sábado, 20 de novembro de 2021

Com os pontos e as vírgulas todas no sítio!...



Francisco Salgado Zenha: «Sporting deve dar-se ao luxo de ter Amorim»
Entrevista Record ao vice-presidente do Sporting

Em exclusivo a Record, o vice-presidente, de 38 anos, responde a tudo: das contas ao empréstimo obrigacionista, passando pelo treinador, as renovações, o mercado e a polémica troca com o FC Porto.

«RECORD – O Sporting acaba de anunciar um novo empréstimo obrigacionista de 30 milhões de euros. Como rosto da emissão, como pensa convencer os investidores?

FRANCISCO SALGADO ZENHA – O Sporting emitiu há três anos uma obrigação idêntica pela mesma taxa de juro. Estamos hoje numa situação muito mais positiva. O Sporting tem rendimento desportivo como já não tinha há muito tempo, tendo sido campeão nacional 19 anos depois. Do ponto de vista estrutural, está numa situação financeira muito melhor e no caminho certo para reverter os prejuízos do passado. Está com os ativos muito mais valorizados. O plantel do Sporting é avaliado no Transfermarkt em quase 200 milhões de euros, contra os 74 milhões de euros de avaliação contabilística. O Sporting hoje apresenta a nível financeiro, estrutural e desportivo uma situação muito mais sólida e interessante. Estamos a entrar numa fase extremamente positiva para o Sporting. Com a redução de custos e o potencial de receitas, vemos o Sporting com uma capacidade de gerar resultados que não tinha há três anos e que, se calhar, teve poucas vezes na história. O momento muito positivo vai ser traduzido em resultados financeiros nos próximos anos. Vou atravessar-me mas estou convencido de que não voltaremos a pagar este spread – 5,50%, porque as Euribor estão negativas – num futuro próximo numa obrigação deste estilo. Espero que esta operação tenha sucesso. Temos um período de comercialização pela frente [de segunda-feira, dia 22, até 6 de dezembro] mas tem tudo para correr bem.

R – A propósito do sucesso desportivo que mencionou, Rúben Amorim tem vindo a dizer que o mais importante para ele é manter quem está no plantel. O Sporting tem de vender jogadores em janeiro?

FSZ – O Sporting trabalha sempre na lógica de o plantel que é definido para a época ser o plantel que fica até ao final da época. Agora, não há jogadores intransferíveis no Sporting. Não é essa a nossa política. Não é esse o nosso modelo de negócio. E não é esse o nosso modelo desportivo, também. Trabalhamos para desenvolver jogadores. Se eles tiverem oportunidade de ir para outro clube e se isso for coincidente, em linha, com a vontade do clube, da direção desportiva e da equipa técnica, então pode acontecer. Se me perguntar assim: ‘Consegue garantir que não saem jogadores?’ Nós não garantimos nada. Aquilo que nós sabemos é que estamos confiantes e confortáveis com o que temos. Achamos que a equipa é sólida, competitiva e pode ficar até ao final da época. Não podemos fechar portas a nenhuma possibilidade, estamos abertos a qualquer uma, mas o que queremos dar é estabilidade. Procuramos sempre que haja essa estabilidade e o mínimo possível de mudanças, na lógica de manter o excelente rendimento desportivo que estamos a ter.

R – Mas cria-se a ideia de que o Sporting, não tendo vendido no verão, poderá estar mais pressionado a fazê-lo agora por razões de equilíbrio das contas e de saúde financeira. Se não vender, poderá reforçar a equipa? Terá condições para isso?

FSZ – Não tive ainda feedback da direção desportiva, da estrutura de futebol, porque ainda não reunimos. O que posso dizer é que o mercado de janeiro, do ponto de vista financeiro, ainda não está orçamentado neste momento. O que não quer dizer que não possam acontecer situações em janeiro. O mercado está aberto. A partir daí, teremos de analisar todas as possibilidades. Agora, do ponto de vista financeiro e de orçamento, não está previsto nenhum investimento no mercado de janeiro. Não estamos a dizer que isso não possa ser alterado, e haver a possibilidade de reforçar, estando o mercado aberto. O Bruno Fernandes foi vendido no mercado de janeiro… Os mercados são muito voláteis, sobretudo nestas fases.

R – Acredita que PSG vai pagar os 40 milhões de euros da opção de compra do Nuno Mendes?

FSZ – Acredito. Não tenho feedback mas, não sendo o meu pelouro, também sei avaliar ativos. Joga regularmente no PSG. É titular da Seleção Nacional. Vejo com maior probabilidade ele ser contratado pelo PSG. Se não for, emprestar um jogador por 7 milhões de euros ao ano não é propriamente um mau negócio para nós. Se o Nuno Mendes voltar será muitíssimo bem-vindo, não tenho dúvidas nenhumas. Mas acredito que vai ser vendido.

