terça-feira, 24 de outubro de 2017

É que na primeira qualquer cai, mas na segunda...


APITO ENCRAVADO

«A notícia inicial foi que os árbitros iam fazer greve aos jogos da Taça da Liga. Depois foi dito que era um boicote e agora é pedido de dispensa.

Esta singular iniciativa, merece óbvios comentários.

Em primeiro lugar, tenho dúvidas que se esteja perante uma greve legalmente declarada, nos termos do artº 531º do Código do Trabalho. Não foi decretada por nenhum sindicato, nem há notícia de plenário de trabalhadores que cumpra os requisitos legais.

Em segundo lugar, a soi-disant greve não visa a entidade patronal, outrossim terceiros, estranhos à relação laboral ou de prestação de serviços estabelecida; os promotores são bem claros, não está em causa a tabela salarial em vias de negociação com a Federação.


Assim, se árbitros houver que não se disponibilizem para apitar, ou não compareçam aos jogos para que foram nomeados, estão objectivamente a incumprir perante a sua entidade patronal, ou quem lhes paga à luz de outro tipo de relação contratual e sujeitam-se às consequência legais daí advenientes.

Se eu cumpro com as minhas obrigações, não vislumbro razões para a outra parte, que remunero, ficar dispensada de o fazer.

Diz a APAF que o boicote se destina a protestar contra o clima de asfixia e suspeição que grassa conta a arbitragem em geral e que, alegadamente, é fomentado pelos discursos incendiários dos dirigentes desportivos.

Não me custa nada a admitir que há dirigentes que excedem os limites do que deve ser a expressão do desagrado e da liberdade de opinião em Portugal. O resto, com a devida licença pelo prosaicismo, é treta.

Como em tudo na vida, uma pessoa só é respeitada, se se der ao respeito; e estas lágrimas de crocodilo da APAF têm muito que ver com rebates de consciência, fruto das suas reiteradas e importantes omissões.

Teria ficado bem à APAF, explicar que os árbitros receberem vouchers para almoçar no restaurante do Benfica, pode eventualmente não ser ilegal face aos regulamentos - eu pessoalmente acho que é - mas que do ponto de vista ético, é reprovável que um árbitro se alimente às contas de um clube, no quadro de uma gentileza que vai para além do momento temporal da prenda simbólica, que a equipa visitada e que gosta de receber bem, oferece.

O comunicado que, a propósito, a APAF emitiu em Janeiro de 2016, quando o assunto foi despoletado, é um modelo de aliviar para canto.

Ao contrário do que diz o Prof. César das Neves, há almoços grátis, só que não são inocentes.
O mesmo se diga dos meninos queridos ou da promiscuidade subterrânea entre ex-árbitros e dirigentes; não consta que a APAF se tenha dado ao trabalho de abrir um inquérito ou exprimir publicamente preocupação.

O ambiente contra os árbitros em Portugal não é bom, e estou de acordo, que, a bem da modalidade, este estado de coisas tem de ser alterado.

Só que os árbitros e a sua associação de classe, têm de estar na primeira linha o combate pela sua reabilitação, juntamente com outros agentes desportivos.

E não é pedindo dispensa que chegam lá.»
(Carlos Barbosa da Cruz, O canto do Morais, in Record)


Confesso que há já algum tempo e por via de recorrentes demonstrações menos elevadas de cavalheirismo e respeito pelo Sporting nas colunas que habitualmente assina no jornal Record, tinha colocado a figura do sportinguista Carlos Barbosa da Cruz no limitado rol de criaturas que aqui em Leoninamente estão destinadas a sofrer do mais profundo ostracismo. Estou certo que navegando nas cálidas, embora perigosas, águas em que costuma navegar, além de com toda a naturalidade ignorar de todo o pequeno atalho que aqui o poderia conduzir, mesmo que tal não correspondesse à realidade, o mais provável é que se marimbasse para tal facto. A história acabaria aí e cada um prosseguiria o seu caminho...

Mas a crónica que hoje fez publicar no jornal, conseguiu fazer retinir as campaínhas do meu orgulho de sportinguista e "obrigou-me" a trazê-lo de novo para a lista daqueles a quem, por obras valorosas, presto a homenagem de aqui trazer. Lá tive de voltar a reconstruir a imagem que aparece acima e, desta vez, com muito maior benevolência estética, tanto na postura, quanto na própria cor, luminosidade e contraste, de modo a "insuflar-lhe" aquelas características próprias de um leão. Sim porque ainda que mais de 14 milhões vejam como estulta esta minha convicção, o certo é que há uma diferença colossal entre as imagens de um sportinguista e as de outros adeptos quaisquer.

Tudo a propósito da excelente crónica que hoje assina e que eu gostaria de ter sido capaz de escrever, com o seu engenho, arte e conhecimento. Mas o seu a seu dono e o máximo que a mim me cabe dizer é que subscrevo vírgula por vírgula todo o seu texto...

Agora só espero que em futuras crónicas não volte a decepcionar-me e não me obrigue a voltar à primeira forma...

É que na primeira qualquer cai, mas na segunda...

Leoninamente,
Até à próxima

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