«Faz todo o sentido o sentimento generalizado de admiração pelo Sporting de Rúben Amorim, porque à exuberância do que tem conseguido na Liga se junta a surpresa de ver como líder isolado da Liga um conjunto no qual ninguém apostava um cêntimo. Mais do que isso, os leões praticam futebol de elevadíssima qualidade, revelando equipa que sabe defender (conceito colectivo que passa pela sincronização entre vários elementos) mas que nem sempre defende bem (sucessivos erros individuais que põem a nu fragilidades impensáveis) e cuja força advém, principalmente, do momento em que evolui da organização sem bola para a facilidade com que dispara para a frente. As transições ofensivas contam com a vertigem vertical de Nuno Santos e a explosão serpenteada e insinuante de Pote; têm agora a pausa de João Mário, que passa por terrenos minados com a serenidade de quem passeia no jardim com a família, e dois laterais (Porro e Nuno Mendes) sempre disponíveis para invadirem o outro lado do campo.
Com um guarda-redes que não comete erros (Adán), um médio-centro (Palhinha) que é o avançado dos defensores e o líbero dos atacantes, mais um avançado (Sporar) menos participativo e enleante (do que Jovane ou mesmo Tiago Tomás) mas mais identificado com a função, o Sporting tornou-se temível, tendo já encontrado a estrela maior: Pote, craque da cabeça aos pés, pelo que joga e faz jogar. No Famalicão, era um centrocampista mais cerebral, com apurado sentido organizativo e tempo de participação, que descobria linhas de passe milagrosas e constituía fonte inesgotável de acções de aproximação à baliza. O ímpeto de galgar terreno em acções solitárias era menor, porque pretendia ser denominador comum da acção criativa. A facilidade de embalar com a bola dominada, assente em coordenação motora perfeita, já lá estava. Apenas não era a sua principal característica.
De leão ao peito, Pote potenciou a explosão com a qual tem rebocado o Sporting para sucessivas vitórias. Perdeu o efeito surpresa, mas a gestão que faz da velocidade de deslocamento (arranque, travagem e aceleração) permite-lhe galgar terreno e derrubar o que lhe aparece pela frente. Não se impõe pelo engano mas pela convicção; não triunfa por assinar um só lance excepcional por jogo (sonho de alguns consagrados) mas por passar hora e meia a fazê-los com impressionante frequência, razão por que triunfa pela qualidade mas também pela quantidade – quando, na recta final dos jogos, tem disponibilidade para mais uma aventura (que podem ser duas ou três), os efeitos costumam ser devastadores em adversários para quem o tempo e o cansaço interferem no menor acerto das decisões.
Ao fim de sete jornadas, Pote tornou-se a figura em maior destaque da Liga. Acrescentou ao futebol de outra galáxia, revelado a época passada, factor que o aproxima do patamar dos deuses: a relação com o golo, consolidada pela precisão de cada gesto nas zonas de finalização e pela facilidade com que prepara a arma, puxa a culatra atrás e dispara de curta e média distância. Sete golos em seis jogos, para quem se movimenta em zonas periféricas do terreno, é um parcial fantástico, que o levou, em meia dúzia de jogos, a superar o recorde de toda a temporada passada.
Com Rúben Amorim, Pote está um passo à frente do enorme jogador que João Pedro Sousa moldou em 2019/20. Um craque mais completo, que alimenta o jogo com visão e senso comum; que se tornou um explorador de espaços, também por acções individuais marcantes, cuja perfeição, intuição e poder de síntese o estão a transformar num especialista do último toque. O futebol português não revelava um projecto tão jovem (22 anos), valioso e excitante desde João Félix...»
Um regalo para os sportinguistas que veneram a língua portuguesa e amam o futebol!...
Rui Dias é único!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
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