sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Mas este leão que sou pela-se cada vez mais pelas suas análises à equipa!...


Rogério Casanova viu Palhinha declarar guerra ao pensamento livre no meio-campo ofensivo do Astana (e a desembaraçar-se bem de barafundas)



Rui Patrício. Na tarde em que se tornou o jogador do Sporting com mais jogos nas competições europeias supervisionou atentamente a assembleia defensiva à sua frente, que hoje decidiu reger-se estritamente pela regra de Chatham House: cometer variadíssimos erros, mas sem vincular cada erro a qualquer elemento individual. Sofreu três golos e viu duas bolas nos postes sem poder fazer uma única defesa até ao minuto 89. O primeiro desses golos deixou dúvidas a muita gente, mas o facto de não ter sido marcado por Doumbia justifica plenamente a sua validação.

Ristovski. Um erro de posicionamento logo a abrir inaugurou uma primeira parte algo penosa, onde os cortes à queima teimavam em falhar e os adversários lhe ganhavam repetidamente o espaço nas costas. Teve uma boa incursão ofensiva ao minuto 34 (onde só falhou o último passe, já em esforço), mas nunca conseguiu propriamente engatilhar. Ainda assim, fica a ideia de que, tão ou mais importantes do que os 800 mil euros que o separam de Piccini, foram a ausência de um segundo, terceiro e quarto lateral-direito em funções auxiliares, o que acontece sempre que os Gelsons Martins estão em campo.

André Pinto. Está inesperadamente um central cada vez mais parecido com Paulo Oliveira (muito mais do que parecia no Braga): a mesma capacidade para entrar relativamente bem no onze após longos períodos de ausência, a mesma debilidade na saída de bola que o leva quase sempre a delegar essa tarefa no cidadão mais próximo (que muitas vezes é Patrício), o mesmo nervosismo militante, que paradoxalmente não se manifesta como ansiedade, mas como uma patológica e eficaz atenção ao perigo. É a definição exemplar de um terceiro central, desde que os dois titulares sejam quem são.

Mathieu. Tal como Coates, também ele renunciou à violência em todas as suas formas directas (desde que não lhe apareça à frente um emprestado do Benfica), preferindo encarnar uma espécie de Banalidade do Mal: capaz de organizar a mecânica de exclusão inerente ao processo defensivo como se fosse algo tão pacato como uma operação de contabilidade num campo de extermínio. Às vezes nem se dá por ele, mas no fim do dia as continhas aparecem todas feitas, numa caligrafia exemplar.

Fábio Coentrão. Depois de alguns contratempos iniciais, tanto a controlar os movimentos do mesmo ganês que tanto trabalho lhe dera na primeira mão como até ao nível do passe, acabou por acertar e fez um bom jogo. Mérito também para Jorge Jesus, ao mantê-lo em campo hoje até ao fim: a passagem aos oitavos de final em princípio não devia justificar a destruição irada de mais um banco de suplentes, mas depois daqueles minutos finais, e conhecendo Coentrão, nunca fiando.

Palhinha. Mostrou bem cedo ao que vinha, declarando guerra ao pensamento livre no meio-campo ofensivo do Astana, e não permitindo que os cazaques agissem com autonomia perto de si. É rápido na antecipação, é bom (mesmo muito bom) no desarme, tem um raio de acção mais largo do que parecia quando se estreou na equipa principal e, mesmo continuando a não ser um prodígio em tarefas de organização, é capaz de desembaraçar-se de barafundas com soluções técnicas inesperadas (como fez ao minuto 28).

Battaglia. Tudo no seu estilo de jogo berra aos quatro ventos o seu amor pela liberdade, e a dedicação extrema de cada fibra da sua vontade a combater aquilo que vê como o grande inimigo do futebol: o conceito de posse colectiva de bola. Para Battaglia, a bola não pode nem deve estar na "posse" de qualquer equipa, mas sim na posse de indivíduos: um colega (o que é bom), um adversário (o que é mau), ou então dele próprio (o que é neutro, visto tratar-se apenas de uma situação temporária). Se toda a gente perceber estes princípios e não tentar incluir Battaglia em esquemas comunistas (passes, tabelas, etc), vai correr tudo bem.

