Caro Bruno de Carvalho,
Daqui a 15 dias completam-se 39 anos a escrever ininterruptamente sobre futebol. Ao longo deste trajecto, como compreende, conheci muitos presidentes, dirigentes, treinadores, jogadores, árbitros, médicos, massagistas e todo o tipo de agentes desportivos. Conheço a mentalidade vigente e creio que sei alguma coisa sobre o posicionamento da comunicação social em relação ao futebol.
Não sou corporativista e isso também me tem valido alguns dissabores. Não sou, pois, apóstolo das correntes mais fáceis e, por isso, lhe dei – ao contrário de outros – o benefício da dúvida. Um benefício que resultou, em grande parte, de não gostar do futebol que temos em Portugal (cheio de manhas e dominado pela desregulação). Um benefício que resultou, também, do facto de desejar que entrassem no futebol pessoas capazes de colocar em causa alguns vícios sistémicos e o mundo de imparidades que existem em redor.
Gosto de pessoas empreendedoras, com ideias, capazes de incomodar o situacionismo. Mas também gosto do diálogo, do respeito e de valorizar o valor essencial da liberdade. A liberdade contém crítica, troca de ideias e daí também, certamente, a dificuldade de se governar em democracia. Não duvido da sua vontade de ver as coisas tomarem um rumo diferente no Sporting. Mas, para isso, é preciso ter bom senso, equilíbrio e não querer fazer em dois anos aquilo que, normalmente, é trabalho para mais do que uma geração.
Fez, num ano, muito mais do que seria expectável. Afinal, talvez essa rápida capacidade de resposta tivesse concorrido para se achar omnipotente e capaz de transformar em ouro tudo em que tocasse. Não há ninguém com esse poder, nem aqueles que acham tê-lo.
Num momento de particular aperto financeiro, quando se assina um contrato válido por quatro anos com um treinador de futebol, sem qualquer amortecedor que possa contrariar a transformação de um investimento em despesa, como aconteceu consigo, no Sporting, em relação a Marco Silva, ou é porque se acredita muito no treinador ou é porque se faz a contratação com a noção errada de quem se está a contratar.
Quando contratou Marco Silva por quatro anos, e para não ser acusado de fazer igualmente o que muitos dos seus antecessores fizeram, transformando Alvalade num cemitério de treinadores, contraiu uma responsabilidade. E, perante essa responsabilidade, só há uma coisa que pode e deve fazer: dar as melhores condições possíveis ao seu treinador. É com ovos que se fazem as omeletas e talvez seja um acto de razoabilidade perguntar ao “chef” (da cabina ou, melhor dizendo, da “cozinha”, para enquadrar a metáfora) que tipo de ovos é que deve comprar.
Parece-me evidente que, na ânsia de transformação do Sporting à sua imagem e semelhança, já cometeu alguns erros básicos. Essa coisa de meter o nariz na cabina, por tudo e por nada, não é uma boa prática. Os treinadores e os jogadores gostam de sentir a presença dos dirigentes, mas... à distância. Por isso, em bom tempo, lhe sugeri – muito antes da banalização da dita sugestão – que abandonasse o banco e ocupasse o seu lugar na tribuna. Já lho disse e repito: o seu papel não é de adepto, nem de treinador, nem de polícia. Você até pode ser isso tudo, mas tem de o saber fazer. Acredite: menos intervenções e melhores intervenções não vão fazer de si um presidente com menos poder. Mesmo que queira ter o controlo do futebol (também foi legitimado para isso), deixe o treinador trabalhar e, se ele não cumprir com os objectivos traçados, aja em conformidade.
Bem sei que pode ser uma questão de idiossincrasia e que esse recuo seja uma coisa muito difícil de administrar, psicologicamente. Mas faça-o. Tente concretizar, na medida do possível, os desejos do treinador em relação ao apetrechamento do plantel. Sei que a relação com Marco Silva está ferida de morte, por causa dos últimos desenvolvimentos. Mas se percebeu que não tinha outra alternativa senão dar dois passos atrás, mantendo-o como treinador, faça o que estiver ao seu alcance para o apoiar. Certamente que não gostaria de provar um dia a sensação de que andou a criar condições para Marco Silva treinar em Alvalade a ida para a Luz ou para o Dragão...
Parece ficar claro que – perante os sinais dados pelos adeptos, das mais diversas formas, e pelos seus parceiros de direcção – não conseguiu reunir condições para despedir o treinador. Há uma coisa que (como no anúncio) você deve saber: quando se pensa em fazer uma “guerra”, é preciso ter um exército e aliados. E nunca pensar em “suicídio”. Neste momento, é um general sem tropas e, na mão, só tem um canivete. E com um canivete não se ganham “guerras”. Nem internas, nem externas. Lembre-se disso.
Daqui a 15 dias completam-se 39 anos a escrever ininterruptamente sobre futebol. Ao longo deste trajecto, como compreende, conheci muitos presidentes, dirigentes, treinadores, jogadores, árbitros, médicos, massagistas e todo o tipo de agentes desportivos. Conheço a mentalidade vigente e creio que sei alguma coisa sobre o posicionamento da comunicação social em relação ao futebol.
