A constância é mais importante que o fulgor do arranque!...

Sucesso do campo mata oposição

«Quem lê esta coluna sabe que não é nenhuma surpresa para mim a qualidade de João Mário, que rendeu 40 milhões ao Sporting e alguns rapidamente se esqueceram disso, e o pegar de estaca que iria acontecer no Benfica. Jornalistas que o conhecem pessoalmente, falam da sua inteligência acima da média acompanhada de uma sobriedade rara entre futebolistas. É fácil de compreender que esta era a peça essencial que faltou a Jorge Jesus no ano transacto, quando se desbarataram 100 milhões para uma mão cheia de nada.

Não sei se é verdade, como li ontem, que Frederico Varandas está incomodado com o arranque maravilha na Luz, mas todos sabemos - pelo menos quem não é cartilheiro nem invertebrado seguidista - que João Mário esperou por uma proposta efectiva e apaixonada do Sporting antes de rumar para o rival. Se para ali foi, é porque os leões não se chegaram à frente e a contenda contratual com o Inter (a rescisão é uma aldrabice jurídica) só pode ser dirimida em tribunal. Em Alvalade, contudo, moram Matheus Nunes, Daniel Bragança e Ugarte, magníficas opções para suprir a lacuna do antigo 8. Grave e um perigoso drama para Varandas, só a saída de Ruben Amorim e não a perda de um jogador. A continuidade do treinador é a garantia que o Sporting vai andar lá em cima.

Há um ano, a propaganda encarnada, para justificar um investimento milionário com laivos de suspeição num jovem uruguaio adquirido na segunda divisão espanhola, tentou mostrar que Darwin Nuñez era um galáctico. Agora, parece que o Benfica se quer ver livre dele mas só o modesto Brighton mostrou interesse. E ainda veio mais Yaremchuk para somar a Carlos Vinícius, Seferovic, Gonçalo Ramos, Waldschmidt e Rodrigo Pinho. Assim fica provada a diferença entre um valor seguro e um embuste. João Mário sabe tudo sobre o jogo, marca o ritmo, como um maestro ergue a batuta e comanda a dinâmica, não engana, a classe não tem preço, é um valor seguro. A espalhafatosa compra de Darwin era, afinal, pechisbeque, um embuste.

João Mário (com Jorge Jesus) será a peça-chave para as eleições de Outubro. Voltemos outra vez ao ano passado. Início de temporada, expectativas baixas, Varandas no Sporting a ser contestado pela oposição. Depois, cada conferência de imprensa de Ruben Amorim, cada golo de Pote e cada vitória sobre vitória de um grupo de trabalho unido e com muita alma, ia silenciando os contestatários que hoje praticamente não existem. Nesta temporada, o Benfica decapitado do seu presidente eleito, obrigado a lavar a cara de uma crise moral de danos reputacionais elevadissimos, vivia um clima de faca na liga, com movimentações próprias de abutres aquando de actos eleitorais, com possíveis candidatos a virem à tona e a pôr-se em causa o "herdeiro" Rui Costa que é no seu benfiquismo inquestionável. Até virem os resultados, com o promissor esmagamento do Spartak de Moscovo e exibição segura em Moreira de Cónegos nunca mais vi nem ouvi Noronha Lopes. Nos dois casos, a evidência clara que a vertente desportiva é que conta, as vitórias unem e solidificam lideranças porque os adeptos só querem ganhar. O sucesso no campo mata qualquer oposição. Varandas e Rui Costa por estes dias dormem tranquilos.»

(Rui Calafate, Factor Racional, in Record, hoje às 16:21)

Guardo para mim a explicação do facto de Rui Calafate se ter esquivado, elegante e racionalmente deverei acrescentar, a desenvolver o tema de "os leões não se terem chegado à frente no caso João Mário", embora julgue que, subrepticiamente, o terá explicado logo a seguir e ainda dentro do mesmo parágrafo. Serão formas que cada um, legitimamente, poderá usar sempre que lhe aprouver. Mas, mesmo racionalmente, não serei capaz de entender o recurso ao "incómodo de Varandas com o arranque maravilha na Luz" lido por aí algures, sendo para mais de veracidade duvidosa.

Tenho para mim que o tempo e os resultados se encarregarão de explicar a decisão de Varandas que, terei muito poucas dúvidas, não terá sido fumo exclusivo da sua chaminé. Entendo que só o saberemos quando acalmar o pó...

A constância é mais importante que o fulgor do arranque!...

Leoninamente,

Até à próxima