sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Há tantas asneiras que vemos a voar por aí!...


Surtos de Covid darão vantagem a Sporting e Gil Vicente no futuro? Especialista explica tudo

Gustavo Tato Borges, vice-presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, detalhou ao jornal Record o que está em causa no contágio:

«Ninguém pode afirmar de forma peremptória que, caso se realizasse este sábado o Sporting-Gil Vicente com os jogadores que não estão, à partida, doentes, o jogo se disputasse nas melhores condições de segurança. O caso do João Palhinha, que apenas se soube que está positivo hoje, torna as coisas ainda piores, porque é um jogador que pode ter infectado outros. Ou seja, não há garantia, no caso do Sporting em específico, que o resto do plantel esteja todo a salvo do vírus. Se o jogo fosse realizado amanhã, nunca seria respeitando os melhores critérios de prevenção e segurança. Um jogo a realizar-se amanhã, com dois grupos com transmissão activa do vírus, colocaria em risco os elementos não infectados. Seria um risco acrescido e por isso é que a recomendação das autoridades de saúde é que não haja jogo.

Os surtos acontecem todos pela mesma regra básica, que é as pessoas relaxarem os seus mecanismos de prevenção. Neste caso, houve contactos de risco que não foram acautelados. No caso do Sporting, segundo se sabe, está também associado aos filhos dos jogadores, que regressaram à escola. As pessoas são infectadas por momentos de maior relaxe e descanso. Poderá não ter sido especificamente os jogadores, mas alguém dentro dos seus agregados familiares, onde há menos controlo. Depois, os jogadores treinam todos em conjunto, o futebol exige contacto e proximidade e essa realidade potencia a transmissão da infecção. O facto de se fazerem testes não traz nenhum efeito protector. O que traz é uma detecção mais rápida dos casos e portanto maior facilidade em rapidamente identificar quem está positivo e colocá-lo em isolamento. Mas não tem efeitos protectores. Sou jogador de futebol, só fui positivo hoje, mas estive a semana toda a treinar com os meus colegas, eles estão em risco.

Os elementos do Sporting que ficaram cá, que estão infectados, se entretanto forem novamente testados e derem negativo, poderá haver alguns que recuperem e, estando curados, possam estar aptos para jogar o encontro da Liga Europa. Já os elementos que foram ao Algarve terão de ser fortemente vigiados, mas a possibilidade de poder realizar-se o jogo com o máximo de segurança e proteção também vai estar em causa. Para termos a certeza de que a situação está terminada, teríamos de esperar no mínimo 14 dias desde a última infecção conhecida.» 

Por fim, Gustavo Tato Borges abordou a questão de muitos infectados no arranque da Liga NOS poder vir a trazer vantagem a uma equipa no futuro:

«O que sabemos é que uma pessoa que foi infectada, quando curada, não precisa sequer de realizar nenhum teste se não tiver sintomas. Só se tiver sintomas é que terá de ser testada. Em contexto de novo surto dentro do seu local de trabalho, um indivíduo que tenha ficado curado, não precisa de voltar a ser testado, a não ser que tenha sintomas outra vez. É muito residual que pessoas que tenham sido infectadas e curadas, que voltem a testar positivo apresentando sintomas. Poderíamos dizer, em termos de imunidade de grupo, que quem tiver mais casos agora, no início da época, se tiver alguma complicação a meio da época, poderá ter menos novos casos porque terá já muitos jogadores curados e, possivelmente, já com imunidade. Estes jogadores do Gil Vicente e do Sporting, não desenvolvendo sintomas, nem precisariam de ser novamente testados até ao final do campeonato porque estão curados. Mas essa dedução de que, quem tem muitos infectados agora, depois pode ter esses jogadores disponíveis para o futuro, para jogos mais importantes, é uma ideia que ainda não tem sustentação científica para dizer-se que será uma realidade efectiva. Não temos a certeza que a imunidade que as pessoas adquirem lhes dê total defesa para as próximas infecções. Agora, aquilo que se perspectiva é que sim, que há essa imunidade e que é possível tê-la. Não sabemos é quanto tempo dura. Mas poderá ser uma vantagem em situações como as dos clubes de futebol.»

Importante, muito importante esta exposição lúcida e pormenorizada de um especialista em saúde pública...

Há tantas asneiras que vemos a voar por aí!...

Leoninamente,
Até à próxima

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