terça-feira, 24 de outubro de 2023

Nem de porrada são fartos!!!...


Ter orgulho no meu clube

«Há várias maneiras de um adepto se relacionar com o seu clube do coração, independentemente de ser sócio, accionista, dirigente ou simplesmente simpatizante. Pode ser-se um adepto distante, que segue pouco o clube, fica feliz com as vitórias mas não sofre demasiado com as derrotas. Pode ser-se um adepto atento, empenhado na vida do clube, que sofre e vibra com tudo e que é também, por natureza, concordante e acrítico com quem o dirige. E pode ser-se tudo o anterior mas não prescindir de um espirito igualmente atento, mas critico. Eu pertenço a esta terceira categoria: sou portista desde que me conheço, por berço e por paixão instintiva, por devoção e por gratidão – a devoção muito antes de ter motivos de gratidão, as dores das derrotas muito antes das alegrias das vitórias.

Por isso, e como já muitas vezes o disse, eu não esqueço a gratidão que qualquer portista deve a Jorge Nuno Pinto da Costa, que transformou um clube de província, submisso e com o culto da derrota, num clube do mundo, orgulho de Portugal e terror dos invejosos. E também, como todos os portistas, sobretudo os que cresceram em Lisboa e conhecem por dentro o jornalismo português, não ignoro nunca a permanente desinformação e manipulação mediática que o FC Porto tem de enfrentar e que é sempre o primeiro dos adversários que o meu clube tem de vencer no caminho de qualquer êxito. Este é, para mim, um dado de facto essencial em qualquer análise que faça: o jogo que disputamos nunca é com armas iguais.

Isto dito, eu espero e exijo que o meu clube seja para mim um motivo de orgulho ou que, pelo menos, não seja um motivo de vergonha. Pelo FC Porto eu gastei tempo, dinheiro, energias, quilómetros sem fim. Do FC Porto nunca quis, nunca esperei e nunca recebi nada, absolutamente nada, e assim ficarei para sempre. Mas, em troca, há uma coisa, apenas uma coisa, que tenho o direito de esperar: não ter de andar na rua, como esta semana que passou, e ouvir bocas sobre o meu clube para as quais eu não tinha resposta, porque, de facto, não há resposta para a vergonha exposta pelas contas do clube.

Eu não aceito que gente que entrou para o clube com uma mão à frente e outra atrás, hoje esteja milionária enquanto o clube está falido depois de anos sob a gestão deles. Eu não aceito que uma sociedade anónima (para a qual contribuí) que nunca distribuíu um euro de dividendos pelos seus accionistas, tenha já distribuído dezenas de milhões, a título de prémios de gestão, entre os seus administradores. Eu não aceito que uma sociedade que está endividada em mais de 500 milhões e em falência técnica continue a pagar prémios de gestão. Eu não aceito que administradores de uma SAD recebam prémios porque o Taremi marcou um golo ou o Diogo Costa evitou outro. Eu não aceito que, entre prémios e salários, os administradores da SAD do FC Porto recebam três ou cinco vezes mais do que os seus homólogos do Sporting ou do Benfica. E eu não aceito, obviamente, a justificação de que, ao fim de mais de 40 anos, estão ali, não agarrados ao poder, mas porque os sócios o querem e o reafirmam repetidamente em ‘eleições livres’. Somos um grande clube e um grande clube não é feito de idiotas.