R – Olhando mais no médio e longo prazo, o Sporting tem jogadores muito valorizados, como Pote, Palhinha ou Matheus Nunes. Os sportinguistas devem preparar-se para os perderem? Será inevitável?

FSZ – O Sporting é um clube formador, de projeção de jogadores, que fará sempre um esforço grande para reter o talento, mas convicto de que eles sabem que aqui têm oportunidade de mostrarem do que são capazes, dar rendimento e no futuro serem vendidos, com contratos financeiramente mais vantajosos para eles. Eu diria que nós temos de estar preparados para perder jogadores numa base anual mas esta direção tudo fará para, como foi visível neste verão, fazer sempre estas alterações no plantel sem perder a qualidade do grupo, o rendimento, e garantindo que continua competitivo. É esse claramente o nosso objetivo: continuar a vender mas garantindo que a competitividade se mantém. Sabendo que não faz parte da nossa estratégia vender estes ativos todos, estes jogadores todos, numa mesma época. Temos feito esse trabalho, de tornar o plantel cada vez mais equilibrado e suprir situações de saída. Este ano, sem querer meter-me muito na componente mais técnica do futebol, acho que temos um plantel ainda mais equilibrado do que no ano passado. Estou convencido de que para o ano será ainda mais equilibrado. E assim sucessivamente.

R – Têm existido várias renovações de contrato que implicam aumentos de salários. O Sporting está preparado para subir esta fasquia?

FSZ – As renovações em nada alteram a política salarial do Sporting, nem produzem impactos ou desvios naquilo que é a nossa política orçamental. Os aumentos que estão a ser feitos estavam previstos. A massa salarial do Sporting vai andar, em geral, nos valores da última época.

R – Ouvimos Rúben Amorim há dias dizer que gostava de renovar contrato novamente. O Sporting pode dar-se ao luxo de continuar a ter um treinador como ele?

FSZ – Eu acho que o Sporting deve dar-se ao luxo de ter um treinador campeão como o Rúben Amorim. A relação do Sporting com ele está refletida nas palavras do próprio, quando diz que por ele renova. Por nós, estamos sempre abertos também. Já o fizemos, e estamos muito satisfeitos com o trabalho dele. Acho que não há ninguém no Sporting que não esteja. Estamos completamente em sintonia.

R – A questão prendia-se com o salário. Jorge Jesus representava um encargo maior, mas ainda assim será um valor elevado…

FSZ – Nós temos um orçamento e trabalhamos com ele. Somos muito rigorosos. E isto é transversal do futebol às modalidades. Desde que entre no orçamento, teremos obviamente capacidade para negociar, treinador e jogadores. E é isso que fazemos. Até hoje correu sempre muitíssimo bem, com renovações, como aliás estão a acontecer, dentro da capacidade do clube. Se um jogador quer receber um valor astronómico, sabe que no Sporting não é o sítio para pagar valores astronómicos. O Sporting não paga, com certeza, o salário que paga o PSG. Os jogadores sabem que o Sporting pagará aquilo que está dentro da sua capacidade, e adaptam-se a ela. O PSG paga outro tipo de salários...

R – Existe um teto salarial no Sporting?

FSZ – Mais do que tetos salariais, trabalhamos por bandas salariais, que têm a ver com a forma como enquadramos e integramos os jogadores. Definimos a capacidade dentro da nossa política de remuneração, sendo o mais justos e o mais equilibrados possível. Fizemo-lo com os jogadores e com os colaboradores do Sporting. Temos a preocupação de definir bandas salariais e aquilo que podemos pagar por cada um, que seja o mais justo possível. Claro que depois há sempre uma negociação, um desafio. Mas somos muito coerentes com isso. Sabemos aquilo que temos de pagar e não desviamos um cêntimo ao que podemos pagar. Ocorreu aqui uma situação no verão de um jogador [João Mário] que até acabou por ir para outro lado, como sabem. Nós não nos desviamos da nossa política salarial. Depois, se há uma desculpa que é uma razão ou outra... Aqui, os jogadores sabem o que nós podemos pagar e a nossa capacidade. E não há desculpas. Somos frontais. Fazemos aquilo que podemos. Queremos que os jogadores se sintam bem aqui, em casa. Procuramos dar o que podemos. Não somos gananciosos também, como administração. Não damos mais para nós do que aquilo que damos aos outros. Temos sido sempre solidários, até com os layoffs. Reduzimos mais a nós do que reduzimos aos outros. No que damos, não procuramos mais para nós.

R – Falava de João Mário. Era mesmo impossível ficar com ele por motivos salariais?

