quinta-feira, 11 de junho de 2020

"Até morrer alguém importante do Benfica"!...


A violência contemplada

«De Bill Bufford a Desmond Morris há hoje um vasto conhecimento sobre a matriz tribal das claques de futebol. Também de teses científicas da sociologia e da história, que colocam o ónus da violência num antiquíssimo confronto entre os que ganharam no jogo da acumulação primitiva de capital e os perdedores históricos da luta de classes.

Na Inglaterra do século XIX, o futebol era a fronteira inicial dessa guerra emergente que ao longo de todo o século XX foi criando uma religião em busca do seu próprio Deus. O Deus salvífico, pacificador, tolerante e omnipresente, porém, nunca chegou.



É certo que a genialidade de jogadores como Pelé, Eusébio, Maradona, Cristiano Ronaldo, Messi, Crujiff, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo ou Zidane os transformou em deuses dos estádios. No entanto, não lhes deu o poder de projetar sobre o fanatismo a revelação da concórdia e da paz social. O seu talento despertou paixões fulgurantes mas não produziu o tal Deus. A arte de alguns deles, pelo contrário, foi a cobertura perversa das novas vedetas do futebol que passaram a ser os presidentes dos clubes. Por cá, não fugimos muito a essa regra.



Os presidentes também mudaram a natureza da relação das claques com os clubes. Transformaram-nas nos exércitos de vândalos ao seu serviço. É assim no FCPorto com os Super Dragões, foi assim no Sporting com a Juventude Leonina e no Benfica, onde reina essa gigantesca hipocrisia de se dizer que não existem claques oficiais. Deram-lhes um poder interdito a um território mental onde o cérebro é amorfo e inútil. E vão pagar por isso porque criaram monstros que, no desespero, se virarão contra os próprios.



O cobarde ataque ao autocarro dos jogadores do Benfica tem essa origem remota na cumplicidade que os poderes próprios do clube dão, de forma enviesada, a uma massa de robots descontrolados. Infelizmente, será mais um daqueles crimes que os tribunais julgarão com o habitual exercício de justiça formal. As testemunhas contarão umas estórias que encaixam nas versões dos arguidos e os juízes acreditarão. Construirão depois uma bela sentença, com reprimendas aqui e acolá, mas deixando prevalecer o alto valor da ressocialização. Iremos todos dormir descansados, acreditando que, afinal, estes vândalos da bola são apenas meio apalhaçados. Até morrer alguém. Momento em que alguém se lembrará da velha máxima de Thomas de Quincey: "os que contemplam o crime estão sempre implicados nele". E os que contemplam os crimes das claques, com um leve sorriso nos lábios, sabemos bem quem são.»


"Até morrer alguém" conclui Eduardo Dâmaso?! Decerto que não lhe terão ocorrido os acontecimentos de 18 de Maio de 1996 e 20 de Abril de 2017!... 

Ou então, talvez o que verdadeiramente pretendesse dizer, mas que acabou por não dizer, o que será sempre lamentável, fosse...

"Até morrer alguém importante do Benfica"!...

Leoninamente,
Até à próxima

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