«1 – As premissas do tema são simples: nos termos do DL n.º 22-B/2021 de 22 de Março, a Liga e a Federação devem apresentar à Autoridade da Concorrência, até 30 de Junho de 2026, uma proposta de comercialização centralizada dos direitos de transmissão televisiva dos jogos das I e II Ligas.
2 – Se o não fizerem, os termos do modelo de comercialização centralizada são definidos pelo Governo, ouvido o regulador.
3 – O novo presidente da Liga já fez saber que não existe na Liga nenhuma proposta e que, coisa que não disse enquanto candidato, os valores expectados podiam ser inferiores aos actuais.
4 – Em França, o adquirente dos direitos, a DAZN, hesita em pagar aos clubes uma tranche dos mesmos, invocando que a sua exploração comercial é deficitária.
5 – O Benfica, com a sua costumada clarividência, já fez saber que não aceitava receber, no âmbito da comercialização centralizada, menos do que agora recebe, ameaçando mesmo que não cumpriria os desígnios governamentais se assim não fosse, ou seja, um apelo à insubordinação civil.
6 – Como acomodar todos estes sinais, muitos deles em rota de contradição?
7 – Independentemente do referido Decreto-Lei ser de extrema infelicidade, e de inspiração algo confusa, porque ninguém acredita que o Governo vá miraculosamente encontrar um comprador e uma repartição onde os interessados directos não conseguiram, o certo é que a caducidade dos principais contratos obriga a que este assunto seja inexoravelmente dirimido.
8 – A primeira e elementar constatação é que seria mais do que conveniente que os clubes se conseguissem entender; mesmo, na prática, valendo pouco as cominações legislativas, era no mínimo temerário deixar ao Secretário de Estado do Desporto a decisão final.
9 – Eu não tenho a opinião que a negociação separada, no mercado português, seja violadora da livre concorrência, mas instalou-se a convicção – talvez porque é o que se faz lá fora – de que só a comercialização centralizada consegue uma repartição equitativa das receitas e melhora a competitividade interna.
10 – Terceiro ponto, os clubes têm de ser pragmáticos e gerir as ofertas que aparecerem, no otimista pressuposto de que alguém se vai chegar à frente e que, com toda a probabilidade, os três grandes vão encaixar menos do que recebem com os actuais contratos.
11 – E, claramente, tendo em conta o peso dos votos na Liga, não vejo que o modelo da comercialização centralizada possa ser revertido, porque os clubes mais pequenos acham que podem ser beneficiados.
12 – Todos, mas sobretudo os grandes, vão ter de se habituar a duas coisas: gastar menos e encontrar fontes de receita alternativas. E os que falaram antes do tempo vão ter de engolir algumas sobrancerias.
13 – O Benfica tem a equipa mais cara de sempre do futebol português e não se vislumbra como a poderá sustentar com o panorama recessivo que se avizinha.
14 – A época do volfrâmio do futebol português vai acabar; resta apertar o cinto e esperar que os talentos da formação continuem a fluir, porque dinheiro para comprar craques caros não parece que seja opção.»
Os adeptos do futebol vão esperar sentados!!!...
Leoninamente,
Até à próxima