quinta-feira, 30 de maio de 2019

E que nunca lhe doam as mãos!...


Lembra-te que és mortal

«Logo após a vitória do Jamor, tivemos dois hilários momentos que mostraram, "urbi et orbi", o que é o mal do Sporting: os egos. Ainda mal os jogadores tinham tocado na taça, já Sousa Cintra e Rogério Alves sprintavam para botar discurso para as câmaras, puxando para si louros que deviam ser deixados para quem os merecia. 

Curioso é que ambos estiveram calados na maior parte da época. O primeiro, nunca esclareceu a factura de 17 milhões que deixou para pagar, a lamentável venda de Demiral, o empréstimo de Palhinha, o enigma em torno de Sturaro e o custo abissal de Diaby. Sobretudo isto, caladinho como o melhor dos poetas. O segundo, até pelo cargo que ocupa, fez-se de morto quando a nau não ia por bons ventos e não deu o devido apoio ao timoneiro, utilizando a sua ilustre atracção fatal por microfones em determinados momentos comunicacionais onde poderia ter sido útil.

Enquanto isso, Frederico Varandas mantinha o seu distanciamento, deixando, bem, o palco como redenção da derrota da época transacta, para Bruno Fernandes e restantes companheiros. Agora, já é tempo de balanços, com a racionalidade de quem não se senta com o poder mas também não é conivente com a oposição, com independência, algo que é um valor tão difícil de entender para muitos. Este era o ano zero de Varandas, tal como referiu na entrevista à RTP, onde até sentenciou: «o ano zero já nos deu um título» (na altura a Taça da Liga). O que é natural pois tomou posse em Setembro, já com as épocas desportivas das diversas modalidades a decorrer. A ele não se devem as taças europeias conquistadas no judo, atletismo, hóquei em patins e futsal, porém, se isto é absolutamente real, também não é culpado da perda dos títulos nacionais em voleibol, andebol e hóquei em patins. Era o seu ano zero.

No futebol a sua intervenção já foi diferente. Não construiu o plantel nem o preparou, contudo, mudou o treinador, escolhendo um holandês desconhecido e que em 9 meses ganhou tanto como Jorge Jesus em três anos. Significa isto que ele é melhor que o português? Não, apenas que tem o salvo-conduto, mas não um cheque em branco dos adeptos, para iniciar e preparar o plantel da próxima época onde será um dos candidatos ao campeonato. Varandas mexeu bem na Academia e no mercado de inverno conseguiu boas opções desportivas que poderão ter excelente retorno financeiro (Borja, Luis Phellype e Doumbia são indiscutivelmente bons negócios).

Varandas, com evidentes lacunas comunicacionais, o maior pecado do clube há décadas, tem assim no seu ano zero dos melhores resultados dos últimos anos no futebol, uma época positiva, diga-se sem se vangloriar estupidamente nem com azias que não contribuem para o trilho de conquistas que todos os sportinguistas desejam. Na próxima temporada começa a verdadeira odisseia do jovem presidente, desta vez será ele, os seus homens a darem o cunho a este seu primeiro ano de total responsabilidade. Convém como militar que nunca se esqueça que, em Roma, quando um general entrava na cidade para ser homenageado depois de vitórias, um escravo dizia-lhe repetidamente ao ouvido: «lembra-te que és mortal». Para que ele não sentisse que era invencível e se tornasse uma ameaça à democracia. E no Sporting ninguém gosta de ditadores, respeitam-se líderes que sabem ouvir.»
(Rui Calafate, Factor Racional, in Record)


Será muito difícil encontrar, dentro da família sportinguista, quem seja capaz de melhor colocar as 'pintas nos is' que Rui Clafate!...

E que nunca lhe doam as mãos!...

Leoninamente,
Até à próxima

1 comentário:

  1. De acordo com este sportinguista que tem o mérito de pensar, por si próprio, a atualidade do nosso clube.

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