segunda-feira, 16 de novembro de 2020

É tempo de a Justiça dar o "tiro de partida"!!!...


AUGUSTO BAGANHA: UMA REVOLUÇÃO MORAL 
(ARTIGO DE MANUEL SÉRGIO, 242)
ESPAÇO UNIVERSIDADE, IN JORNAL A BOLA, EM 17-05-2018 00:23

«Augusto Fontes Baganha (mais conhecido por Augusto Baganha) actual presidente do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), nasceu em Coimbra, em 4 de Janeiro de 1951. Em 1975, ainda na Lusa Atenas, licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Faculdade de Ciências e, em 1999, completou o mestrado, em Gestão do Desporto, pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa. Como reforço dos conhecimentos, participou em 30 acções de formação, sendo de salientar as que se referem às áreas da gestão do desporto, da gestão da administração pública e da gestão orçamental pública. Foi um dos mais completos basquetebolistas da sua geração. Era um praticante de destra pontaria e de uma superior cultura táctica. Perfila-se, na história do basquetebol português, ao lado dos atletas de indiscutível grandeza. Vestiu 116 vezes o equipamento próprio da selecção nacional. E ainda treinou, no Clube Atlético de Queluz, os juniores e os seniores. Por fim, ao findar da década de 80, assumiu as funções, no Sporting Clube de Portugal, de director responsável, pela coordenação da actividade das modalidades de andebol, de atletismo, de basquetebol, de hóquei em patins. Vi-o jogar muitas vezes e transmitia ao gesto desportivo aquela beleza que é sinal de talento, numa palavra só: de classe! Por isso, hoje, quando fala de desporto, poda as palavras com o rigor de quem sabe do que fala. No entanto, a sua informação exaustiva, a sua destreza de raciocínio, o seu poder de penetração psicológica radicam numa longa experiência, que não teme cotejo, na direcção e gestão do desporto. Exímio praticante de uma conhecida modalidade desportiva, não é menos exímio no conhecimento que tem da gestão do desporto nacional e, acrescento sem receio, do desporto na “sociedade pós-capitalista” ou, na “sociedade do conhecimento”.

De facto, no tempo em que vivemos, o recurso económico básico deixou de ser o capital, ou o trabalho, ou os recursos naturais – o recurso económico básico é o conhecimento! Ficou célebre a fórmula de Nietzsche: “Não existem factos, apenas interpretações”. Não existem factos, apenas o que me permite perceber, principalmente, a minha história de vida. Lêem-se os pareceres do Dr. Augusto Baganha, escutam-se os seus discursos e cresce em nós a sensação que tudo o que faz, tudo o que diz constituem documentos de um desportista de admirável formação, de conhecimento original e seguro. Sem a dialética do jurista? Sem o economicismo do banqueiro, ou do homem de negócios? Sem a mentalidade dogmática dos grandes chefes políticos? Sem a verborreia dos oportunistas?... Mas com a mentalidade dos matemáticos: mentalidade silogística, precisa, lógica. E tão clara, tão rectilínea que dispensa os lugares de relevo, nos “media” e nas redes sociais. Para ele, 2+2=4 e não lhe venham explicar, com uma hipertrofia pretensamente crítica, o que a matemática já concluiu. O Dr. Augusto Baganha, pelo rigor do seu método matemático e porque domina os temas que exigem a sua atenção, não diz o mesmo muitas vezes, não é pessoa para dar muitas respostas, mas para seleccionar e discutir tão-só as principais ideias. Aliás, quem fala demais é porque não tem nada para dizer. Creio que foi o Nietzsche que declarou que quem perde demasiado tempo a contar e a realçar aquilo que fez é porque, de facto, não fez grande coisa! Deste pecado de mediocridade ninguém pode acusá-lo: o presidente do IPDJ segue o modelo socrático (refiro-me ao Sócrates de Platão, o Sócrates do processo maiêutico) e não o modelo campanudo dos sofistas. Para o Dr. Augusto Baganha, as palavras são meios, não são fins…

Integrou com o Prof. Pedro Nolasco, com o Prof. Gustavo Pires, com um médico fisiatra (o Dr. Lourenço) e comigo um gabinete de estudos, na Direcção-Geral dos Desportos. Nesta mesma Direcção-Geral, foi Chefe de Divisão do Desporto Federado, foi Chefe de Divisão de Apoio às Actividades Desportivas, foi Vice-Presidente do ex-Instituto do Desporto, foi adjunto e chefe do gabinete de vários Secretários de Estado, foi Presidente do ex-Instituto do Desporto de Portugal, foi Secretário Executivo da Conferência de Ministros Responsáveis pela Juventude e pelo Desporto da CPLP. Foi Presidente do Comité Organizador dos VIII Jogos Desportivos da CPLP, foi Membro do Conselho Nacional do Desporto e é Presidente do Conselho Directivo do Instituto Português do Desporto e da Juventude. Manifestando, sem exibicionismos, as mais altas virtudes cívicas e desportivas, mais do que a lição do que já fez e fará, vai legar a quem lhe suceder o exemplo da sua vida. Toda a experiência que guardou da sua juventude e de praticante de um desporto altamente competitivo; os seus primeiros anos de técnico superior da Direcção-Geral dos Desportos e os que leva de alto dirigente, na Administração Pública – em tudo, muito aprendeu e muito quis aprender. A Sociedade do Conhecimento ensina, acima de tudo, a aprender, ensina-nos ao conhecimento e reconhecimento mútuos. Nos anos já distantes em que trabalhei ao seu lado e sempre que podemos conversar com alguma demora, torna-se evidente que, em Augusto Baganha, a sua vontade de aprender mais, de saber mais, de ser mais permanece intacta e ebuliente. De “ser mais”? Assim é, de facto, porque à concretização de um sonho ele se entrega, com diligência e denodo, com razões da razão e razões do coração: é preciso repensar a ética desportiva, no desporto nacional!

