«Rúben Amorim dominou 2021 agarrado à parte mais visível do sucesso, isto é, ter evidência ganhadora num clube em prolongado jejum de grandes conquistas. Há quem lute para alterar as coisas, ele dedica-se a melhorá-las; se outros chocam com a realidade, ele adapta-se a ela. O comportamento desde que chegou a Alvalade tem sido exemplar, pela gestão do grupo e pelas regras impostas. O Sporting é uma equipa que mantém os princípios básicos do entendimento profissional e da actuação em grupo, e tem sabido filtrar com perfeição a parte venenosa do êxito (vaidade) e do fracasso (o conflito). Uma família unida nas convicções e nos objectivos, desde o presidente aos tratadores da relva.
RA accionou o motor de orgulho, paixão, entusiasmo, responsabilidade e ambição, apetrechando-o com inovação, competência e talento. É justo que receba em vida o reconhecimento que só costuma crescer em glórias póstumas. O Sporting campeão, concebido e liderado por um treinador visionário, resulta de uma equipa na qual a qualidade técnica individual, a inteligência táctica, os limites físicos, o compromisso, o entendimento de princípios específicos (domínio absoluto das bolas paradas defensivas e ofensivas) e a assimilação das regras instituídas têm o mesmo peso na produção global.
Poucas equipas dominam com tanta segurança conceitos relacionados com as suas capacidades motoras, adaptadas à função de cada elemento; há exércitos mais frenéticos e contundentes, mas raros utilizam o físico e seus derivados com adaptação tão perfeita às necessidades do colectivo. A identidade do campeão passa pelo respeito da ocupação do espaço, mas também pela superioridade motora adaptada ao modelo de jogo. Um conjunto que revela parâmetros atléticos, tácticos, dinâmicos e comportamentais oleados, com os quais empurra os antagonistas para zonas neutras do terreno, onde os imobiliza para depois os golpear com saídas rápidas, ordenadas, participadas e temíveis.
Para resolver problemas, RA utiliza a solução que implica o funcionamento harmonioso, juntando as tropas para dialogar com bola ou para defender colectiva, solidária e ordenadamente. O Sporting é uma equipa que, por posicionamento, atitude e argumentos expressos das mais variadas formas, pode até permitir ao adversário ter mais posse de bola, mas nunca o comando do jogo.
Em Alvalade, a RA bastava ganhar para ser herói. Num clube em jejum de títulos há 19 anos, a estética, a forma e a base de sustentação do êxito seriam secundários. A história tem sido explicada pela rama, pela excelência dos valores mais visíveis: conhecimento, liderança, comunicação e aposta na formação, aos quais o próprio Rúben acrescentou o peso da estrelinha que o acompanha. Mas a extensão do que já conseguiu excede conceitos tão simples, porque a revolução verde e branca (e não tenhamos medo das palavras, porque de uma revolução se trata) é muito mais profunda do que um simples título nacional; o modo como anulou o atraso que parecia irreversível, gerou riqueza e se propõe atacar o futuro olhos nos olhos com as grandes potências, identifica um extraordinário treinador de futebol.
Desde os Cinco Violinos, potência dominante entre as décadas de 30 a 50 do século passado, que o Sporting não tinha quem alargasse a influência do treino ao futebol português. Entre os treinadores que valem a pena há os bons, os muito bons e os excepcionais. E depois há dois ou três iluminados que, por empirismo, domínio científico, obsessão e talento natural, se adiantam ao seu tempo e apresentam soluções que nunca tínhamos sequer imaginado. Pode ser cedo para dizê-lo, mas é esse o destino de Rúben Amorim...»
E será que, conforme o próprio vaticinou recentemente...
O melhor ainda está para vir?!...
Leoninamente,
Até à próxima
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