Carlos Vieira: «Fiquei pelo Sporting e não me arrependo»
É considerado o responsável pela recuperação financeira e esteve até ao fim com BdC. Sem rancores por não poder candidatar-se, o gestor espera o resultado da providência cautelar para votar.
RECORD: Sente-se injustiçado com a suspensão de 10 meses que lhe foi aplicada?
CARLOS VIEIRA – Sim. A ideia que fica é que fui castigado por um procedimento que de alguma forma considero ilegítimo pois o Conselho Fiscal e Disciplinar estava em funções. A maioria dos membros da Comissão de Fiscalização não é isenta na avaliação que faz e pegam em três situações que, no meu entender, não têm razão de ser. Nós tomámos decisões em função de pareceres que tínhamos, assim que vieram indicações contrárias por parte de um juiz invertemos a nossa posição. Há o sentimento de alguma instrumentalização por parte da Comissão de Fiscalização e fico chocado com a presença de membros da Comissão de Fiscalização em órgãos de comunicação social. Já tivemos o Paulo Santos, que foi o meu instrutor no processo e com quem estive reunido numa inquirição e, anteontem, vi a Rita Garcia Pereira na televisão a falar publicamente dos processos. Sinto-me injustiçado pois há processos a decorrer e a lei é cega...Vamos acreditar que sim! Não poder candidatar-me foi um rude golpe, mas sou sportinguista, a suspensão não me impede de ser sócio. Posso estar com os direitos suspensos, mas quero votar nas próximas eleições e vou fazer valer os meus direitos na medida do possível.
R: É somente para votar que mantém a providência cautelar?
CV – A providência cautelar foi interposta e o juiz decidiu que o Sporting fosse ouvido. Com isso perdeu-se o ‘timing’ da candidatura… É preciso um bocadinho de inteligência emocional para saber recuar, mas quero exercer em pleno dos meus direitos de sportinguista e de sócio.
R: Já Bruno de Carvalho ainda tenta candidatar-se. Acha que ele tem condições?
CV – Todos os sportinguistas se deviam poder candidatar, mas Bruno de Carvalho faz as coisas de uma maneira que não concordo e não faço. A grande crítica que faço à Comissão de Gestão é que tem comportamentos que condenava anteriormente. Eu entendo que as pessoas devem recuar e que as minhas acções podem prejudicar o Sporting no futuro. Com este número de candidatos alguém com 20% pode ganhar as eleições, mas temos de perceber se amanhã os outros 80% vão estar do nosso lado ou dar-nos o benefício da dúvida. Caso contrário vamos continuar num plano de guerrilha interna que só prejudica o Sporting e beneficia os nossos adversários.
R: O que falhou nos últimos seis meses?
CV – Inteligência emocional. Estávamos todos tão desgastados e martirizados física e mentalmente que as decisões foram tomadas sem o discernimento certo. É preciso dar um ou dois passos atrás para posteriormente darmos outros mais à frente. Não é admissível ver a casa do vizinho a arder e fazer conferências de imprensa de três horas. Eu estive nas mesmas conferências e não vou fugir a essa responsabilidade. É por isso que eu assumo que faltou inteligência emocional na forma de reagir às situações de crise.
R: Foi pressionado a demitir-se no final?
CV – Eu não. Não recebi ameaças ou ofertas , mas sei que aconteceu com colegas meus e vi provas disso. Fiquei pelo Sporting e não me arrependo de nada pois aprendi muito.
R: Confirma que é o responsável pelo novo regulamento disciplinar, como afirmou BdC?
CV – Não, de todo. Foi revisto neste segundo mandato e passou por mim pois tinha o pelouro jurídico. Foi feito pela equipa jurídica do Sporting e se BdC queria fazer algum tipo de alteração não sei qual era. Ele gosta muito de falar de mensagens, também as tenho, mas não sou eu que as vou mostrar pois não é de todo o meu estilo. É o oportunismo político que pode deixar algum alerta aos que estão com ele agora. BdC tomou excelentes decisões, e uma delas foi convidar-me a mim, ao Rui Caeiro, ao Luís Gestas, ao José Quintela e ao Luís Roque. Digo isto com ironia e alguma arrogância pois outras pessoas não tiveram um comportamento alinhado com os interesses do Sporting. Os sportinguistas já erraram em assembleias gerais e depois andamos a chorar sobre o leite derramado. Eu entendi, a bem ou a mal, que devíamos organizar a assembleia geral de destituição e cerca de 10 mil pessoas votaram pela nossa saída. Se fosse avaliada individualmente e não pelo colectivo se calhar as coisas seriam diferentes...não sei. Hoje tenho essa sensação e foi isso que me fez candidatar à presidência. Em eleições dizem-se muitas coisas para esquecer. É uma jogada política e as opiniões vão ficar com cada um deles. A minha preocupação é o Sporting, sou um profissional que já tinha vida antes e vou continuar com ela.
R: Confirma uma conversa com Elsa Judas sobre o pagamento de verbas que Bruno de Carvalho considerou estranho?
CV – Não vou confirmar essa ou outra conversa, em condição alguma. A não ser que seja intimado por algum tribunal, não irei divulgar qualquer conversa. Acho que Bruno de Carvalho já se arrependeu de ter dito isso e não vou fazer mais comentários sobre o assunto. Ele é sócio do Sporting como eu e queremos um futuro cheio de sucesso, e por esse motivo os conflitos são inaceitáveis. Houve diferenças nas modalidades e no futebol. Nas modalidades vencemos e no futebol... temos de tirar ilacções.
Carlos Vieira: «Se hoje tivesse de votar escolheria Dias Ferreira»
R: Uma vez que não poderá concorrer às eleições, em quem votará?
