«A debandada de Cristiano Ronaldo de Turim era previsível desde que a Juventus foi afastada pelo FC Porto, nos "oitavos", da Champions, em Março. Depois da desilusão com o Ajax ("quartos") e Lyon ("oitavos") nos anos anteriores, CR7 comprovou naquele dia o óbvio: Itália não foi a melhor escolha para continuar a ansiar por mais Bolas de Ouro e/ou Champions. E, para sermos justos, a Juve também já estava arrependida de ter abdicado do seu modus operandi, que sempre passara por uma gestão circunspecta e pelo esforço colectivo para chegar ao sucesso.
De facto, após as duas finais da Champions perdidas, de pouco valeram aos "bianconeri" os milhões de euros gastos na contratação e no ordenado bombástico de CR7. Essa tomada de consciência revelou-se no regresso de Massimiliano Allegri, que logo no ano da ida de Ronaldo reconheceu "problemas de convivência" com o português. Segundo a imprensa desportiva italiana, Allegri terá chegado a recomendar que a Juve vendesse CR7 no final dessa primeira época, mas quem acabou então por sair foi o treinador.
E as coisas não mudaram muito de figura com Maurizio Sarri e Andrea Pirlo, com este a ficar com a desonra de ter interrompido o ciclo vitorioso de nove "scudettos". Mesmo assim, CR7 acabou a aventura transalpina com um saldo de 101 golos em 134 jogos (foi o melhor marcador do "calcio" na última época). E, nos três anos, contribuiu de forma indelével para quatro conquistas caseiras (duas ligas, uma taça e uma supertaça).
Ronaldo começou no ‘banco’ o seu último jogo com a camisola da Juve e o golaço que lhe foi anulado (fora de jogo) nos últimos instantes frente à Udinese foi uma espécie de sinopse cínica da sua passagem por Itália. A ideia que fica é que Ronaldo e a Juve mantiveram um matrimónio de convivência e que Ronaldo se precipitou quando forçou a saída de Madrid em 2018 (terminou então com 44 golos em outros tantos jogos).
CR7 nunca foi um ‘galático’ verdadeiramente perfilhado por Florentino Pérez, que o contratou em 2009 porque seria demasiado caro pagar a multa prevista no pré-acordo estabelecido pelo anterior presidente, Ramón Calderón. Mas tivesse Ronaldo deitado para trás das costas o desamor que Pérez aqui e ali lhe foi tributando – comprovado há dias quando o regresso de Ronaldo a Madrid voltou, mais uma vez, a estar em cima da mesa e o treinador (e seu amigo) Carlo Ancelotti acabou constrangido a desmentir a sua própria vontade… – e CR7 e o próprio Real Madrid teriam, provavelmente, (ainda) mais histórias douradas para contar.
A ida de Messi para o Paris Saint-Qatar (como Valdano cognominou o clube-estado) também acabou por estragar o plano bem mais ancestral de Ronaldo seguir para Paris, como chegou a ser vontade do próprio Al-Thani (o gestor Nasser Al-Khelaifi e o director desportivo Leonardo nada decidem de crucial sem a aquiescência do Emir). A situação parecia complicada, mas eis que Daniel Levy recusa os 187 milhões oferecidos ao Tottenham para levar Harry Kane para o City. Em resultado, Guardiola concede finalmente que Ronaldo era o avançado que lhe faltava.
E a transferência só não foi consumada na passada quinta-feira porque o City arriscou tentar reduzir os 30 milhões reclamados pela Juve. Mas foram precisamente as manchetes dos jornais do dia seguinte que despertaram Alex Ferguson, os adeptos e os históricos do United. História romanceada, dirão alguns, mas Ronaldo só vai mesmo regressar ao United porque, entre outros, o escocês não perdeu a velha fibra escocesa e não admitiu perder o seu "filho" pródigo para o rival vizinho. E, num par de horas, Jorge Mendes, concretizou a transferência.
Doze anos depois, Cristiano Ronaldo regressa onde já foi feliz e onde se transformou num avançado total. É um golpe de afecto e uma opção confortável, talvez a mais acertada no crepúsculo da carreira. Mais a mais porque a competência do United já tinha aumentado quando a Pogba e a Bruno Fernandes se acrescentaram Varane e Sancho. Mas, por outro lado, perde-se a oportunidade de descobrir como o génio criativo de Guardiola iria aproveitar o "killer instinct" de CR7. Solksjaer é bom rapaz, mas foi suplente de Ronaldo e olhará para ele como uma lenda que decide como e onde joga…
Não há efeito "carambola"
A crise pandémica tornou as milionárias transferências de outros tempos numa espécie de excentricidades raras, reduzindo o efeito "carambola" que permitia negócios suculentos e o equilíbrio de contas a clubes como o FC Porto, Benfica e Sporting. Muitas vendas previstas podem acabar adiadas para Dezembro, na esperança de que as coisas normalizem. Mas há quem não possa esperar e acabe por vender, mesmo que por preços reduzidos.
É assim que se percebe que o Santa Clara tenha alienado o seu goleador Carlos Júnior para a Arábia Saudita por 2,5 milhões (pagos em três anos), faltando saber se irá mesmo resistir ao assédio, do Fenerbahçe de Vítor Pereira, por Morita, médio japonês que transpira talento. Olhando ainda para jogadores de grande potencial, o Boavista emprestou Alberto Elis ao Bordéus (cujo dono, Gerard López, também mantém participação no Bessa), falando-se numa cláusula de compra obrigatória. Para o mesmo Bordéus seguiu Fransérgio, que o Braga libertou por 4,5 M€ (mais variáveis), enquanto o Portimonense não sabe como lidar com o assédio e a ambição (legítima?) de Beto.
Enquanto isto, o Times anunciou que a UEFA vai mudar o Fair Play Financeiro e apostar em regras semelhantes às que vigoram na NBA. Fala-se numa taxa de luxo. Para fazer cócegas ao City e ao PS-G?…
E assim vai o futebol, ainda sob o efeito dos muitos "virus" que o envolvem!...
Ainda bem que Setembro está já aí!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
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