2- Quando apareceu na equipa olímpica do Brasil, que se sagraria campeã, e mais tarde na equipa de luxo do Barcelona, Neymar Jr parecia destinado ao olimpo dos deuses do futebol. Mas, a par de recorrentes lesões de que era vítima regularmente, o seu precoce deslumbramento e excesso de vedetismo foram aos poucos corroendo, não apenas o seu futebol, mas também a sua imagem de profissional. Todavia, porque o génio não se apaga sem razão maior e a memória também não, Neymar conseguiu saltar do Barcelona para o PSG com um contrato multimilionário e, ao lado de Messi e Mbappé, formar um trio de ataque para quem o céu era o limite. Porém, tudo ele derreteu, ofuscado pelo brilho da ‘cidade das luzes’: perdido em festas, em indisciplina, em tiques de vedetismo, não retribuiu a Paris nada do que Paris lhe tinha dado. E surgiu, ao fim de três anos de frustração e já aos 31 de idade, a oportunidade das Arábias, a mesma que Messi recusou. Por 120 milhões e seguramente com grande alívio, o PSG despachou-o para o Al Hilal, de Jorge Jesus – o qual o deve ter visto chegar com grande apreensão. Por um contrato de dois anos e duzentos milhões ‘limpos’ por ano – mais a piscina de 400 m2, as massagistas e cozinheiros 24 por dia, o jacto e o iate privados, o Lamborghini, o Ferrari, o Rolls e os Mercedes – o Al Hilal esperava, talvez, ver refulgir algum do anterior génio do brasileiro. Chegou em Julho, ‘machucado’ (da má vida, certamente), e desde então alinhou em 4 jogos, marcou um golo e passou, como habitualmente, quase todo o tempo no chão ou a reclamar. Agora, com rotura de ligamentos cruzados do joelho, ao serviço da selecção brasileira, vai parar seis meses e desfrutar apenas das suas mordomias arábicas, pagas à razão de 547.000 euros por cada dia que passa. Nunca um jogador saíu tão caro a um clube!

Sindicato dos privilegiados

Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, escreveu aqui, no domingo passado, um violento texto contra a decisão do governo de pôr fim ao Programa ‘Regressar’, no que isso afecta os profissionais de futebol envolvidos. O programa ‘Regressar’, recorde-se, visava impulsionar o regresso a Portugal da multidão de jovens que daqui partiu, desempregada, depois da crise iniciada em 2008, facultando a quem antes tinha trabalhado em Portugal um desconto de 50% no IRS durante cinco anos, ao retomarem aqui um trabalho. Aproveitando a deixa, os clubes – os grandes, essencialmente – viram aí uma oportunidade para, como diz Joaquim Evangelista, "promover o retorno de jogadores internacionais de inegável talento", podendo pagar-lhes 2, 3 ou 4 milhões ‘limpos’ por ano – porque eles só recebem ‘limpos’ de impostos e Segurança Social – e ficando os clubes, invocando o ‘Regressar’, aliviados de metade da carga fiscal que caberia aos jogadores, mas que é paga pelos clubes. Ora, a minha primeira surpresa é que o presidente do Sindicato dos Jogadores se indigne contra o fim de um regime fiscal de previlégio que essencialmente se aplicava, no futebol, a estrangeiros e a jogadores com ordenados milionários, distorcendo o mercado competitivo a favor dos grandes clubes e distorcendo o mercado salarial a favor dos ‘regressados’. Mas a maior surpresa é que ele não entenda que esta despesa fiscal que o Estado suportava (e toda a despesa fiscal suportada pelo Estado é à custa do esforço fiscal de outrém), visava, não ajudar ao regresso de milionários ou de quem não tinha tido de emigrar porque havia perdido o emprego, mas porque havia ido para melhor, e sim de jovens qualificados, como investigadores, engenheiros, médicos ou enfermeiros, em cuja formação o país tanto investira e cuja falta tanto nos faz. Por muito que a gente goste de ver jogar Pepe, Di Maria ou João Moutinho, não foi para eles que se fez o ‘Regressar’.

De Taremi a Benzema: a diferença

Todos aplaudiram, e bem, Mehdi Taremi quando ele teve a coragem de juntar a sua voz a favor das vítimas da repressão dos fanáticos xiitas do Irão contra as mulheres do seu país. Mas quando o franco-argelino Karim Benzema, internacional francês, veio em apoio dos palestinianos massacrados pelas bombas israelitas, o Ministro do Interior francês acusou-o de pertencer ao movimento terrorista Jihad Islâmica e uma deputada pediu que lhe fosse retirada a nacionalidade francesa. E, que eu tivesse reparado, nenhuma voz no mundo do futebol ousou solidariezar-se com ele. Também no futebol a liberdade de expressão depende do lado que a exprime e contra quem a exprime.»

Dá-lhes Miguel, porque todos, sem excepção...

Nem de porrada são fartos!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

1 comentário:

  1. "o jogo que disputamos nunca é com armas iguais."
    Desonestidade no seu melhor, são 40 anos disto

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