quarta-feira, 29 de novembro de 2017

E no entanto move-se!...



"E pur si muove"

«... 'E no entanto move-se'. Estas palavras tê-las-ia dito num sussurro quase inaudível Galileu Galilei ao terminar a leitura da abjuração a que havia sido forçado pelos inquisidores-gerais da Igreja Católica em 22 de Junho de 1633. Tratou-se, como se sabe, de obrigá-lo a desmentir, condenar e repudiar publicamente o que tinha sido e continuava a ser sua profunda convicção, isto é, a verdade científica do sistema coperniciano, segundo o qual é a Terra que gira à volta do Sol e não o Sol à volta da Terra. O estudo do texto da abjuração de Galileu deveria fazer-se com a conveniente atenção em todos os estabelecimentos de ensino do planeta, fosse qual fosse a religião dominante, não tanto para confirmar o que hoje já é uma evidência para toda gente, que o Sol está parado e a Terra se move ao redor dele, mas como maneira de prevenir a formação de superstições, lavagens de cérebro, ideias feitas e outros atentados contra a inteligência e o senso comum...»


Este é apenas um pequeno excerto do texto então enviado por José Saramago a solicitação do jornal "El País", na sequência da sondagem que esse jornal havia promovido sobre o "melindroso, delicado, polémico e conflitivo assunto da eventual união dos povos que compõem a Peninsula Ibérica" e óbvia e natural consequência  da surpreendente e polémica obra "Jangada de pedra" do Nobel português.

Não será, porém, José Saramago e muito menos Galileu Galilei, o objecto primeiro deste postal, mas algo bem mais próximo de nós no tempo e no espaço. Refiro-me à estranha dicotomia que parece começar a varrer todo o universo leonino, tendo como "olho do furacão" a personalidade e a praxis de Bruno de Carvalho.

Estou em crer e ainda bebendo da inextinguível fonte de Saramago, que "ao contrário do que geralmente se diz, o futuro já está escrito, nós é que não temos ainda a ciência necessária para o ler". Os aplausos ou os protestos de hoje podem tornar-se em repúdios ou concordâncias amanhã, mas uma coisa é certa e a frase de Galileu terá aqui perfeito cabimento. Sim, pedante ou revolucionário?!...

E no entanto  move-se!...

Leoninamente,
Até à próxima

3 comentários:

  1. Revolucionário, tenho a profunda certeza que é. E, cada vez mais, os factos o demonstram. Como pode o homem se calar quando sabe melhor que ninguém do modus operandi escarlate!

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  2. Pessoalmente teria uma infinita dificuldade se alguém me pedisse para traduzir a palavra "pedante" numa qualquer das línguas em que me desenrasco e também em português. Normalmente falo de "pretensiosos"!
    Estou certo de que alguns dos meus amigos e Amigos me consideram como um pedante e isto porque os ultrapassei "quelque part". Por acaso tive a oportunidade de conhecer pessoalmente Belmiro de Azevedo que quase foi meu patrão e que eu cheguei a considerar "pedante" em alguns casos. Era um homem inteligentíssimo. Considero "pedantes" figuras como Mourinho e Cristiano Ronaldo que nunca conheci realmente. Não diria o mesmo de Saramago mas sobre Bob Dylan hesitaria, eu que adoro as suas canções!
    Sobre BdC e, até prova em contrário, eu diria que se trata de um revolucionário que está vaidoso do que já conseguiu fazer. Se não tentemos ver.
    Algo está em movimento no futebol aí do burgo tanto quanto eu posso ver daqui.
    Creio que nada disso estaria em movimento sem ele. Também o Sporting está a recuperar em muitas modalidades e o Futebol de 11 terá a sua vez! Espero!
    Também entra na minha lista de "pedantes" o JJ que foi o maior erro de BdC.
    Adminto no entanto que o futuro me venha a fazer mudar de opinião. Mas hoje estou a 29/11/17.

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    1. Amigo Aboim Serodio, talvez a sua dificuldade em traduzir a palavra "pedante", esteja muito próxima daquela que me atormenta na hora de "traduzir" a personalidade de Bruno de Carvalho. E corroborando de certa maneira o sentir do meu amigo, talvez eu seja capaz de conceder que "o futuro até possa já estar a ser construído". Porém, com a mesma frontal flexibilidade terei de reconhecer que não haverá ainda em mim a ciência suficiente e necessária para o ler. Esforço-me por juntar as letras, mas o resultado tem sido, até hoje e invariavelmente, ficar perdido entre o que julgo compreender e os efeitos, mais vezes nefastos do que eu desejaria, que acaba por determinar esse meu julgamento. Às vezes sinto-me perdido como o peru, quando o colocam dentro de um circulo de giz inscrito num chão onde sobressaia o branco. Será surpresa para muitos, mas o animal revela total incapacidade para se libertar das "amarras" do círculo e vagueia horas e horas em voltas consecutivas, sem capacidade para se libertar daquele "muro" com apenas alguns microns de altura!...

      Um abraço e SL

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