terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Três ou quatro vezes em cada quinquénio!...


OS CAMPEONATOS DA DISCÓRDIA

«Andei a ler o que havia sobre a questão dos Campeonatos de Portugal, disputados entre 1921/1922 e 1938/1939 e chego à conclusão que há nesta polémica coisas assustadoramente disparatadas. O primeiro reparo a fazer é que os factos devem ser valorados no contexto da época em que ocorreram; em 1921/1922, o Campeonato de Portugal foi apenas disputado entre Sporting e Porto, porque as equipas das restantes associações não tinham dinheiro para custear as deslocações. Isso tira mérito à vitória do Porto (em finalíssima)? Quem ganhou teve culpa? 

Depois, há inúmeros testemunhos que o vencedor do Campeonato de Portugal (mesmo nos quatro anos em que conviveu com o Campeonato da Liga) era reconhecido e aclamado como o Campeão de Portugal. Os clubes à época disputavam as provas no modelo que a União Portuguesa de Futebol (de 1914 até 1926) e a Federação Portuguesa de Futebol (de 1926 em diante) organizavam.

Pergunto, as equipas que venceram (entre os quais o Olhanense, Marítimo e Carcavelinhos), tiveram alguma culpa que o sistema fosse de eliminatória? São campeões esquecidos, por esse motivo? Em Janeiro de 1939 a FPF altera o regulamento das provas e substitui o Campeonato da Liga pelo Campeonato Nacional e a Campeonato de Portugal pela Taça de Portugal. Este argumento tem sido esgrimido em dois sentidos, o de que só há campeões nacionais a partir de 1939 e que as equipas que antes venceram o Campeonato de Portugal, quando muito teriam ganho uma espécie de Taça de Portugal.

Com o devido respeito, a deliberação da AG da FPF só valerá para o futuro e não é lícito a partir dela tentar reescrever a história, que é clara. Durante uns anos, o campeão de Wimbledon era apurado em regime de challenge, ou seja o campeão do ano anterior só jogava a final, contra aquele que se apurasse nas eliminatórias; não passa pela cabeça de ninguém, que quem ganhou Wimbledon assim, (respeitando os regulamentos de então) seja menos campeão do que aqueles que hoje disputam sucessivos rounds.

Se as equipas que ganhavam o Campeonato de Portugal eram tidas como campeãs (mesmo coexistindo com o Campeonato da Liga, durante quatro anos) e era a única prova de âmbito nacional organizada, qual a razão materialmente relevante de a FPF não incluir essas vitórias no número de campeonatos alcançados? Esta atitude da FPF tresanda a revisionismo histórico; é como aquelas fotografias dos desfiles da Praça Vermelha em que, depois das purgas estalinistas, faziam desaparecer a cara do Béria.

É, para além disso, tremendamente injusta para os atletas que disputaram galhardamente em representação dos seus clubes, as competições e as venceram, é caso para dizer, limpinho, limpinho... Esta verdade é tão óbvia que não vislumbro o alcance da nomeação de uma comissão dita independente, pela FPF, para propor uma solução.

Estou de acordo que o Sporting deve estar na linha da frente desta causa; sugiro mesmo que num futuro jogo, se coloque o número 22 nas camisolas, ou se não for autorizado, que as mesmas incluam os nomes dos atletas que ganharam os quatro campeonatos, à cabeça, o imortal capitão Jorge Vieira, 18 anos de leão ao peito.»
(Carlos Barbosa da Cruz, O Canto do Morais, in Record)

"Branco é galinha o põe", diz o nosso povo na adivinha que porventura mais ao alcance das crianças estará e que só as "galinhas" parecem revelar extrema dificuldade em desvendar! Para enorme surpresa minha, Carlos Barbosa da Cruz assina por baixo com esta sua clara, límpida, transparente e convincente crónica, a posição quase unânime de todo o universo leonino, que Bruno de Carvalho entendeu por bem e em boa hora, tomar como sua bandeira. E se falo que acolhi esta crónica com surpresa, isso deve-se ao facto de o seu autor nunca ter escondido a sua linha oposicionista ao actual poder no Sporting. Nesta condição e no prosseguimento de uma tão natural quanto coerente posição, julgá-lo-ia ainda na "idade das trevas" a perorar contra tudo e contra todos em mais esta ciclópica mas justa batalha. Mas por aquilo que hoje escreveu, o "divino espírito santo leonino" parece ter-lhe iluminado a alma sportinguista e tê-lo-à mesmo obrigado a "separar as águas", facto que pessoalmente gostaria de ver imitado nas mais diversas "claques da oposição verde" que por aí pululam na blogosfera, ou em algumas personalidades do jornalismo, de que o mais recente e lastimoso caso de Joel Neto do jornal O Jogo, terá sido exemplo máximo e descoroçoante.