Não sou corporativista e isso também me tem valido alguns dissabores. Não sou, pois, apóstolo das correntes mais fáceis e, por isso, lhe dei – ao contrário de outros – o benefício da dúvida. Um benefício que resultou, em grande parte, de não gostar do futebol que temos em Portugal (cheio de manhas e dominado pela desregulação). Um benefício que resultou, também, do facto de desejar que entrassem no futebol pessoas capazes de colocar em causa alguns vícios sistémicos e o mundo de imparidades que existem em redor.
Gosto de pessoas empreendedoras, com ideias, capazes de incomodar o situacionismo. Mas também gosto do diálogo, do respeito e de valorizar o valor essencial da liberdade. A liberdade contém crítica, troca de ideias e daí também, certamente, a dificuldade de se governar em democracia. Não duvido da sua vontade de ver as coisas tomarem um rumo diferente no Sporting. Mas, para isso, é preciso ter bom senso, equilíbrio e não querer fazer em dois anos aquilo que, normalmente, é trabalho para mais do que uma geração.
Fez, num ano, muito mais do que seria expectável. Afinal, talvez essa rápida capacidade de resposta tivesse concorrido para se achar omnipotente e capaz de transformar em ouro tudo em que tocasse. Não há ninguém com esse poder, nem aqueles que acham tê-lo.
Num momento de particular aperto financeiro, quando se assina um contrato válido por quatro anos com um treinador de futebol, sem qualquer amortecedor que possa contrariar a transformação de um investimento em despesa, como aconteceu consigo, no Sporting, em relação a Marco Silva, ou é porque se acredita muito no treinador ou é porque se faz a contratação com a noção errada de quem se está a contratar.
Quando contratou Marco Silva por quatro anos, e para não ser acusado de fazer igualmente o que muitos dos seus antecessores fizeram, transformando Alvalade num cemitério de treinadores, contraiu uma responsabilidade. E, perante essa responsabilidade, só há uma coisa que pode e deve fazer: dar as melhores condições possíveis ao seu treinador. É com ovos que se fazem as omeletas e talvez seja um acto de razoabilidade perguntar ao “chef” (da cabina ou, melhor dizendo, da “cozinha”, para enquadrar a metáfora) que tipo de ovos é que deve comprar.
Parece-me evidente que, na ânsia de transformação do Sporting à sua imagem e semelhança, já cometeu alguns erros básicos. Essa coisa de meter o nariz na cabina, por tudo e por nada, não é uma boa prática. Os treinadores e os jogadores gostam de sentir a presença dos dirigentes, mas... à distância. Por isso, em bom tempo, lhe sugeri – muito antes da banalização da dita sugestão – que abandonasse o banco e ocupasse o seu lugar na tribuna. Já lho disse e repito: o seu papel não é de adepto, nem de treinador, nem de polícia. Você até pode ser isso tudo, mas tem de o saber fazer. Acredite: menos intervenções e melhores intervenções não vão fazer de si um presidente com menos poder. Mesmo que queira ter o controlo do futebol (também foi legitimado para isso), deixe o treinador trabalhar e, se ele não cumprir com os objectivos traçados, aja em conformidade.
Bem sei que pode ser uma questão de idiossincrasia e que esse recuo seja uma coisa muito difícil de administrar, psicologicamente. Mas faça-o. Tente concretizar, na medida do possível, os desejos do treinador em relação ao apetrechamento do plantel. Sei que a relação com Marco Silva está ferida de morte, por causa dos últimos desenvolvimentos. Mas se percebeu que não tinha outra alternativa senão dar dois passos atrás, mantendo-o como treinador, faça o que estiver ao seu alcance para o apoiar. Certamente que não gostaria de provar um dia a sensação de que andou a criar condições para Marco Silva treinar em Alvalade a ida para a Luz ou para o Dragão...
Parece ficar claro que – perante os sinais dados pelos adeptos, das mais diversas formas, e pelos seus parceiros de direcção – não conseguiu reunir condições para despedir o treinador. Há uma coisa que (como no anúncio) você deve saber: quando se pensa em fazer uma “guerra”, é preciso ter um exército e aliados. E nunca pensar em “suicídio”. Neste momento, é um general sem tropas e, na mão, só tem um canivete. E com um canivete não se ganham “guerras”. Nem internas, nem externas. Lembre-se disso.
Nem mais nem menos...acho que nunca estive tão de acordo consigo. E lembro só, por exemplo, o despedimento de Robson (com o jovem Mourinho) em 1º lugar no campeonato para ir ser campeão no dragão. Como podemos lembrar o 2º despedimento de Mourinho (sem ter entrado em funções) por efeito desta irracionalidade sem limites que históricamente assolou o meu clube. Fica uma nova esperança: Que BdC seja capaz de mudar, (o milagre que espero aconteça no meu clube) para um novo ano. Vejamos se ele é capaz de aprender com a experiência.
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