Com Daniel Oliveira, à volta da SPORTINGTV !...

"O Sporting lançou finalmente o seu canal. É o segundo clube a ter um canal próprio. E o Porto Canal, que corresponde a uma solução de compromisso, tenderá, parece-me, a evoluir para um modelo semelhante ao dos outros dois grandes. O que ontem aconteceu às 19.06 (uma homenagem simbólica à data de fundação) é o cumprir de um velho sonho. Depois de tanto tempo a apanhar bonés e a vender activos para cobrir os prejuízos de gestões ruinosas, a sensação de estar a construir qualquer coisa é refrescante.

Por agora, o Sporting não deve alimentar grandes ilusões. As outras modalidades, os jogos das equipas de formação e B ou a pré-temporada, assim como os programas de debate e entrevista, têm de ser apenas o começo. Só a transmissão em directo e exclusiva de jogos do campeonato nacional da equipa A de futebol podem permitir que este canal dê um salto que o torne num excelente negócio. Foi isso que aconteceu com o Benfica TV. E a propósito do canal benfiquista, seria bom que fossem criadas algumas regras para estes canais, distintas das que são aplicadas aos restantes. Não faz sentido que um canal de um clube possa comprar todos os jogos de uma competição nacional, como o Benfica fez com os da Taça de Honra, incluindo aqueles em que participam os seus adversários. Trata-se de uma perversão das regras de concorrência entre os clubes.

Esta dinâmica de criação de canais de clubes criará uma fragmentação que leva os adeptos a ver, na televisão, quase exclusivamente os jogos da sua equipa. Não estou seguro que isso seja bom para o futebol. Mas é o que é e os clubes têm de rentabilizar o investimento que fazem. E isto terá efeitos em todo o mercado televisivo – a começar pelo especializado, como a Sport TV – e desportivo. À medida que os clubes forem conquistando a possibilidade de transmitir os seus próprios jogos, ganharão poder negocial junto das televisões. Bom para eles, mau para os grupos de comunicação social. Este é o novo mundo do futebol, onde só falta acrescentar uma relação diferente com os sócios, que inclua nas vantagens de ter um compromisso financeiro (e não só) com o clube, algumas vantagens extra, como acesso mais barato aos canais próprios. Seja como for, o Sporting deu ontem o primeiro passo para o que será o futuro. Veremos se consegue dar os seguintes."

(Daniel Oliveira, Verde na bola, in Record)

Estou absolutamente de acordo com o pensamento expresso por Daniel Oliveira na sua crónica. Com o devido respeito pela mensagem ontem transmitida pelo Presidente do Spoting Clube de Portugal, de que a SPORTINGTV, não será um canal para transmitir os jogos da equipa principal do Sporting, discordo dela, de forma frontal e convicta.

Claro que na situação de hipoteca a longo prazo, dos direitos de transmissão desses jogos - absurda e com laivos de criminosa, até 2018! -, que  Bruno de Carvalho encontrou no Sporting, não poderia dizer, por questões estratégicas ou de outra índole semelhante, outra coisa. Mal andará no entanto, a meu ver, se efectivamente, esse for em definitivo e "ad eternum", o seu pensamento.

Um canal televisivo será, para todo e qualquer clube que se tenha decidido ou venha a decidir, pela sua implementação, a natural extensão das bancadas do seu estádio, do seu pavilhão das modalidades e de todos os recintos desportivos de que seja proprietário ou usuário, onde os seus atletas actuem como visitados. Com três ou mais milhões de adeptos, na sua esmagadora maioria geograficamente distantes do seu centro de interesses, constituirá uma extensão natural da sua casa, permitida pela modernidade tecnológica. Quem assim não o entender, estará a regressar aos tempos da pedra lascada.

Partindo deste porventura não unânime "cais filosófico", será aliciante a discussão dos múltiplos trajectos que poderão ser escolhidos para a viagem e que poderão - ou deverão? - ir muito para além das opções que os dirigentes leoninos entenderam por bem agora tomar, no modelo ontem colocado à disposição do público em geral, que não apenas dos sócios e adeptos sportinguistas.

Aqui surge também uma outra minha discordãncia. O canal deverá ser aberto e grátis, ou limitado a quem o pagar?! Claro que o seu acesso, do meu ponto de vista, deveria ser uma prerrogativa exclusiva  dos SÓCIOS DO SPORTING CLUBE DE PORTUGAL, que deveriam, numa primeira fase, cuja temporalidade resultasse da sustentabilidade do projecto, ser os únicos beneficiários da gratuitidade que hoje é oferecida aos não adeptos e, ironia das ironias, até aos detractores. Nesta primeira fase, quem não sendo sócio pretendesse ter acesso ao canal, deveria pagar para isso.

Quando Bruno de Carvalho vem apelando a uma urgente mobilização dos adeptos sportinguistas para se tornarem sócios do Clube, porque rejeitar um tão claro e inequívoco processo de angariação?! A ideia de que a gratuitidade agora estabelecida, poderá constituir um trampolim para a consciencilização por parte dos adeptos, depois de "viverem e sentirem" o Clube através da SPORTINGTV, de que se devem fazer sócios, parece-me demasiado romântica, face à realidade sociológica sempre evidenciada pelo povo português. 

Quanto à transmissão pela SPORTINGTV, dos jogos em casa da equipa principal do Sporting Clube de Portugal, terminado o "período de nojo" a que o Clube está obrigado até 2018, quer-me parecer que muita água há-de correr sob as pontes até essa data e que Bruno de Carvalho estará a cometer um erro tremendo e desnecessário, ao deixar subentendido que "dessa água não beberá"! 

O vazio ou a ambiguidade legais actualmente em vigor, que vão permitir à BenficaTV neste fim de semana, proceder às transmissões televisivas dos jogos da Taça de Honra da AFL, não poderão continuar a existir por muito mais tempo. Logo que o país tiver um Governo decente que não esteja disposto a permitir o regabofe actual, o quadro será radicalmente alterado e, porventura, ninguém mais poderá ser juiz, tanto em causa própria, quanto nas causas dos outros, como incontornavelmente acontecerá neste fim de semana. Bruno de Carvalho deveria explicar muito bem explicadinho, a troco de quê terá aceitado, tão pacificamente e sem o mais leve "espirro", que a BenficaTV e Nuno Lobo, tivessem preparado tão lauto jantar, para uma mesa a que apenas eles se irão sentar.

E no futuro, quem poderá garantir a inexequibilidade de um processo ou projecto, em que um clube venha a ceder os direitos televisivos dos jogos realizados no seu estádio a um qualquer operador, com uma expressa cláusula que salvaguarde a retransmissão em directo das imagens dos mesmos no seu próprio canal, com comentários da sua própria responsabilidade, por forma a garantir aos seus associados a faculdade de disfrutarem da tal, "extensão tecnológica do seu estádio"?!...

E relembro, por incontornáveis e importantes, as palavras com que Daniel Oliveira rematou a sua excelente crónica:

"... Este é o novo mundo do futebol, onde só falta acrescentar uma relação diferente com os sócios, que inclua nas vantagens de ter um compromisso financeiro (e não só) com o clube, algumas vantagens extra, como o acesso mais barato (ou até grátis) aos canais próprios. Seja como for, o Sporting deu ontem o primeiro passo para o que será o futuro. Veremos se consegue dar os seguintes."

Leoninamente,

Até á próxima