quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Cheira mal aqui. Muito mal!!!...


Populistas e oportunistas 

«Por estes dias tornou-se moda viver com o populismo na boca. Por dá-cá-aquela-palha chama-se populista a meio mundo. Quando se quer acabar com uma conversa aborrecida, diz-se que o interlocutor é populista. Quando queremos distanciar-nos de um adversário, colamos-lhe o rótulo populista. Ser populista é o insulto moderno, quase rivalizando com aquelas velhas ofensas típicas do vernáculo bem português. Afinal, ser populista é uma coisa rasca e perigosa. É ser grosseiro, rude, mal-intencionado, mentiroso e malabarista. É querer empurrar a democracia para os braços do autoritarismo.

Para pessoas tão diferentes como Luís Filipe Vieira ou Ana Catarina Mendes, a socialista que António Costa lançou há umas semanas na corrida à sua própria sucessão, criticar o primeiro-ministro por entrar na comissão de honra da recandidatura do presidente do Benfica, é uma coisa reles e populista. Vieira queixa-se mesmo de uma campanha, uma espécie de cabala populista contra si e os seus amigos titulares de cargos políticos que se viu obrigado a retirar da sua comissão de honra.

Na verdade, o rótulo populista transformou-se numa arma de arremesso contra quem exerça a liberdade primordial de intervir no espaço público a discutir a promiscuidade entre política e futebol, o combate à corrupção e ao crime económico em geral, a necessidade de um financiamento mais transparente dos partidos ou, tão só, a vantagem de todos percebermos de que forma, onde e como é aplicado o dinheiro público. Por esta lógica que desafia uma inteligência mediana, André Ventura terá hoje a companhia não só de Ana Gomes mas de todo e qualquer português que não pense pelo cânone da patrulha anti-populista.

Mas tanto Vieira como a sua companheira de caminhada contra o tal populismo, Ana Catarina Mendes, estão enganados. Populismo é precisamente o que Costa e Medina fizeram no Benfica. Ou Rui Moreira e outros políticos no FCPorto. Populismo é misturar a condição de decisor político com algum tipo de protagonismo no grande rio popular do futebol. É isso que minimiza responsabilidades, procura protecções eleitorais perversas, estabelece cumplicidades espúrias, semeia ecologias de oportunismo. Como bem notou, de resto, esse populista de truz chamado Pinto da Costa que agora chama oportunistas (com toda a razão) aos seus velhos aliados e companheiros de celebrações.
(Eduardo Dâmaso, Futebol de Rua, in Record, hoje às 20:12)

Cheira mal aqui. Muito mal!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

Sem comentários:

Enviar um comentário