«José Manuel Capristano veio há dias clamar contra a condenação do Benfica na praça pública. Abespinhado contra as reiteradas cismas que têm recaído sobre o seu clube e Luís Filipe Vieira, o antigo dirigente benfiquista menosprezou o acumulado de processos judiciais que pendem sobre ambos. "Quantas vezes o Benfica foi condenado? Zero. (…) Vocês têm todos pedra no sapato contra o Benfica", contraditou. O uso da terceira pessoa do plural do pronome pessoal foi (mais) uma forma de atingir a prontidão da cobertura jornalística às buscas que, na semana passada, a Polícia Judiciária efectuou na Luz e noutros locais (29 no total), correlacionados com as demandas forenses que envolvem o Benfica (paralelamente decorreram também buscas em Alvalade, mas aqui numa investigação que visa confirmar a origem do dinheiro do investidor angolano na SAD leonina e se, em função disso, houve branqueamento de capitais nos mandatos de Godinho Lopes e Bruno de Carvalho).
A reacção de Capristano, importa esclarecê-lo, serve aqui apenas para certificar a forma como muitos (a maioria?) dos adeptos, que não apenas do Benfica, digerem as acusações disciplinares e judiciais quando está em causa o seu clube e/ou os seus dirigentes. É como se a indignação perante a alegada imoralidade (não usei aqui, propositadamente, a palavra corrupção) se fosse enfraquecendo à medida que a hipotética libertinagem nos beneficia. Claro que este tipo de incongruência também se descobre noutros sectores da sociedade, principalmente na política, mas sem a irracionalidade e o descomedimento que se observam no mundo do futebol.
E não se entenda desta dedução, nem de nada do que se lhe seguirá, qualquer desrespeito pela presunção de inocência, diga ela respeito às investigações ao Benfica ou a qualquer outro processo que ainda não transitou em julgado. Também não se pretende aqui contribuir para os julgamentos pressurosos e mediáticos de que se queixa Capristano. Mas essa ponderação também não pode fazer-nos escamotear o que já é concreto e irrefutável: o Benfica e o seu presidente, nos últimos anos, têm sido relacionados com tantas situações suspeitas que é legítimo, no mínimo, acreditar que o clube e os seus responsáveis andaram demasiado tempo a brincar com o fogo, numa combustão que só mais tarde se perceberá se contrariou apenas os princípios éticos e morais ou também os judiciários. E isto será sempre verdade independentemente do que ditarem os tribunais.
Sublinho-o numa altura em que, provavelmente, o Benfica e o seu presidente até já se desencrencaram do processo que me parecia mais temerário: a SAD benfiquista, como é sabido, não foi prenunciada no processo E-Toupeira porque o seu ex-responsável jurídico, Paulo Gonçalves, aceitou sacrificar-se e ir a julgamento sozinho, numa decisão jurídica que deixa muitas dúvidas ao comum dos leigos. Independentemente da anunciada colaboração de Rui Pinto, é sabido que não poderá ser usado como prova o que que foi extraído dos servidores informáticos do hacker, pelo que o que resultou da junção dos processos Mala Ciao, Vouchers e E-mails, bem como do caso do Saco Azul, irá depender muito do corolário das investigações em curso. E o processo Lex, como se sabe, não diz respeito directamente ao Benfica, apesar de poder implicar Vieira.
A Luz já foi alvo de nove buscas, sendo que foram executados quatro mandados na mais recente, o que deu azo a que alguém gracejasse que, um dia destes, a PJ ainda iria descobrir o brinco de Vítor Baptista. Alguns dos factos em examinação datam de há cinco anos e decorrem investigações há cerca de três. Ninguém sabe como tudo acabará, mas não restam dúvidas, por muito que isso custe a compreender a Capristano e a outros inexoráveis e catatônicos adeptos, que o Benfica nunca sairá (totalmente) a ganhar. Mesmo que a judicatura lhe venha a conferir a ausência de culpa, isso não lhe garantirá a inocência nos juízos da ética e da respeitabilidade. Ficará para sempre com os telhados de vidro que noutros fóruns e noutros tempos sobreviveram ao Apito Dourado… E isso, por si só, significa a perda de uma enorme vantagem...»
Estava mesmo a pedi-las o Capristano! Começo até a acreditar que esta gente - leia-se uma razoável franja dos adeptos do Benfica! -, de tanto ouvir falar em impunidade, será que terá interiorizado que, para além desse monumental "guarda-chuva", deverão ser também considerados...
Intocáveis???!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
Pois é como afirma o Capristano e muitos outros “ benfiquenses” que ainda gozam com o resto dos que não são afectos esse clube...Quando “ nos atiram com essa”...de que nunca foram condenados...
ResponderEliminarPois não é claro que não foram...
Nós sabemos e eles melhor que nós...qual “ a razão desse milagre”...
Ainda recentemente o dr Baganha “ explicou “ como essas coisas acontecem...
( e não me admiro mesmo...que neste caso, seja ela ser condenado...)
Alguma coisa porém está a mudar...
Já há mais jornalistas “ a abrir a boca”...
E como diz o ditado...” tantas vezes o cântaro vai à fonte...que algum dia lá fica a asa...”
( gostava de ainda ser vivo...para finalmente sorrir...)
SL
Também tenho essa esperança, amigo Max...
EliminarSL
De, João Correia 17/11/2020 17h50
ResponderEliminarNão nos podemos esquecer desta frase :além de ganharmos dentro do campo, também sabemos como se ganha fora do campo. Esta frase diz tudo. Saúde, SL.