O embuste
«O importante escritor brasileiro Lima Barreto tem um conto intitulado "O homem que sabia javanês". Porque o recordo? Por ser a história de um homem que sem emprego nem recursos decide responder a um anúncio pedindo um professor de javanês. O problema é que ele não o sabia falar, aprendeu apenas o alfabeto para poder chegar a quem o contrataria, fingindo saber o idioma e inventando as lendas que narrava. Correu tudo tão bem que chegou até cônsul, só que vivia no pânico constante que alguém o pudesse desmascarar e revelasse todo o embuste.
Lembrei-me desta história a propósito da Liga que começa hoje. Onde o tempo útil de jogo é miserável, onde bancadas são aquecidas por mil ou menos espectadores em muitos campos, a degradação da qualidade competitiva é indesmentível, mais arbitragens de pé-de-chinelo e o VAR sem critério claramente definido.
Temos treinadores muito competentes e quanto a jogadores continuamos com uma formação de excelência que é uma mina inesgotável de pedras preciosas, para lá de um 'scouting' que ainda prospecta bem nos mercados sul-americanos e periféricos.
O maior embuste é o potentado dos três grandes - sem fim à vista pois nenhum emblema parece outra vez ter armas para se intrometer na luta pelo título - que têm uma grandeza histórica, palmarés e títulos fantásticos, massas adeptas de milhões empenhadas e apaixonadas, contudo, ano após ano os relatórios e contas das suas SAD exibem o precipício da falência técnica, sendo vergastados na obrigação de vender as suas jóias da coroa para se manterem à tona de água.
Vejam-se os cruéis exemplos cristalinos. O Benfica teve de vender Darwin Nuñez para ter liquidez para a vassoura com que despachou o entulho do plantel e dar novos craques a Roger Schmidt. Mas até o jovem Gonçalo Ramos, que explodiu esta semana na Champions, tem o destino traçado de um Wolverhampton qualquer.
Sérgio Conceição depois da conquista da Supertaça bateu o pé e disse que não queria mais nenhum jogador transacionado. Porém, logo Marchesín que custou 8 milhões saiu para o Celta por tuta e meia. Somando as perdas de Fábio Vieira e Vitinha e as caricaturais saídas de Sérgio Oliveira e Francisco Conceição vemos em que estado financeiro está o FC Porto.
E o Sporting que facturou Nuno Mendes ao PSG também ainda poderá perder uma peça essencial no modelo de Rúben Amorim que é Matheus Nunes. Fala-se numa soma de 50 milhões (o que seria óptimo) mas o que é certo é que o grupo de trabalho ficará sempre mais fraco se assim acontecer.
Que role a bola para nosso contentamento, é isso que conta e nos alegra. Porque o amanhã é pobre, as guerras de alecrim e manjerona não acabarão entre os aristocratas quase falidos que são os três grandes. Era bom que desta temporada saísse uma nova imagem para a competição na Liga, que servisse de redenção e esperança para o futebol português. Porém, temo que nos mantenhamos neste quadro de embuste que descrevi como o homem que falava javanês.
PS: adoro ciclismo, mas, por falar de embustes, o que dizer desta edição da Volta a Portugal carregada pelo manto do doping?»
Haverá que declarar guerra sem quartel ao embuste!...
"Morte" aos embusteiros!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
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