José María Cagigal, diretor do INEF de Madrid e um intelectual isento do pecado da mediocridade, respondeu-me assim a uma pergunta insistente: “Ao desporto, tanto em Portugal, como em Espanha, falta mais teoria do que prática”. E continuou: “A prática resolve-se com vontade política. Mas aos nossos países falta a teoria que é indispensável ao desenvolvimento. Nos nossos países, no desporto, há mais voluntarismo do que lucidez”. Esta minha conversa, que tem mais de 40 anos, com um mestre que foi um sangue novo, na teorização do desporto, na Europa, ganhou novo alento, quando li, anos depois, o livro do neurologista e psiquiatra, Boris Cyrulnik, L’homme, la science et la société (Éditions de l’Aube, Paris, 2000, p. 52): “O facto de ser médico neurologista e com muitos anos de investigação, na área da biologia, permite-me dizer que a condição humana é, em primeiro lugar, biológica, mas é como cultura que pode resolver os seus problemas, os mais complexos e os mais instantes”. Eu já me empolgara, anos antes, com o livro clássico de Arnold Gehlen, El Hombre (tradução e edição das Ediciones Sígueme, de Salamanca): “El hombre es un campo de investigación, en el que aun hoy día puede observarse un número indeterminado de fenómenos antes nunca vistos y a los que todavia no se há dado nombre” (p. 11). Porque o homem é tanto (ou mais) qualidade invisível do que quantidade visível; porque a ética é pessoal, antes de tudo, e reflecte portanto as nossas crenças, os nossos hábitos, os nossos projectos de vida - Augusto Baganha sabe que a ética desportiva surge sempre como reflexo da pessoa que o desportista é. E deixou-me portanto este desabafo: “O nosso desporto precisa de uma urgente e visível reforma ética. E não sei se a reforma ética, em que me encontro empenhado, com o apoio inestimável do PNED, não é, quase sempre, subalternizada pelo sensacionalismo de mentiras solenes, pelo ruído delirante de certas notícias e pelo vedetismo de alguns atletas e dirigentes”…

Deflagram casos sucessivos, na alta competição desportiva nacional, manifestando que uma oligarquia da mediocridade a manipula, a dirige, a corrompe. Ninguém, de sólida formação moral (como o Dr. Augusto Baganha), deseja um síncrono afã de “caça às bruxas”. Aliás, relembro o que já, há um bom par de anos, aprendi em Bergson: “o real é demasiado rico, para poder ser conhecido e previsto, com exatidão”. Mas, se com o 25 de Abril se procedeu a uma revolução política e a uma revolução económica e a uma revolução cultural, há necessidade de uma revolução moral, para que uma caravana de malefícios não se perpetue, no nosso país, já que continua ainda por aí acampada. E Augusto Baganha alerta, com emoção: “Falta-nos uma revolução moral. De que Portugal necessita, incluindo o nosso desporto, para que seja possível criar-se um consenso, entre pessoas de boa vontade. Sem ela, as outras revoluções não se concretizam”. E, sem disfarce, acentuou: “Não nos falta conhecimento científico. Mas falta-nos ética, por vezes. Na nossa democracia, as indecisões, as mistificações, as confusões, tão intensamente vividas pelos portugueses de todos os quadrantes ideológicos, são demasiadas vezes de ordem ética”. E, depois de um gesto mudo de desagrado, aduziu: “Fiz desporto altamente competitivo, durante tantos anos; joguei com tantos desportistas de irrepreensível conduta - que me dói, como uma dor física, que haja casos de violência, como o que se passou na Academia de Alcochete, e suspeitas de corrupção, no nosso desporto. Apetece-me dizer: O desporto não merece esta conexão com a corrupção e a violência”. É verdade que Virgílio quis destruir a “Eneida” e Cervantes por pouco não queimou o “Dom Quixote”, mas os motivos eram outros. Erradicar a violência e a corrupção de um espectáculo desportivo, onde os seus melhores intérpretes auferem milhões e milhões de euros, onde o dinheiro salta, em catadupas, é um sonho difícil. Mas saudemos este anúncio, esta promessa de um desportista, como o Dr. Augusto Baganha: é que ele entende, como uma missão a cumprir, a luta em prol de uma revolução moral, no futebol e no desporto nacionais. Saudemos portanto o Presidente do IPDJ.
(Manuel Sérgio, professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana e Provedor para a Ética no Desporto)

