quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Eusébio para o Panteão? Para já, não !...


Eusébio para o Panteão? Para já, não!




Li que o líder parlamentar do Bloco de Esquerda (até esse) apoiava a ideia de vários outros partidos de trasladar Eusébio para o Panteão Nacional.

Apesar da unanimidade, permitam-me que diga que acho mal. Acho mesmo mal que tantos políticos e tantas personalidades falem assim, a quente, de uma trasladação para o Panteão Nacional. Nada tenho contra o facto daquele que foi o melhor futebolista português, ter todas as homenagens possíveis. E até ponho a hipótese que um dia ele vá para Santa Engrácia, ou seja para o Panteão. Nada me move, nem questões clubísticas ou de outra ordem contra Eusébio - pelo contrário, acho que o país lhe deve muito. Mas penso que há algumas questões de princípio.

Primeiro é necessário definir claramente o que queremos do Panteão. Segundo, é imperioso que decorra algum tempo para sabermos quem deve e não deve ter essa honra. O Panteão (cujo nome advém da palavra grega que definia um templo onde eram adorados todos - pan - os deuses - theos) implica que não se tomem as decisões no calor da emoção.

Foi o que se fez (mal, do meu ponto de vista) com Amália Rodrigues. Na altura mudou-se a lei que exigia cinco anos sobre a morte do homenageado. Definiu-se que um ano bastava (o que significa que só em 2015 se pode decidir sobre Eusébio). E deixo esta pergunta - cinco anos depois da morte de Amália alguém exigiria que ela fosse para o Panteão? Admito que sim. Mas faltaria ainda o outro requisito: para que e para quem serve o nosso Panteão? Quem são os nossos deuses nacionais?

O nosso Panteão tem muita gente de que gosto - Almeida Garrett, João de Deus, Aquilino Ribeiro - alguma de que não gosto, como Óscar Carmona e Sidónio Pais. Tem também Amália, que é um autêntico 'ovni' no meio de escritores e estadistas. Mas tem muita gente que não está lá e devia estar, como Egas Moniz e José Saramago (que foram prémio Nobel), Vitorino Nemésio, Natália Correia, Sophia de Mello Breyner (como bem propôs há tempos José Manuel dos Santos) e, no campo político, uma vez que la repousam Humberto Delgado, Manuel de Arriaga e Teófilo Braga, além dos já referidos Carmona e Sidónio, talvez António Sérgio, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro, entre outros. Além de que um Panteão que se preze deveria ter também Pessoa, Eça e Camilo. Qualquer um destes nomes pode figurar em cenotáfio (representação da urna) como sucede com Camões, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral ou Afonso de Albuquerque. Bem sei que Pessoa está nos Jerónimos, mas se há deuses da escrita portuguesa ele é um deles, sem dúvida.

Se o Panteão serve também para desportistas, cantores e artistas diversos, proponho, no mínimo, Tomás Alcaide, Guilhermina Suggia e João Villaret. Haverá outros, com certeza, não tenho a pretensão de ser o decisor destes temas. O que defendo é que, em vez de andarmos a tratar de assuntos ao sabor dos ventos de paixões e emoções, criemos critérios e método.

Reafirmo nada ter contra Eusébio e provo-o. Quando com Rui Ochoa discutimos quem simbolizava Portugal (por serem os mais conhecidos no mundo) para fazermos uma capa de aniversário dos 25 anos do Expresso, concordámos rapidamente nestes três nomes: Amália, Eusébio e Soares. Manteria a escolha se voltasse atrás. E até acho bem que o Pantera Negra tenha lugar naquele monumento, caso se decida que entre os nossos "deuses" estão, além de literatos e políticos e uma artista fora-de-série, desportistas e todos aqueles "que por feitos valorosos se vão da lei da morte libertando".

Tudo o resto não passa de demagogia política. E da barata.
(Henrique Monteiro - Chamem-me o que quiserem . Expresso)

Desconheço em absoluto a cor clubista de Henrique Monteiro, sendo que esse insignificante pormenor, nenhuma relevância terá num tema tão importante como aquele que ontem abordou e que aqui deixo a todos para reflexão.

Ontem, "convidado" pela frontalidade e lucidez de Leonardo Jardim, fiz questão de afirmar a minha posição sobre tão delicada matéria. Alguém, sem que o tivesse convidado, benfiquista ao que suponho, mas a coberto de identidade russa, me entrou pela porta adentro, clamando aos quatro ventos a minha "deficiência mental". Encolhi os ombros e retorqui-lhe que "quando a esperteza saloia sucumbe perante o senso comum, recorre às pedras, sem cuidar que estas hão-de partir os seus telhados...".

Hoje tive a oportunidade de deparar com "outro deficiente mental", que contra a histeria benfiquista, mediática e política, lá vai pregando, enquanto calcorreia o deserto que nos envolve a todos. Henrique Monteiro, pesem embora a sua inteligência, lucidez e frontalidade, será também um "deficiente mental" que, no entanto, subscrevo com honra e a quem presto a minha homenagem.

Leoninamente,
Até à próxima

9 comentários:

  1. Toda a questão em volta de Eusébio e panteão só S coloca depois de aberto o precedente com Amália...e nesse sentido, bem colocada a questão...

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    1. Caro Daniel Duarte, o seu comentário suscita-me a dúvida sobre qual das questões estará bem colocada: o corpo de Eusébio deve ir para o panteão já, ou essa hipótese deverá ser ponderada e decidida nos termos legais?!...

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  2. O Seattle Sounders garante que o colombiano ainda não pertence em definitivo ao Sporting, porque os leões ainda não exerceram a cláusula de compra.



    Adrian Hanauer, diretor do Seattle Sounders, ex-equipa do goleador colombiano, garante que a cláusula de compra ainda não foi acionada pelo Sporting para a ficar em definitivo com Fredy Montero, melhor marcador da I Liga.

    "Oficialmente, ele é propriedade do Seattle Sounders até que o Sporting exerça a cláusula que lhe permite comprá-lo. Os termos ficaram definidos na altura do empréstimo", afirmou Adrian Hanauer, em declarações ao site da MLS

    ESTE NÃO VAI PARA PANTEÃO NEMNHUM!

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    1. Bem aventurados sejam os pobres de espírito, porque deles será o Reino dos Céus...

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  3. «(...) Quando trocamos o respeito, carinho, orgulho por aqueles que tudo fizeram para nos dignificar, por um leilão... Quando a justiça de uma homenagem, de um agradecimento, se mede a sua importância pelos custos que esse agradecimento envolve...não me parece que valha a pena discutir mais nada. E sabes porque? Porque somos todos responsáveis!!!»

    PG

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    1. Pelo ângulo com que PG fez o seu comentário, concordarei plenamente com ele.

      Mas haverá outros ângulos, porventura tão ou mais importantes, que importará ter em conta, e neles reflectir...

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  4. Sportinguista. Escreve, raramente, no "és a nossa fé"

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  5. Eu creio que já não tenho mais nada, para dar para este peditório...

    Por respeito ao homem e ao atleta...

    Fico-me por aqui...!!

    SL

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