«O presidente da Liga, em recente entrevista, expressou o objectivo que o animava, de fazer da liga portuguesa a quinta liga europeia, logo atrás dos "Big Four", Inglaterra, Espanha, Alemanha e Itália. Da mesma maneira que louvo a ambição, questiono a consistência da mesma.
É indiscutível que, no plano interno e na diáspora portuguesa, a Liga tem uma visibilidade e uma presença social ímpares, fruto da popularidade do fenómeno futebol. Mas isso não faz dela uma organização de referência, muito menos a nível internacional. Vários exemplos.
Marcar no pico do Verão um jogo no Algarve para as três e meia da tarde, com temperaturas a rondar os quarenta graus, e dar como justificação a negociação de "slots" com os operadores televisivos. Consentir que se jogue em campos como os do Nacional (lembram-se do jogo do Sporting no ano passado?) e do Marítimo e só interditar este último depois de todo o país assistir ao lamentável espectáculo quer foi o jogo contra o FC Porto.
Aceitar a participação na Liga de um clube que está impedido de inscrever jogadores, por dívidas anteriores não liquidadas. Abdicar de escrutinar a idoneidade dos investidores nas SADs, o que já produziu catastróficas consequências no Desportivo da Aves, para não falar nas que pairam este ano sobre outros clubes.
Permitir que os clubes fixem preços proibitivos para os bilhetes, atraiçoando a matriz popular do desporto. Conviver com um regulamento disciplinar brando no que toca a excessos de dirigentes e treinadores, com um aparelho sancionatório que quase convida à prevaricação, como o demonstra a reincidência crónica de alguns agentes.
É evidente que a Liga constitui a emanação dos clubes que a compõem e há muitos aspectos em que estes, mais que proteger a competição, procuram, sobretudo, proteger-se a si próprios, mas isso não justifica tudo. Veremos como correm as conversas relativas à negociação centralizada de direitos televisivos, que conferirá à entidade Liga um peso que agora não tem.
Proclamações autopromocionais à parte, seria mais sensato e aconselhável olhar para dentro e começar a suprir estas e outras carências, que conferissem à Liga mais transparência, mais lealdade na concorrência, melhores espectáculos, mais segurança, mais conforto, mais solidez financeira.
Eu sei que estando, por imperativo legal, a justiça e a arbitragem na Federação, a procura da qualidade torna-se mais dispersa e, como tal, mais difícil. Ano a ano, fica, porém, a sensação que se podia e devia fazer melhor.
Com Messi no PSG, a Liga tem mesmo muito que pedalar, se se quiser chegar aos da frente.»
É minha profunda convicção de que ainda estará para nascer um dirigente no nosso futebol capaz de implementar as medidas que Carlos Barbosa da Cruz hoje, corajosa e assertivamente, avança neste seu exemplar texto!...
Porque o aparecimento de um grande e visionário dirigente, que não se vislumbra para já no nosso triste e apagado horizonte, nunca poderá ser dissociado do aparecimento de outras grandes figuras a nível governamental cuja acção alargue e complemente esse quase utópico desígnio. O que vamos tendo por cá, neste medíocre e decepcionante "faz de conta" em que há muito se transformou o nosso Desporto e em especial o nosso futebol, será a procissão típica e medieval à portuguesa, onde não faltarão nenhum dos seus arcaicos elementos fundamentais: os juízes e mordomos da festa, as irmandades de todas as paróquias, os andores pagãos, os anjinhos de asas cândidas e reluzentes, os pálios dourados e protectores, a banda filarmónica com a música de sempre e... a populaça a rematar, genuflectora, triste e conformada!...
De vez em quando - talvez quase e apenas uma vez em cada século! - aparece-nos um "salvador", um "Melo", quiçá um "Carvalho", ou mesmo um "Ferreira", ou ainda outra vez um "Melo"!...
No desespero de 1755, surgiu um Sebastião José de Carvalho, e depois "dos vivos serem tratados e os mortos enterrados", voltou a renascer Lisboa. Depois, num outro desespero, foi preciso um Otelo Saraiva para nos colocar a Liberdade numa bandeja, para logo a seguir, quando o desespero de afirmação no mundo já atingia as raias do impossível, lá surgiu numa manhã de nevoeiro um António Mega para fazer novo milagre e transformar o orgulho que foi a Expo98, numa "nova Lisboa"! Agora, neste momento e aqui, quando a pandemia parecia tomar conta da corrupção e do compadrio, eis que nos surge de camuflado e sem mostrar os dentes, um Henrique Gouveia para pôr ordem na casa e decência num povo "que nem se governa nem se deixa governar"!...
Quando aparecerá o "restaurador" do futebol em Portugal?!...
Teremos de esperar ainda um século???!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
Sem comentários:
Enviar um comentário