Jorge Jesus não é o vento
«Jorge Jesus julgava que bastava regressar coberto de títulos no Flamengo para que a nação benfiquista o recebesse como herói. Se assim pensava, errou. Se alguém lhe disse isso, mentiu-lhe. Ao contrário, é um fantástico treinador mas não reúne a consensualidade e a catástrofe grega não o solidificou no pedestal onde julgava estar.
Isabel Allende refere que "escrever é como fazer amor. Não te preocupes com o orgasmo, preocupa-te com o processo". Ora, Jesus já estava deslumbrado com o dado adquirido do orgasmo da Champions mas no processo de lá chegar falhou. Foi incompetente, que se diga sem hesitações.
O seu fracasso tem inúmeros custos de prestígio, desportivos, financeiros e com ele municiou de argumentos os adversários de Vieira nas próximas eleições. E depois de perder o mapa da mina dos milhões ainda reiterar que falta um avançado revela pouca sensatez, pois o Benfica não está em condições de uma luxúria continua de aquisições como se houvesse um poço de petróleo sem fundo.
E a realidade é que não é só o avançado. Falta uma alternativa a Grimaldo, outro central, um 8 de excelência e, se calhar, um 6 porque Weigl continua sem convencer. E assim a prometida máquina de ‘arrasar’ constipa-se facilmente.
Anunciaram-se craques de topo, voaram 80 milhões em contra-ciclo com o mercado, mas esqueceram-se de declarar o óbito do projecto Seixal. Para quem não percebeu ele jaz em Salónica. Onde, para lá de Ruben Dias, nenhuma das aclamadas jovens pérolas se sentou sequer no banco.
Jesus veio para ganhar. Ponto. Ganhar tudo e brilhar na Europa e no primeiro confronto voltou a ficar de joelhos (imaginem se algo corre mal também em Famalicão). Abel Ferreira, com humildade, depois do triunfo disse: "Temos de ajustar as velas consoante o vento". O problema é que, na Luz, Jorge Jesus continua a pensar que é o vento. Sugiro, com respeito, que se abrigue contra possíveis intempéries e que algum amigo tenha a coragem de lhe dizer na cara que ele não é o vento. Sei que é difícil.
PS: Começa hoje a nossa Liga. Sem alma, sem alegria, sob o primado da incerteza. Não se contam golos nem estrelas, mas jogadores e staffs infectados. Quando é que um pai e um avô vão voltar a levar os seus filhos e netos pela mão ao estádio do seu clube do coração? Que saudades tenho desses dias.
(Rui Calafate, Factor Racional, in Record, hoje às 17:15)
Pior do que julgar ser o vento, será...
Se levar o "guarda-chuva" a quem mandou vir o vento!...
Leoninamente,
Até à próxima
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