Marco Silva ainda irá muito a tempo de ser eficaz e pragmático!...

Marco Silva, um líder

A equipa do Sporting saiu da adolescência, cresceu e cresceu. Já apresenta em campo uma maturidade surpreendente, só possível porque tem no seu treinador um líder, um líder evoluído, moderno, com ideias claras e sustentadas por um discurso sereno, bem estruturado, confiante e transmissor de credibilidade. Um líder do nosso tempo, capaz de firmeza mas, antes, com capacidade para ouvir de modo a que as suas decisões assentem na participação de quem vai ter das executar, os seus jogadores.

Marco Silva agarrou num grupo de trabalho bem desenhado, com o orçamento possível, pelo anterior treinador, Leonardo Jardim, um profissional com provas dadas e confirmadas na montagem de equipas competentes, uma herança que, nas circunstâncias, não era fácil de dar continuidade. Soube fazê-lo.

Hoje o leão entra no campo para ganhar, não em discursos de circunstância antes dos jogos, mas provado nos relvados seja qual o adversário. Não é mais um corpo presente porque soube ganhar o estatuto de equipa que os adversários são obrigados a respeitar. Como tem sido notório.

No maior respeito pelo leão, o Benfica foi a Alvalade num posicionamento defensivo - um Jorge Jesus irreconhecível - e levou um tremendo baile de bola, como não há memória de há muitos anos. Ainda em Alvalade, o segundo classificado da liga alemã foi esmagado pelo futebol do Sporting, numa noite para recordar. Em ambos estes jogos, a vitória só não sorriu por falta de eficácia nos momentos da decisão, coisa normal para um grupo de trabalho de jovens em crescimento.

Marco Silva também demonstrou, durante semanas, serenidade e confiança aquando da crise interna e não deu qualquer sinal de arrogância quando sentiu o forte apoio dos adeptos. O que disse dentro do grupo de trabalho, ficou lá como tem de ser. Um líder.

O jogo com o FC Porto foi mais uma etapa de um clube que saiu há menos de dois anos, do fundo de um túmulo e faz agora o seu percurso à luz do sol. As tonturas fazem parte, mas neste caso foi uma terrível vertigem.

(Alberto do Rosário, Bilhar Grande in Record)

Controlo da profundidade. Sporting a dar tiros nos pés.

«É difícil recordar um jogo do Sporting em que os adversários não tenham a possibilidade de finalizar na oportunidade mais clara de todas. Contra 0.

Ainda em Setembro foi escrito aqui:

"A profundidade controla-se tendo em conta alguns princípios simples.

Pressão sobre o portador. Mais subida se há, mais baixa se não há.

Distância para a bola. Que será sempre bem mais longa se não houver pressão sobre o portador, para que o passe nas costas para passar entre a última linha tenha de ir com força suficiente para chegar ao guarda redes ou ir para fora.

'Eu acho o Jesus fantástico na forma como comanda a defesa, mas digo-lhe já, a maneira como ele trabalha é difícil de seguir. Não é mesmo para toda a gente. Ele exige muito com a história da bola coberta e bola descoberta: se o adversário que tem a bola está com alguém por perto, a equipa não se mexe, se o adversário que tem a bola está sem ninguém por perto, a equipa tem de recuar.' (Quim)

É certo que os centrais do Sporting fazem lembrar o filme "Dumb and dumber", mas não é menos certo que nos "pormaiores" há pouquissimos treinadores no futebol mundial ao nível do treinador do SL Benfica. E Marco Silva não é um deles.

P.S. - E em praticamente todos os jogos da presente época Patrício vai resolvendo no 1x0. Também um dos melhores a nível mundial nessa pequena situação de jogo."

Várias semanas depois, as situações sucedem-se, jogo após jogo: o

s centrais do Sporting não têm a minima noção do que é um bom posicionamento, e não estão a mostrar melhorias com o tempo.»

O post é de Novembro. Qualquer semelhança com o clássico de hoje, não é coincidência.

(Paolo Maldini, Rápida do Clássico in Lateral Esquerdo)

Destaquei os dois textos que acimo publico, por me parecerem aqueles que em todas as análises que hoje vi publicadas, encerrarão as maiores verdades sobre o jogo que nos foi oferecido nas Antas:

1 - Marco Silva é efectivamente um excelente treinador! Um líder, na verdadeira acepção da palavra. Mas ainda não estará, no aspecto táctico e no campo específico do treino das tarefas defensivas, no patamar dos pouquíssimos treinadores que exibem o saber de Jorge Jesus nesta importante matéria.

2 - Os centrais do Sporting, pesem embora todas as suas enormes potencialidades,  continuam bem longe de terem interiorizado as noções mínimas do que é um bom posicionamento e não estarão a mostrar as melhorias com o tempo, que todos desejaríamos.

Atento a esta situação e depois de se ter visto surprendentemente afastado da Taça de Portugal por Marco Silva, exactamente no mesmo recinto, por concludente 3-1, Julen Lopetegui terá concebido a única estratégia que lhe permitiria derrotar o Sporting:

1 - Aproveitar a quase completa ausência de controlo de profundidade, por parte do sector defensivo leonino, sem que este deva ser confundido apenas com os quatro elementos colocados em frente de Patrício, mas complementado naturalmente pelas linhas que se lhes sucedem quando não há posse de bola.

2 - Esperar que o cansaço determinado pelo esforço sobre-humano desenvolvido pela equipa leonina, apenas 72 horas antes, produzisse os seus efeitos e aplicar então a machadada final.

Como seria expectável, a equipa do Sporting foi capaz, através do recurso à sua habitual forma pressionante de se apresentar em jogo, de evitar a supremacia do adversário durante algum tempo decorrido desde o início do encontro. Mas cumpridos os primeiros 30 minutos, os músculos começaram a mostrar cada vez mais reticências às ordens da mente e... foi o que se viu!...

Marco Silva estará naturalmente a crescer como treinador. A fórmula que vem adoptando desde o início da temporada seria perfeita e conduzi-lo-ia seguramente ao êxito, não fossem os limites da condição física dos atletas que lidera, cada vez mais desesperantemente alcançáveis, à medida que o intervalo entre jogos decresce e a época se estende. Guardiola defende a tese de que nenhuma equipa dura 90 minutos a jogar no máximo de velocidade, de pressão, de intensidade. Por isso, será obrigada a contemporizar, a descansar, a defender-se, a administrar o esforço, utilizando a posse de bola para o efeito, reduzindo riscos. 

Marco Silva, a meu ver, ainda irá muito a tempo de interiorizar a eficácia defensiva de Jorge Jesus e o pragmatismo de Pepe Guardiola. No dia que o conseguir, dará ainda mais razão a Alberto do Rosário e retirará uma grande parte da que assiste a Paolo Maldini.

Em mim, abrirá um sorriso rasgado! Até às orelhas! Talvez para a próxima época!...

Leoninamente,

Até à próxima