Jardim perde, mas ensina a ganhar !...

Jardim perde, mas ensina a ganhar

Muito foguetório iluminou, entretanto, os céus de Alvalade e o foguetório encandeia, mas é boa altura para lembrar o que se dizia - correctamente - em Agosto: o Sporting está muito longe de ter os meios do Benfica e do FC Porto. Se já a existência, ou criação, de um William Carvalho é uma espécie de fenómeno do Entroncamento, ter ao lado um jogador capaz de o substituir sem afectar a equipa roçaria os domínios do bruxedo.

Para azar de Jardim, na Luz viu-se a aplicação prática das distâncias entre o melhor Benfica da época - bem acima do que jogou com o FC Porto - e um Sporting mutilado de dois dos três jogadores mais difíceis de substituir (o outro é Adrien). Ou seja, coincidiram um Benfica no top e um Sporting diminuído nos pontos fortes, sobretudo o meio-campo, que é o grande sucesso da época e o coração da equipa. "Hoje perdíamos sempre", disse Jardim no final, mas, se calhar, sem acreditar nisso.

Tal como o Braga dele deixou de ser, como era com Domingos, a equipa manhosa que armadilhava os grandes (e passou a não lhes ganhar pontos), também o Sporting podia ter abordado os cincos jogos que fez com Benfica e FC Porto de outra maneira. Seria sempre mais fácil baixar no campo, apertar as marcações e esquecer o ataque. Talvez até a crítica e os adeptos lhe perdoassem o ferrolho; talvez tivesse agora mais pontos e vivesse ainda nas Taças. Mas o que teria aprendido uma equipa que se quer ensinar a discutir títulos a médio prazo? Que não pode olhar todos os adversários nos olhos? Que não faz mal ter medo de vez em quando?

(José Manuel Ribeiro, in O Jogo)

Em todo o extenso rol de textos e vozes de analistas, cronistas e "paineleiros" que alinhavaram discursos depois do derby, José Manuel Ribeiro, terá sido dos poucos, senão mesmo o único, que abordou o seu desfecho segundo o prisma exacto, correcto e de relevante interesse que, a meu ver, importará ser avaliado e discutido por todo o universo sportinguista.

Inquestionavelmente, todos sabemos coexistirem na imensa família leonina, os "resultadistas" e aqueles que sempre hão-de subordinar os fugazes e ilusórios resultados circunstanciais, aos caminhos seguros do planeamento do futuro e da sustentabilidade. E se dos primeiros choveram de imediato as críticas severas da decepção e do desencantamento, penso que a grande maioria dos adeptos sportinguistas, mesmo que secando lágrimas e sacudindo a tristeza, terão levantado os olhos para o horizonte e, na hora, terão decidido continuar com firmeza e determinação o caminho dos sonhos.

A Bruno de Carvalho, Augusto Inácio, Virgílio Lopes, Leonardo Jardim e tantos outros que os acompanham nesta caminhada, jamais lhes passará pela cabeça construir um projecto cuja dimensão não seja compatível com a grandeza do Sporting Clube de Portugal.  E desse projecto nunca poderá ser alienado o propósito de transmitir à equipa os ensinamentos que, cedo o tarde, acabarão por conduzi-la à discussão de títulos e à glória que a nossa História impõe.

O Sporting Clube de Portugal, nunca por nunca poderá embarcar nos resultados circunstanciais, na conquista do mísero pontinho, na estratégia de perder por poucos. O Sporting terá de olhar todos os adversários nos olhos e expulsar para bem longe de si todos os receios e medos que deixou que se instalassem durante demasiado tempo. Essa nova forma de estar e de pensar, pode muito bem, aqui e além, trazer-nos o reverso da medalha, o veneno que tivemos de engolir na 3ª feira à noite. Mas é por essa via que nos hão-de chegar muito mais vezes, as alegrias das grandes e sucessivas vitórias, do ganhar sempre ou quase sempre!...

Ainda no "velhinho" Alvalade, um dia ganhámos ao Manchester United, por concludentes e determinantes 5-0! E outro dia, ainda no mesmo palco, cilindrámos o Benfica por, humilhantes 7-1! E não foi por isso que Manchester e Benfica deixaram de ser grandes! Quem terá metido na cabeça, que os 2-0 de há dois dias, de algum modo beliscaram a grandeza do Sporting?!...

Leoninamente,
Até á próxima