CV – Apoio é o voto e eu quero poder votar para me sentir recompensado. Na vontade de ajudar o Sporting vejo duas pessoas, uma muito simpática, que é o Tavares Pereira, mas se hoje tivesse de votar escolheria Dias Ferreira. Acho que tem uma equipa equilibrada e com alguma qualidade no conhecimento dos dossiês. Depois é o único que vejo com capacidade para defender o clube na questão da verdade desportiva. Ele tem essa capacidade pois tem experiência e também tem capacidade para ouvir as críticas positivas e negativas. Eu julgo que tem as condições para ultrapassar este período conturbado pois tem uma agressividade de levantar as questões que não vejo serem discutidas por mais ninguém. Sinto que há receio em falar destes temas e não percebo porquê.
R: Aceitava um convite de Dias Ferreira ou João Benedito, que ainda não revelou o seu CEO?
CV – Preocupo-me com o Sporting, mas tenho uma vida profissional e estou a retomar algumas coisas que deixei de fazer. Segundo sei o João Benedito tem alguém com funções na banca e é preciso cuidado na divulgação de nomes. É como anunciar nomes de funcionários do clube, apesar de não haver uma proibição. Se houver uma oportunidade e for interessante não digo que não, sou um profissional, conheço as minhas capacidades e espero que as outras pessoas também as reconheçam. Não enjeitaria um convite, mas esta prática não é justa para quem tem uma equipa montada e a intenção de cumprir um programa. Se me convidarem não digo que não pois o Sporting é sempre prioritário.
R: O Sporting precisa de 100 milhões de euros como tem sido anunciado?
CV – Não, isso é falso e foi lançado por José Maria Ricciardi que tem uma estratégia interessante pois não se lhe pode fazer muitas perguntas sobre futebol. É preciso criar uma besta-negra para se dizer que se não for eu é o caos. Foi aprovado na SAD um empréstimo obrigacionista até 60 milhões de euros que será renovado em Novembro. As necessidades de tesouraria estão identificadas e as contas são públicas.
R: Está descansado depois de ouvir todos os candidatos terem confirmado o interesse na aquisição das VMOC?
CV – Sim, estou tranquilo. Há sempre riscos, mas os sportinguistas não são idiotas e estão muito mais alerta. As redes sociais permitem colocar cá fora mais informação. Já todos disseram que queriam o controlo da SAD e se não o fizerem será por incompetência. É uma ocasião única, mesmo histórica, de manter a maioria da SAD e até garantir o total do capital da SAD. É preciso que todos baixemos o ‘soundbite’ negativo.
Carlos Vieira: «Não há desvio da SAD para o clube»
R: Pode garantir a sustentabilidade das modalidades?
CV – As contas do Sporting são positivas e os orçamentos são positivos. É uma falácia que é lançada pelos nossos adversários que querem voltar a ganhar. As contas serão apresentadas até final de setembro. Fala-se num orçamento de 25 milhões…É um orçamento que divulgámos a todos os sócios e que foi chumbado pela Comissão de Gestão e ficou numa gestão de duodécimos. Essa decisão até faz sentido pois os contratos estavam assinados e tudo foi planificado. O orçamento está definido e as linhas de receita estão lá descritas. O custo com pessoal é de dez milhões, mas cada equipa que vai às competições europeias implica um gasto extra de 100 a 200 mil euros. Depois há as amortizações...
R: Pode garantir que não houve qualquer desvio por parte da SAD para pagar este sucesso nas modalidades?
CV – Não há qualquer desvio da SAD para o clube, até havia dívidas da SAD para o clube. É curioso pois quando chegámos em 2013 o clube tinha 50 milhões de dívidas à SAD. Preferimos ficar a dever à banca do que à SAD. Quando chegámos a SAD estava em pré-falência e a nossa preocupação foi criar um nível de defesa. Se houvesse um colapso na SAD, o clube podia manter-se. Há uma separação clara entre a realidade do clube e a da SAD.
(Entrevista de João Soares Ribeiro, in Record, hoje)
Carlos Fernando Barreiros Godinho Vieira, o vice-presidente para a área financeira do Sporting Clube de Portugal, provavelmente para o grande universo leonino, o único elemento do Conselho Directivo destituído em AG a 23 de Junho de 2018, a sair incólume e a poder andar na rua de cabeça levantada, pese embora só o tempo possa vir a esclarecer a sua posição de deliberadamente se ter deixado arrastar por uma enxurrada a que nunca terá pertencido e onde se deveria ter recusado a continuar, dá hoje uma entrevista ao jornal record, conduzida pelo jornalista João Soares Ribeiro.
Uma contribuição, quem sabe se decisiva, para o acto eleitoral que rapidamente se aproxima...
"Penso eu de que"... valerá a pena ler!...
Leoninamente,
Até à próxima
Boa noite!
ResponderEliminarPassem pelo meu blogue, leiam "A minha primeira memória de… um dérbi entre Benfica e Sporting" e digam de vossa justiça: qual é a vossa primeira memória de um dérbi e quais os dérbis mais marcantes de sempre?
http://davidjosepereira.blogspot.com/2018/08/a-minha-primeira-memoria-de-um-derbi.html
Depois deixem o vosso feedback, é importante para um debate saudável sobre o tema.
Abraço
É a entrevista de alguem que tem vida e trabalho, que não precisa de se servir do Sporting e que poderia ser muito util ao Sporting...DF, tinha aqui alguem muito valido para a sua causa...
ResponderEliminarEstou plenamente de acordo!...
EliminarTenho a mesma opinião.
Eliminar