Rúben Ribeiro. A sua inegável autoconfiança deve ter sido tão importante como o seu talento (também inegável) para atingir o patamar que atingiu nas últimas três temporadas. É quase possível imaginá-lo a comentar as próprias jogadas numa voz interior motivadora, em frente a um espelho metafórico que o acompanha em permanência ("Vais perder esta bola Rúben. Mas vais só perdê-la, ou vais perdê-la de maneira especial? Ora aí está a resposta! Rúben, seu magnífico animal, como é que consegues?"). Mas nesta altura, enquanto aquilo que é capaz de oferecer à equipa seja apenas uma elegante e vagarosa retenção de bola, é possível que a melhor maneira de a usar essa autoconfiança seja redireccioná-la para o banco, permitindo-lhe que não perceba a perda da titularidade, mas também não fique minimamente afectado por isso.

Bryan Ruiz. Uma assistência perfeita na sua primeira intervenção no jogo, mas mais um jogo em que serviu essencialmente como órgão consultivo para os colegas: o seu trabalho é oferecer uma segunda opinião. A bola agora pode ir para aí? Não, não, é melhor ir para ali. Então vamos a isso. É um pouco como Orfeu, depois de ser despedaçado pelas Mênades: já praticamente só lhe resta uma cabeça decepada, mas enquanto flutua pelo Rio Hebrus, lá vai tentando cantar umas cantigas.

Bruno Fernandes. Um daqueles dias em que quase tudo lhe corre bem, e até as bombas vão parar lá dentro, em vez de proporcionarem "grandes defesas" aos inimigos. Percebe-se a ansiedade geral dos adeptos quando os minutos vão passando e não é substituído para descansar, tal a sua predominância em quase tudo de bom que nos vai acontecendo. Mas há ali uma competitividade curiosa que por vezes se parece sobrepor a qualquer fadiga (a um quarto de hora do fim, depois de ganhar um canto, é ele quem vem atrapalhar o consequente contra-ataque do Astana, depois de um sprint até ao seu meio-campo). E que se nota também num estilo muito próprio de exasperação quando a coisa - qualquer coisa - não lhe corre bem. É assim quando o último passe não sai, ou quando o remate não vai enquadrado, mas sente-se que teria a mesma reacção se fosse um arquivista desiludido com o formato dos agrafos ao seu dispor.

Bas Dost. As tentativas cada vez mais exóticas para prejudicar a época do Sporting atingiram o cúmulo do ridículo na segunda-feira, quando o jogo em Tondela foi prolongado para lá do absurdo, com a clara intenção de desgastar os jogadores e pôr em risco a permanência na Liga Europa, o segundo troféu mais prestigiante da temporada a seguir à Taça da Liga. Saiu-lhes o tiro pela culatra, no essencial, muito graças a Dost; mas também foi ele o mais penalizado por ter jogado essencialmente três jogos numa semana, e terminou a noite em dificuldades. Esperemos que não seja nada de grave, pois a última coisa de que o futebol português precisa é que estes esquemas manhosos tenham sucesso.

Acuña. Entrou bem, ganhando uma falta quando se preparava para entrar na área ao minuto 49, e alvejando a baliza logo a seguir, num remate que saiu pouco ao lado. Foi pena ter tido tanto tempo e espaço (na última jogada antes do golo do empate) para definir um contra-ataque: ficou mais uma vez provado que é quando as coisas lhe correm pior.

William Carvalho. Trouxe para dentro de campo um espírito de solidariedade que faltava, e que se foi notando sobretudo em pormenores de enorme subtileza: a maneira como, logo na sua primeira intervenção, foi ele a perder a posse de bola em zona perigosa, sacrificando-se de forma a impedir que a bola fosse perdida por um colega; ou a maneira como calculou meticulosamente um passe em profundidade para chegar aos pés de um adversário, impedindo assim que Dost se desgastasse a correr. Tivesse toda a gente este discernimento.

Rafael Leão. Tem apenas 18 anos e ainda muito que crescer e aprender, embora aquele toque de bola e arranque em espaços curtos sejam bons indicadores para um futuro repleto de anúncios à Nike e a instituições bancárias.
(Rogério Casanova, in Tribuna Expresso)

Não sei onde vai parar este Leão Casanova?! A fazer anúncios à Nike  e a instituições bancárias, decerto que nunca!...

Mas este leão que sou pela-se cada vez mais pelas suas análises à equipa!...

Leoninamente,
Até à próxima

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