«Ao longo do último século, os campeonatos nacionais têm sido a base competitiva do futebol: preenchem a maior parte do calendário, decidem campeões, subidas e descidas, filtram o acesso às provas europeias e, não menos importante, potenciam grandes e históricas rivalidades que mobilizam multidões e fazem deste desporto o maior espectáculo do mundo.
O que explica, então, que importantes dirigentes dos principais campeonatos europeus tenham manifestado, recentemente, a necessidade de repensar as competições internas? Pensemos, por exemplo, no que há meses foi dito por Oliver Kahn, CEO do Bayern Munique, decacampeão da Alemanha: “A Bundesliga seria mais atractiva se fosse mais competitiva no topo. É interessante pensar em novos modelos, é o que a UEFA fez com a Champions e no Bayern estamos abertos a novas ideias.”
Assistimos também, na última semana, ao grito de alerta dado pelo Presidente do Torino FC, Urbano Cairo, que referiu que “o modelo que temos actualmente em Itália não é sustentável, precisamos de novas ideias, de valorizar os direitos televisivos e de apostar na formação”.
Em ambas as intervenções, uma expressão comum: “novas ideias”. Resulta óbvio que os campeonatos nacionais sentem a ameaça dos tempos e dos seus efeitos nos (novos) públicos, colocando em causa o modelo no qual o futebol tem cimentado a sua enorme popularidade ao longo de mais de 100 anos. E se esta reflexão é válida para os mais importantes campeonatos da Europa, mais premente se tornará para a nossa periférica Liga, que enferma, quiçá em dobro, dos males que afectam as maiores competições nacionais: previsibilidade, vencedores crónicos, fosso crescente entre as equipas, perda de atractividade e, consequentemente, de receitas.
Há sinais, e como é notório não apenas em Portugal, que nos interpelam e nos obrigam a agir.
É o que o SC Braga tem feito. Ao longo das últimas semanas, levámos as nossas observações e as nossas propostas aos presidentes da FPF e da Liga, assim como as partilhámos com o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto.
Hoje, no dia em que se inicia mais uma edição da nossa I Liga, entendo ser meu dever concluir este ciclo de intervenções em prol de um objectivo que é colectivo e de uma reflexão que visa contribuir para que tenhamos campeonatos mais fortes, respondendo não apenas aos desafios do presente, mas também aos novos quadros competitivos da UEFA para o ciclo 2024-2027 e que vão colocar em xeque, se nada for feito, os alicerces das competições nacionais.
Não tenhamos medo das palavras: o futebol português está perante uma oportunidade porventura irrepetível, mas seguramente inadiável. O futebol português não pode partir para o processo de centralização dos direitos televisivos e respectiva chave de distribuição sem uma definição prévia de um novo modelo que acrescente valor à competição. Não se trata apenas de fomentar um quadro que potencie mais receitas, mas de garantir em simultâneo que elas são distribuídas de forma mais justa e equilibrada, impondo também um caderno de obrigações que exija aos clubes o cumprimento de metas que favoreçam o jogo positivo, a melhoria das instalações e das condições para equipas, adeptos e demais agentes.
É urgente, pois, a reformulação dos campeonatos, com a I Liga à cabeça, respondendo de forma taxativa aos desafios que entendemos como fundamentais para o ciclo que se avizinha:
– Aumentar a competitividade, promovendo mais jogos entre equipas que lutem, com base na performance, pelos mesmos objectivos;
– Criar mais fases no campeonato, fazendo com que as decisões (título, apuramento para as provas europeias e permanência) sejam discutidas entre as equipas de idêntico valor, consoante o seu rendimento ao longo da época;
– Garantir mais jogos para as equipas da metade inferior da tabela, ajustando a sua carência competitiva em vários momentos da temporada;
– Reduzir a carga de jogos para as equipas do topo da tabela, adequando às exigências dos calendários UEFA pós-2024 e a bem da competitividade de Portugal no quadro europeu;
– Contribuir para mais imprevisibilidade e mais interesse do público, logo mais interesse de operadores, patrocinadores e de todos os agentes envolvidos.
Para esta reformulação dos quadros competitivos, importa deixar claro que:
– O SC Braga não defende qualquer redução do número de equipas;
– O SC Braga defende que os campeonatos são competições que premeiam a regularidade e, como tal, não devem privilegiar modelos de playoff;
– O SC Braga entende que os novos quadros têm obrigatoriamente de ser aprovados durante a época em curso para aplicação no arranque de 2024/25.
É fundamental, em todo este processo, a percepção do ponto em que estamos e a visão de para onde queremos ir. Mas, tal como referimos nos encontros que temos mantido, este não é o momento de apontar o dedo, antes de assumirmos que todos nós, responsáveis pelo nosso futebol, temos cometido erros, tanto em actos como em omissões.
Estou certo, porém, que o futebol português tem meios para se relançar e tem competências, como várias vezes provou, para se afirmar de forma disruptiva e apresentar as tais “novas ideias”. Temos alguns dos treinadores e jogadores mais competentes do Mundo, capazes de se bater por qualquer competição de países ou de clubes a nível internacional. Temos ainda, devo referi-lo, o conjunto de dirigentes mais preparado e mais capaz da nossa história, tanto nos clubes como na Federação e na Liga, onde encontro – e falo com experiência – os melhores quadros que o futebol português já conheceu.
Seria imperdoável, assim sendo, que os nossos líderes não conduzissem e concluíssem este fulcral processo colectivo, deixando-nos um futebol mais preparado, mais competitivo, mais interessante para o público e que nos permita desfrutar, durante mais tempo, dos grandes jogadores que temos o talento e a capacidade de formar.»
Ficam-lhe bem, ao "trolha", estes esplêndidos e deslumbrantes sapatos de salto alto!...
Mesmo que emprestados!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
Quem te manda a ti sapateiro, tocar rabecão
ResponderEliminarAnda por aí, sim!...
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