quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Ó deus da ingenuidade abençoa o Octávio!...


A injustiça de expulsar um artista

«Muito se tem discutido o golo anulado a Coates, no suspiro do jogo com o Famalicão, e que daria a vitória ao Sporting. Há um ligeiro toque do central do Sporting no braço direito do guardião. Por sua vez, Coates foi empurrado por um defesa, que, em desespero por não chegar tão alto, o tocou nas costas para evitar o movimento livre do adversário.

A arbitragem foi polémica. Não é este lance, nem o de eventual penálti sobre João Mário, que aqui vem em apreço. Ambos os lances têm decisão discutível. Em ambos os casos, a arbitragem decidiu contra os interesses do Sporting. Não se busca com este texto procurar consolidar qualquer teoria de conspiração contra o emblema de Alvalade.

Aquilo que aqui se protesta, por ser um crime de lesa futebol, é a expulsão de Pedro Gonçalves. Como pode um árbitro que gosta do jogo expulsar um artista por aquela sem razão? Foi da falta, sem violência nem perigo, ou do toque que deu na bola, como menino birrento, para a fazer rolar por escassos metros? Qual foi a razão por que o árbitro privou o espectáculo do seu maior intérprete?

Não se pense que defendemos uma lei para os toscos e maus, e outra para os finos criadores de arte. Não. Aquilo de que duvidamos é que um qualquer lateral ou um trinco caceteiro fossem alvo do mesmo rigor disciplinar do maior simplificador de jogo da Liga. Fosse para quem fosse, aquele castigo seria injusto. Para o atleta e para a sua equipa.

Tendo sido aplicado ao miúdo-maravilha do Sporting - que em cada lance mostra quão fácil é o futebol, um abençoado pelo dom -, torna-se inaceitável para todos os amantes do jogo. Os que pagam para serem surpreendidos pela arte dos poucos criadores que nos restam.

Os árbitros, para serem árbitros, devem antes de mais amar o jogo. Para serem árbitros, deveriam ser filtrados, de forma a não chegarem ao topo fenómenos que visam a usurpação de poderes. O protagonismo indevido. O árbitro deve estar ali para não atrapalhar o desenrolar do jogo. Não para abusar do enorme poder que lhe é conferido. Deve agir de forma a não amputar o espectáculo dos seus melhores executantes, por dá cá aquela palha. Um árbitro que quer ser protagonista não pode ser árbitro.

O maior poder do futebol é dos artistas, que o tornam simples, divino, de tão inesperado. Quando, sem razão disciplinar bastante, um qualquer juiz, por severa frustração, expulsa um executante como Pedro Gonçalves, devíamos poder exigir à SportTV o custo da assinatura.

Haja respeito por quem ao futebol dá luz, como Pedro Gonçalves, Corona, Rafa e mais uns poucos. O futebol não deve tolerar gente que leva os seus tormentosos traumas para a relva. Esse tapete verde onde poucos pintam os quadros que tantos adoramos.»
(Octávio Ribeiro, De Olhos na Bola, in Record, hoje às 19:32)

Ó deus da ingenuidade, abençoa o Octávio!...

"E se lá no assente etéreo onde subiste,
Memória deste futebol se consente,
Não te esqueças deste amor ardente,
Que já nos olhos seus tão puro viste"!...

Leoninamente,
Até à próxima

3 comentários:

  1. A” minha alma está larva”...
    Mas foi o Octávio Ribeiro...que escreveu isto...?

    Abraço e SL

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    1. Foi ontem publicado no Record, amigo Max! Quanto á sua "larvez", será exactamente igual à minha!...
      Abraço, saúde e SL

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  2. Futre, ontem, portou-se bem na CMTV. Partiu a loiça toda. Coitado do Artur Soares Dias.

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