Será ele o futuro rosto da Selecção
«Começou por dar uma bola às qualidades de líder; realizou-se quando o rodearam de um exército para exercer dotes de marechal implacável e ofereceu-se como exemplo para os companheiros, que o seguem convictos de que o líder conhece caminho e destino. Bruno Fernandes habituou-se a ser dono de jogos nos quais assume o papel de gregário, usufruindo do trono como funcionário exemplar, empenhado, solidário, altruísta e comprometido. Mas o seu futebol só ganha toda a dimensão quando acrescenta elementos que beneficiam o colectivo por criatividade, inteligência, técnica, habilidade e soluções tácticas – uma aposta de que vai ser treinador? BF contribui perseguindo adversários para defender o espaço e recuperar a bola, mas também com dotes criteriosos e imaginativos no momento de iniciar o processo de construção. Poucos como ele são capazes de entender o jogo como desporto colectivo, que reclama harmonia na contribuição individual de cada um.
Intermediário perfeito entre a equipa e os avançados, faz da contundência goleadora uma arma suplementar – em Inglaterra tem 53 golos em 146 presenças, números estratosféricos para um médio. BF faz o que deve nas zonas neutras e ilumina com esplendor os terrenos onde os espaços aparecem e desaparecem num estalar de dedos. É o condutor que cumpre o senso comum e o artista que desestabiliza a rotina; em décimos de segundo vê, avalia e decide; tem panorama e nunca se engana nas decisões estruturais que toma – sabe quando deve levar a bola ou passá-la; jogar curto ou longo; para o lado ou em profundidade. Vive à procura de espaços vazios, com argumentos superiores e visão de craque universal.
Nunca será só mais uma peça da engrenagem. Integrado na máquina, tem de perceber como funciona, que papel lhe está destinado, o que pretendem da sua contribuição e que condições lhe dão para cumprir a tarefa. O resto é com ele: a operacionalização do trabalho, o modo como age, soma e multiplica o rendimento dos outros resulta em exclusivo da sua acção, estimulada em consonância com as ideias, a estratégia e o plano do treinador, em cujo resultado todos devem acreditar. Em BF coincidem valores antagónicos como intuição e ciência; paixão e responsabilidade; liberdade e controlo; risco e organização. Tanto pode ser o general desesperado em busca do sucesso improvável ou o mágico de botas suaves e ideias brilhantes que encontra buracos nas muralhas levantadas à sua volta.
Na segunda metade de 2019/20, precisou não mais de duas semanas para revolucionar o futebol do Manchester United e transformar uma equipa à beira da rotura no respeitável 3.º classificado da Premier League – 22 jogos e 12 golos. Em Inglaterra, apesar da resistência inicial, foi evidente a convicção de que tinha talento e dotes de organizador para assumir o papel de chefe de orquestra. Agora que tem o caminho livre para assumir a liderança técnica, táctica e moral da Selecção, só tem de aproveitar as circunstâncias para elevar o estatuto: quanto mais reconhecido é no meio onde habita, melhor é o seu rendimento. Quando Cristiano e Pepe se despedirem, será ele o capitão indiscutível, líder por exemplo, carisma e perfil congregador.
Finalizado o Mundial’2022, aos 28 anos, tem tudo para ser o rosto do futuro imediato da Seleção Nacional; o comandante à volta de quem vale a pena montar uma equipa com ambições planetárias; o denominador comum de um exército de luxo, composto por militares magistrais como Bernardo Silva, João Félix e Vitinha, e por estrelas mundialmente reconhecidas como Rúben Dias, Cancelo, Rafael Leão, Nuno Mendes e Diogo Costa.
A confiança e o talento
O suplício de aturar Diego Simeone pode muito bem ter chegado ao fim
João Félix foi destaque da Selecção, na qual exerceu relevância nunca antes vista. Condicionado pelos momentos de infelicidade no Atlético Madrid, teve resposta à altura. Nada que surpreenda face ao talento que tem, porque os grandes jogadores, quando recebem confiança do treinador, costumam retribuir com talento. Oxalá seja o mote para o que aí vem.
O génio risonho de Rafael Leão
O padrão criativo tem as marcas do sorriso e é irreverente com tanta arte
Rafael Leão não se afirmou ainda por Portugal. Parece estranho que o melhor jogador da Serie A tenha tão pouca relevância na Selecção. A preguiça aparente (o deambular é enigmático) faz parte das geniais acções feitas de aceleração, travagem, fuga, técnica e frieza na conclusão. É um génio, cuja atitude sugere (erradamente) falta de responsabilidade.
Troca de William soube a injustiça
Há decisões cujo resultado não cumpre o objectivo com que foram pensadas
William Carvalho foi o único titular com a Suíça a perder o lugar com Marrocos. A máxima de ‘em equipa que ganha não se mexe’ não é para levar sempre à risca, mas atendendo ao menor fulgor do substituto (Rúben Neves) e à origem da mudança (apelo ao melhor jogo longo e ao tiro de fora), a Selecção nada ganhou com a troca. Restou o sabor a injustiça.»
Escrito e muito bem escrito...
O que todos nós pensamos!!!...
Leoninamente,
Até à próxima
E já agora, uma palavra para Rui Patrício?
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