Já passaram dois anos e meio desde que o professor Manuel Sérgio, premonitoriamente ou não só ele saberá, entendeu escrever este artigo que aqui vos deixo, para o jornal A Bola. E bem avisada andará muita gente que parece não hesitar nestes dolorosos dias que vamos vivendo em colocar a figura que então deu razão a este texto de tão ilustre, conceituado e respeitado professor, em plano ético e moral semelhante a outras figuras cujo comportamento a Justiça portuguesa terá entendido dever investigar, se ousar debruçar-se sobre este seu insuspeito texto.

Estrada da Beira é uma coisa. Beira da estrada é outra, muito diferente! E jamais haverá prisma por onde possam ser comparadas. Como jamais se poderá comparar a figura de Augusto Baganha, com os "políticos anões" sobre cujas cabeças a espada da nossa Justiça vai muito justamente balançando e todas as pessoas sérias  e decentes desejarão poder ver aplicada se razões para tal vierem a conseguir ser provadas.

Portugal precisa de um "revolução moral"...

É tempo de a Justiça dar o "tiro de partida"!!!...

Leoninamente,
Até à próxima

Adenda - Valerá a pena actualizar acontecimentos mais recentes, aqui.

3 comentários:

  1. “ quem se mete com esta gente...leva”...
    Tudo está nas mãos deles...e “ ao dominarem “ a justiça...
    Fazem o que lhes apetece...
    Devem ser filhos...das que “andam na beira das estradas” ( com o devido respeito...pr’ás mães)

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  2. Extraordinário artigo de opinião, de jornalismo desportivo sério, de ensinamento e reflexão e de guião da ética, escrito pelo admirável Dr. Manuel Sérgio.
    A História é testemunha do passado, exemplo do presente e advertência do futuro.
    Muito de tudo isto, foi em tempo e na oportunidade, ensaiado, implementado e desenvolvido pelo prestigiado Dr. Augusto Baganha, quando exerceu funções públicas como Presidente do Conselho Diretivo do IPDJ.
    Por conseguinte, atente-se então no que hoje, e mais uma vez, é denunciado e reafirmado por tão distinta figura, ao explicitar a confirmação, que enquanto esteve no cargo, presenciou e testemunhou, diversas e inusitadas pressões directas ou mais sibilinas, para favorecer e não aplicar as Leis e os Regulamentos, nem penalizar, um clube/organização/entidade de direito desportivo, que está a braços com múltiplos processos crime por corrupção, fraude e batota, "toupeirices", etc., etc..
    Também no passado recente, outros distintos causídicos, já tinham denunciado a situação, uma vez leram e têm conhecimento de que a PSP agira e procedera a diversas diligências e investigações que conduziram à elaboração de vários e completos relatórios policiais, que identificavam e incriminavam, autores e conexões de apoio logístico e não só, e que foram "arquivados" em gavetas da secretária de um conhecido responsável, sem que este, lhe tenha dado a devida e obrigatória sequência ou adotasse medidas para providenciar o que se encontra determinado e previsto na Lei, o que configura uma enorme e gravíssima usurpação de funções, incumprimento de deveres e obrigações, inadmissivel falta de lealdade institucional e profundo desrespeito pela ética, pelo Direito e pela Justiça ao tentar encobrir e proteger agentes do crime organizado.
    Muito obrigado pela coragem Dr. Augusto Baganha, os Grandes Homens e pessoas de Honra e Vergonha, não pactuam com ilicitudes, infâmias e actos criminosos.
    Agora, é tempo da Procuradoria e da Justiça, apurarem a Verdade, quer eles sejam "patacos", "rebelos" e quejandos, e havendo matéria factual, que não sejam inimputáveis mas sim, levados à barra dos Tribunais, para poderem ser julgados e/ou eventualmente pronunciados em sentença, porque ao contrário do que alguns afirmam, ninguém está acima da Lei e todos merecem igualdade no trato.
    SL

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  3. Ouvi ontem na CMTV um tal Pinotes desancar sem dó nem piedade no dr. Baganha, atribuindo-lhe os mais destravados insultos. Claro que, para quem não seba, o tal Pinotes é deputado na Assembleia da República representando o Partido Socialista, o mesmo do ministro e do secretário de estado que ele defendeu até à exaustão. Falta vergonha a este cavalheiro que para defender o tacho foi capaz de insultar o Dr. Augusto Baganha da forma mais ignominiosa. O partido retribuir-lhe-á, sem dúvida. Só não lhe dará a vergonha de que realmente precisa. É por causa de tipos como este que o André Ventura está a subir. E depressa….

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