E permitam-me que, aproveitando a excelente sugestão de CBdC, parta para um ensaio gráfico exploratório daquilo que poderia ser uma exemplar, elegante e convicta resposta do Sporting Clube de Portugal a todos os que dentro e fora da Federação Portuguesa de Futebol têm permitido que a verdade desportiva e a glória alcançada dentro das quatro linhas tenha vindo a ser subvertida:



Nada que uma Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal, expressamente convocada e com um único ponto da ordem de trabalhos, e a prestimosa e acelerada colaboração da Macron não resolvesse em 30 dias, quando muito, sem ter que pedir "batatinhas" pela alteração, a um qualquer "badameco"! Um simples ofício enviado para Liga e Federação seria mais do que suficiente!...

Quem sabe se não seria finalmente encontrado o tão desejado "clic", para que o glorioso Sporting Clube de Portugal não passasse a estar condenado a mudar o emblema...

Três ou quatro vezes em cada quinquénio!...

Leoninamente,
Até à próxima

7 comentários:

  1. Lembro-me ainda que quando comecei os meus estudos de liceu na década de 50 que o metro era definido como "a décima milionésima parte de um quarto do meridiano terrestre". Sei que toda a gente sabe (sobretudo os da FPF) que actualmente já não é assim e que a nova definição é "1 metro é igual a 1650763,73 comprimentos de onda de uma radiação emitida pelo isótopo 86 do Kripton. Lembro-me de Bob Reamon ter batido em 1968 no México o record do salto em comprimento fixando-o em 8,90 metros. Uns 43 anos depois esse record foi finalmente batido sem que alguém se tenha lembrado de retirar o feito de Bob Reamon só porque que a definição de metro tenha mudado entretanto. Que a Comissão técnica a formar para o efeito dos campeonatos em Portugal saiba (pelo menos) o que é o Kripton...

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    1. Comentario simplesmente delicioso.
      Cumprimentos Aboim Serodio e...
      Saudacoes Leoninas

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    2. Caríssimo Aboim Serodio, lamentando desapontá-lo, permitir-me-ia contrapôr uma definição mais actualizada de metro, adoptada ainda há poucos anos pela Federação Portuguesa de Futebol, como sendo a unidade de medida de comprimento do "sistema do futebol tuga", que equivale ao comprimento do trajecto percorrido pelo som dos protestos no "estádio da Luz vazio", durante um intervalo de tempo de 1/299 792 458 do segundo, gasto por um jogador lampião a marcar um golo na baliza contrária, tendo apenas entre si e a linha de fundo, um adversário e um árbitro auxiliar com deficiente visão ao longe. Que a Comissão técnica a formar para o efeito dos campeonatos em Portugal tenha (pelo menos) a exacta noção do que é um "par de óculos"!...

      Um grande e leonino abraço, com votos de boa saúde.



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    3. Agradecendo os elogios que me foram endereçados aproveito para corrigir o nome do atleta citado (Beamon e não Reamon). A definição mais recente (1980) "apresentada" pelo meu Amigo Álamo corresponde a uma data em que eu já tinha acabado os meus estudos e por isso recorri a uma dos tempos em que eu era ainda estudante (1960). Creio que vou também comprar um par de óculos.

      Grande abraço e Felizes Festas para todos.

      SL

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    4. Chapeau, caro Aboim Serodio.
      Saudações Leoninas

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  2. É Natal,
    É Natal,
    Ninguém leva a mal.
    Etcétera e tal,
    lá-lá-lá
    lá-lá-lá
    lá-lá-lá-lá-lá-lá

    Magnífico o comentário de Aboim Serôdio.

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  3. Caro amigo

    Saindo da física e entrando na linguística, espero que a comissão "independente" tenha um elemento conhecedor profundo* da língua portuguesa que possa explicar aos outros elementos que numa prova chamada "campeonato" o vencedor tem a designação de "campeão", de onde numa prova chamada " Campeonato de Portugal " o seu vencedor é considerado "Campeão de Portugal".

    * nem será necessário um conhecedor profundo. Qualquer menino do 4º ano (antiga 4ª classe) será capaz de chegar à mesma conclusão.

    Feliz Natal!

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