terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

A luz intensa de Alvalade!...


A luz intensa que vem do sol nascente

«Não tem a magia dos grandes artistas mas concentra o dom de entender o futebol como desporto colectivo, sustentado numa longa e diversificada cadeia de acontecimentos, à qual é preciso dar sentido e homogeneidade. Está em fase de adaptação a uma grande equipa, num país distante em termos físicos e culturais; procura consolidar elos de ligação ao idioma, aos hábitos, à vida social e a uma comunicação segura, mas já revela enorme capacidade aglutinadora. Morita é um jogador intenso nas acções, ágil ao ponto de corresponder fisicamente aos reflexos que disparam de acordo com a excelência do instinto; por incrível que pareça num homem em plena integração numa realidade desconhecida, revela autoridade para exercer com presença dominante nos caminhos fulcrais e muitas vezes perversos do meio campo.

Sendo um puzzle em construção, entre o que já adquiriu e o que ainda vai conquistar, preserva o arsenal estratégico, técnico e táctico que lhe facilita o entendimento do jogo, razão pela qual oferece à equipa tudo o que esta lhe pede: equilíbrio, versatilidade, segurança e inteligência.

Morita está a consolidar em silêncio os sinais de prestígio, exemplo, intervenção e acerto nas decisões. É quase perfeito nas acções de passe, recepção e remate; ocupa o espaço com precisão, é forte nos duelos e tem boa articulação motora com a bola dominada. As qualidades que possui permitem-lhe ser fundamental na segurança que dá atrás e nas soluções contundentes que oferece à frente, em muitos casos iluminando as estradas de acesso ao golo, do qual se está a tornar íntimo – em 22 jogos como leão, já marcou por cinco vezes (nos últimos sete jogos) e fez duas assistências.

Numa sociedade de aparência e superficialidade as maiores vítimas costumam ser os mais discretos, os menos ruidosos, os que não enamoram as câmaras. Em tempo de globalização, no qual tudo é entretenimento, muitas vezes grotesco e miserável; agora que o Mundo não passa sem as tricas do jet set, da moda, do glamour, das festas mais badaladas, das revistas cor-de-rosa e da publicidade, Morita tomou uma decisão difícil mas acertada atendendo à sua realidade: por educação, personalidade e carácter, recusa-se a debilitar a eficácia do processo de adaptação ao meio em que vive.

O japonês foi certeiro ao tomar a única opção capaz de valorizá-lo como jogador de futebol: vive a profissão para dentro, sacralizou o treino, o balneário e a aprendizagem sistemática; valoriza a equipa como família e disponibilizou-se, aos 27 anos, longe de casa e integrado numa realidade que só agora começa a conhecer por dentro, para expressar o orgulho de competir, de pôr-se à prova todos os dias e de interpretar o melhor possível o sentido de representação do meio em que está inserido. É a luz intensa que vem do sol nascente.

Morita tem feito um esforço notável para corresponder às exigências de Rúben Amorim e seguir a orientação do mestre na mecânica futebolística do Sporting. O sucesso que define a integração até ao momento pode ir mais longe, porque conhece cada vez melhor as chaves colectivas do jogo, preserva a sede de aprender e será tanto melhor e mais valioso quando conseguir aplicar pontos de vista originais na execução do que lhe é exigido. No fundo, terá de ser ele a gerir os efeitos da geometria (posicional e da acção) e interpretá-la com independência do que tem para oferecer; precisa de enriquecer as ideias firmes e concretas do treinador evitando que elas lhe danifiquem a imaginação ou coloquem açaime ao instinto. Morita já é um excelente médio. Tem tudo quanto precisa para ser ainda melhor. Muito melhor...»

A luz intensa de Alvalade!...

Leoninamente,
Até à próxima

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