FSZ – Nós estamos confortáveis com a proposta que fizemos. Era aquilo que podíamos fazer. Que eu saiba, não tivemos nunca uma resposta, de que aquilo que estávamos a oferecer, sequer, não fosse aquilo que o jogador procurava. Portanto, estamos confortáveis com a proposta que fizemos, trabalhada, antecipadamente, para quem quer estar no Sporting CP e quem gosta de estar no Sporting CP. Quem não gosta e não quer, não fica. Mas isso já não é connosco.

R – O que está a dizer é que ainda está à espera da resposta, é isso?

FSZ – Não. Não é isso, até porque eu não estou na negociação com os jogadores. O que digo é que, do ponto de vista financeiro, que é o que me compete, nós tínhamos orçamento, preparámos, demos aquilo que podemos dentro das nossas capacidades. O resto, na parte negocial, tem de perguntar a quem lá esteve.

R – Deu o exemplo da administração no tema dos salários. Por que é que a AG da SAD aprovou um aumento de salários se depois o Conselho de Administração abdicou deles?

FSZ – Quem define a política de remuneração do Conselho de Administração é uma comissão de remunerações que é composta por um painel independente de três pessoas. O salário atual da Sporting SAD está no percentil mais baixo. O que essa comissão fez foi recomendar um limite máximo, que é acima do que nós estamos agora. O Conselho de Administração manteve aquilo que já existia até na direção anterior. E este ano não houve nenhum aumento. O limite já era assim, é igual ao anterior, e nós recebemos abaixo desse limite.

R – A troca de jogadores com o FC Porto (saiu Rodrigo Fernandes, entrou Marco Cruz) levantou suspeitas relativamente aos valores movimentados. Foi uma operação de 11 milhões de euros que, de acordo com a informação enviada à CMVM, não teve impacto nos resultados e no ativo intangível do Sporting. A perceção lá fora é um pouco esta: alguém está a fazer batota aqui?

FSZ – Em relação à batota, do nosso lado não há rigorosamente nada que possam acusar o Sporting e este Conselho de Administração de ter feito que tenha o que quer que seja de influência nas nossas demonstrações financeiras. A prova disso é que o resultado desta troca nas contas do Sporting é zero. O Sporting não tem qualquer mais-valia registada desta troca de jogadores. Zero. O Sporting em nada beneficiou do ponto de vista de contas desta operação. Estamos completamente confortáveis. Não há nenhuma justificação contabilística do que quer que seja para ter feito esta troca. O que há é uma justificação desportiva. Houve uma decisão técnica, depois aprovada em Conselho de Administração, de troca desses dois jogadores. E depois há necessidade de avaliar os jogadores. Não íamos avaliar o Rodrigo Fernandes em zero. Temos de pôr um valor nos contratos e, por isso, tentamos internamente arranjar referências – informações, opções de compra até de jogadores que temos emprestados, jogadores comparáveis que vendemos por valores desta ordem, por exemplo o Thierry Correia. Temos de nos agarrar a estas métricas. Mas, independentemente de ser 0, 5 ou 11, ou 20 M€, não tem nenhum impacto nas contas para nós. No caso do Sporting é zero. E eu falo só do Sporting, não falo dos outros.

R – Não teve impacto nem vai ter?

FSZ – Nas contas do Sporting não tem impacto nenhum. Zero. Mas nos contratos temos de pôr um valor. Os ativos têm um valor. Mesmo na troca. Aliás, posso dizer, as instituições de crédito quando olham para estes contratos estão confortáveis com estes valores. Não somos só nós.

R – A CMVM fez perguntas sobre estes contratos?

FSZ – A CMVM habitualmente pede esclarecimentos, e o Sporting presta sempre esclarecimentos. Prestou e não houve grande tema. Não me parece que, no caso do Sporting, haja razão para grandes temas. Fizemos o que era adequado. A CMVM não poderia ficar preocupada quando a abordagem já é a mais prudente possível.»

Com os pontos e as vírgulas todas no sítio!...

Leoninamente,
Até à próxima

4 comentários:

  1. Como socio do clube sou linearmente contra o aparecimento de entrevistas deste tipo de personagens. Os protagonistas sao os atletas nao outros e nisso tiro o chapéu a Varandas. Sl

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  2. Ja agora, tambem nao percebo esta estrategia de pre-abertura do mercado apareça sempre o
    Mesmo a falar de necessidade de vender passando uma mensagem de necessidade de venda e logo perda de poder negocial para mercado

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    1. Penso que qualquer instituição deverá cuidar da comunicação devida aos seus associados. Acredito que neste caso particular a mensagem passada pelo responsável financeiro, bem como a sua oportunidade e forma, terão sido previamente acertadas com o presidente do Clube e não a vejo como qualquer usurpação dos direitos e deveres de ninguém. Com devido respeito por opiniões contrários, entendo que Zenha esteve bem!...

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  3. Nao podemos ter todos a mesma opinião, ate se tornava aborrecido. Abraço!

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