quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Até um dia a casa vir abaixo!...


92 por cento

«José Fontelas Gomes foi vice-presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) de 2009 a 2012 e presidente entre 2013 e 2016. Da APAF transitou para o Conselho de Arbitragem (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), onde já vai no segundo mandato ininterrupto.

José Fontelas Gomes não foi um árbitro de nomeada, não passando da terceira categoria no futebol de onze, tendo-se dedicado mais ao futebol de praia. A notoriedade que não conseguiu como árbitro, compensou com o dirigismo corporativo, que domina há mais de dez anos.

É necessário conhecer os meandros deste percurso para perceber uma coisa óbvia: mais do que presidente da arbitragem, Fontelas Gomes é, sobretudo, o presidente dos árbitros.

Entre as duas coisas há, como é óbvio, um mundo de diferenças.

Só assim se compreende o tom de autoelogio global que imprimiu num balanço da atividade do Conselho de Arbitragem, que fez em entrevista num jornal concorrente.

Para ele, a arbitragem nacional está bem e recomenda-se, não há jarra, há gestão e, sobretudo, agita a bandeira da quase infalibilidade do VAR, cujas decisões, em 92 por cento dos casos, "repuseram a verdade desportiva".

Tenho pena de que essa contabilidade não venha acompanhada da identificação dos 8 por cento dos casos, onde, alegadamente o VAR errou, para podermos conferir.

Tenho ainda mais pena de que questões candentes, como as diversas interpretações que os VAR fazem do protocolo que legitima a sua intervenção no jogo, não tenham sido abordadas.

Porque já vimos situações em que o VAR intervém, sem ter de o fazer e precisamente o oposto, quando o VAR não intervém, devendo fazê-lo.

É esta oscilação de critérios pessoais, de VAR para VAR, que, a meu ver, os está a desqualificar como recurso credível.

Se contabilizarmos os muitos casos em que o VAR assobiou para o lado (João Mário, Famalicão, remember?), essa percentagem seria substancialmente inferior. A omissão, nestes casos, atentou contra a verdade desportiva.

Esta insólita política de doirar a pílula da arbitragem para defender os seus pares, ignorando os problemas que estão à vista, mostra que temos mais um presidente da APAF em comissão de serviço na CA, do que o dirigente que o sector precisa.
E, aparentemente, está para ficar.»

Com papas e bolos, vai ficando... 

Até um dia a casa vir abaixo!...

Leoninamente,
Até à próxima

2 comentários:

  1. Pertinente, esclarecedor e objectivo, este artigo do Dr. Carlos Barbosa.
    Em qualquer organismo ou instituição, onde não haja autocrítica e capacidade de aceite da mesma, certamente, apenas e tão só, existirá opacidade, corporativismo espúrio e incompetência "encapotada".
    As sociedades contemporâneas devem ser abertas, tolerantes, dialogantes, responsáveis e em vivência regimental democrática e de acordo com a Constituição.
    O corporativismo e atavismo da arbitragem em Portugal, violam claramente os direitos, liberdades e garantias, consagrados no Direito e na Lei.
    Os árbitros de futebol e os seus dirigentes, não estão acima da Lei, nem poderão continuar a senda da parcialidade inimputável.
    Têm que se submeter à contínua avaliação das suas qualificações técnicas, fisicas e éticas, por organismos tutelares superiores e independentes, que garantam e salvaguardem a verdade competitiva e os princípios da isenção, igualdade e livre concorrência.
    A classificação destes agentes e participantes do espectáculo, têm que igualmente ficar a cargo de competência hierárquica para supervisão e controlo, por pessoas idôneas e superiormente habilitadas, independentes e isentos de qualquer conflito de interesses e organicamente exógenas a clubes e SAD's.
    Fim à batota e influência, que conspurca a actividade e introduz gravíssimas consequências de ordem desportiva, social, laboral, econômica e financeira, a entidades e instituições.
    SL

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    1. Muito bem. Falta saber quem controla as vezes que o Var deve intervir e não o faz .

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