Na antecâmara do adeus«Chegou do frio, onde pontificava em ligas ora periféricas, ora secundárias. Apresentou o seu nome difícil de pronúncia e modesto estatuto ao exigente tribunal de Alvalade. Não vinha rotulado de estrela, mas o Sporting teimou no alvo e fez dele a contratação mais cara da sua história.
A retribuição foi épica: abnegação sem limites, golos e assistências em catadupa, títulos conquistados e recordes individuais estratosféricos.
Gyökeres ascendeu ao topo de verde e branco e o Sporting elevou-se com ele. A parceria edificou uma era cujas façanhas ecoarão pelos labirintos da história.
Todavia, porque o homem da máscara é também um homem comum, os sorrisos sucessivos, os abraços entre pares, a cumplicidade com a estrutura, a comunhão com as bancadas e até os laços familiares transportaram esta relação para um outro patamar emocional. Há quem cumpra contratos e há quem construa relações inolvidáveis. Gyökeres tornou-se um dos nossos – e dessa condição nunca se despirá.
Nos últimos dias, a novela do “acordo quebrado” emergiu como se jura gravada em mármore tivesse sido quebrada. Não foi.
Na reunião entre presidente, director desportivo e agente, ocorrida no início da época, houve diálogo sobre o futuro – natural entre partes maduras. Jamais Frederico Varandas, cujos predicados na defesa do Sporting são inquestionáveis, rotularia com preço de saldo um bem essencial e de luxo.
Uma coisa é apalavrar a anuência a um negócio abaixo da cláusula dos 100 milhões de euros. Outra, bem diferente, é delegar a um empresário o poder de fixar o valor de um activo que não lhe pertence.
A cada dia que passa, é mais evidente que a tensão não foi semeada por dentro – mas, ao invés, lançada de fora. Por empresários em missão de comissão. Por rivais na antecâmara de um Verão em brasa. Não é amor, mas sim interesse aquilo que anima a torrente da intriga para a qual nos querem arrastar.
A confirmar-se a sua saída, o universo Sporting jamais esquecerá Gyökeres – e também ele nunca esquecerá o Sporting: foi aqui que se fez nome maior da Europa. Numa família onde todos já queriam saber dele mesmo antes de meter a máscara.
Até num casamento funcional, por vezes chega o momento em que é inevitável invocar a coragem e dizer adeus – permitindo que a vida prossiga em paz e as partes se realizem.
Se a separação for inevitável, que seja reflexo fiel do que foi o matrimónio: digno, cúmplice e frutuoso para ambas as partes. Não há razão para que aquilo que começou bem e decorreu melhor não acabe em beleza para todos.»
Nenhumíssima razão!!!...
Leoninamente,
Até à próxima