melhor o esquerdo), mas revela a inteligência suprema de reconhecer limitações, demonstrando sentido táctico e acerto constante nas tomadas de decisão. Por ter escola e ser veterano de muitas batalhas, não lhe é difícil comandar, coordenar e orientar toda a acção defensiva da equipa.

Na etapa sportinguista tem confirmado tudo quanto dele se esperava. O guarda-redes dos campeões tem de ser tranquilo e esperar; contempla mas não pode distrair-se; é um espectador com olhos de protagonista; um felino condenado a ser paciente, que entra poucas vezes em cena e, por isso, torna mais visíveis os erros comprometedores. Um jogador com a fiabilidade de Adán, que sabe tudo sobre futebol, se conhece como ninguém e domina cada vez melhor os princípios que orientam a equipa, comete lapsos que valem golos de seis em seis meses. Nesse sentido, os adeptos do Sporting podem estar tranquilos. Na primeira metade da época teve erro clamoroso em Famalicão, mas, se tudo correr normalmente, não voltará a cometer outro até final da temporada.»


Quando Mourinho lhe deu a baliza do Real Madrid fez penálti e foi expulso aos 10 minutos. Saiu-lhe tudo ao contrário

No Betis tornou-se um dos capitães e uma estrela maior da equipa andaluza e da liga espanhola. Cinco anos de ouro

Em Agosto do ano passado pisou o relvado de Alvalade como jogador do Atlético. Pouco depois assinou pelos leões

Estava escrito nos astros que António Adán haveria de fazer de Alvalade a sua casa! No mercado de Verão de 2018 tudo chegou a encaminhar-se para isso. Mas as convulsões por que então passava o Sporting não o terão permitido. Acabou por acontecer no arranque da presente temporada e, importantíssmo, com o pleno aval de Rúben Amorim.

Daí o destaque que entendei dar a mais uma excelente crónica de Rui Dias na qual, como sempre...

Nada fica por dizer!...

Leoninamente,
Até à próxima

Sem comentários:

Enviar um comentário