PERGUNTAS A JESUS
«Argumentar sobre futebol com alguns prosélitos é quase tão compensador como jogar xadrez com um qualquer galináceo: é seguríssimo que ele vai acabar por desmoronar as peças, adubar o tabuleiro e acabar a partida de crista levantada e a cantar xeque-mate enquanto, apalermado, mói com os esporões pontiagudos o seu próprio rei. De facto, essa sensação desconfortável também se repete quando se procura discorrer sobre futebol de forma apaixonada (mas sem nunca perder a racionalidade e a equidade) e se acaba injuriado por microcéfalos que só se preocupam em intoxicar e corromper. São protagonistas menores que existem porque conseguiram convencer quem verdadeiramente manda de que essa postura tenebrosa e servil contribui para o domínio territorial dos clubes que supostamente servem, seja de forma assumida ou mais ou menos dissimulada e cobarde. É fruta de uma época em que meia dúzia de invertebrados conseguem passar a (falsa) ideia de que os resultados e as tabelas classificativas reflectem menos o que se passa nos relvados e mais o submundo e as suas próprias diatribes, televisivas ou via redes sociais. Esta gente já fez, ninguém tenha dúvidas, uma série de estropícios que o futebol terá dificuldades em reparar. Mas, desta vez, o que nos traz aqui é a forte possibilidade de a sua actividade miserável estar também a contribuir para um quiproquó que faz com que as suas mixórdias venham cada vez mais a ser confundidas e/ou misturadas com quem procura fazer críticas honestas ou análises independentes. E não é de excluir a possibilidade de o próprio Jorge Jesus ter caído na esparrela e embaralhado duas coisas que têm densidades diferentes e deviam funcionar sempre como a água e o azeite, no sentido de não serem misturáveis. É que parece mesmo tê-lo feito quando, ao seu jeito, falou nos "atrasados mensais" que o criticaram por não ter apresentado o ‘onze’ mais forte do Sporting em Barcelona. A verdade é que os analistas (ou, pelo menos, a maioria deles) que levantaram a questão não podem ser confundidos com quem vive atascado num lamaçal promíscuo. E estou completamente à vontade para o dizer até porque nem fiz parte do lote que criticou a opção do técnico leonino. Em vez da tentativa de resposta corrosiva, teria bastado a Jesus explicar melhor o que também ficou implícito na sua réplica: o staff médico dirigido por Frederico Varandas é muito competente, faz uma gestão meticulosa do estado físico dos jogadores e Coentrão, Gelson e Bas Dost não foram titulares por haver um risco lesional que poderia impedir a sua utilização quatro dias depois no importante jogo no Bessa. Poderia acrescentar que as possibilidades de o Sporting se apurar para a Champions eram tão reduzidas que não valia a pena correr riscos, mas isso talvez já fosse um excesso de sinceridade.
Já o disse e reafirmo: o que Jesus está a fazer no Sporting é talvez a melhor obra da sua carreira, mesmo que ainda lhe faltem os títulos que somou na Luz. Mudar e mudar para melhor são duas coisas diferentes, mas a verdade é que Jesus está a provar que nunca é tarde para caminhar no sentido mais conveniente. E a certeza de que aprimorou as suas ideias vê-se até na forma hábil como gere hoje o posicionamento de Bruno Fernandes (ora mais atrás, ora mais à frente, conforme o jogo e o adversário exigem) ou como pede a Gelson e a Acuña que surjam muitas vezes por dentro para permitirem a projecção dos laterais ou, no caso principalmente de Gelson, a troca posicional com um Podence que também serve de acelerador do jogo. E se Bas Dost já era mestre na arte de fazer golos, ninguém tem dúvidas de que passou a ler melhor o jogo (e até a marcar penáltis) desde que se entregou a Jesus. O Sporting, mantendo a qualidade da organização defensiva e o futebol turbinado que lhe rende juros na liga portuguesa, não se limita a ser uma equipa modelada para consumo interno (como foi quase sempre o seu anterior projecto, independentemente da presença em duas finais da Liga Europa): é mais versátil, equilibrada e competente do que alguma vez foi o Benfica (incluindo, claro, o actual). E provou-o na última fase de grupos da Champions. E é também por achar e defender isso que me sinto ainda mais à vontade para deixar aqui uma pergunta ao técnico do Sporting: a que se deveu esta súbita atracção por uma organização defensiva assente em múltiplas referências individuais, como ficou patente na primeira parte em Barcelona (que nem apresentou Messi de início)? É que custa perceber tamanha ‘heresia’ em quem sempre defendeu uma linha defensiva com referências zonais e posicionamentos em função da bola e dos colegas de equipa. Jesus consegue explicar-nos as vantagens ou foi apenas contagiado pelo vírus conservador que parece ter afectado, nos últimos tempos, outros treinadores que sempre foram vistos como progressistas (Van Gaal, Mourinho…)? Mais do que questionar a equipa titular ou o esquema com três centrais usados na Catalunha (outros o fizeram já, segundo consta, mesmo a nível interno), gostaríamos de entender esta mudança radical de modelo. A resposta, como é óbvio, não deve ser remetida aos retardados, sejam eles mensais, semanais ou até diários…»
(Bruno Prata, Ludopédio, in Record)
Interessantíssima crónica de Bruno Prata! Pouco se me dando eventuais "galhardetes" nela contidos, por não me identificar, de perto ou de longe, com a sua génese, apreciei sobremaneira a tese que defende e com a qual me identifico completamente, de que "o que Jesus está a fazer no Sporting é talvez a melhor obra da sua carreira...", se atentarmos e nos reportarmos exclusivamente ao comportamento do Sporting na presente época!...
Naturalmente curioso, embora pessoalmente tenha olhado para o "ensaio de Camp Nou" com "óculos" de ver ao longe, cá ficarei também à espera que JJ responda à questão central deixada por Prata, porque discutir a essência do jogo é que deverá ser...
Importante para JJ e para quem gosta de futebol!...
Leoninamente,
Até à próxima
ahaha dar espaço a um "advogado" de jorge mendes. em 4 repetiçoes de uma duvidosa, admito, mao dentro da area do barcelona, este e os outros 2 senhores comentadeiros da RTP mencionaram a falta.. ZERO! 0 vezes. como se nada tivesse passado. acorda homem, assim que JJ chegou a alvalade o pré-comentário passou a ser usual neste e noutros ditos.
ResponderEliminarpasse bem