«O que está em causa na crise
do Sporting é muito mais do que o sucesso desportivo. Ouvindo os debates e
discussões parece que se trata, sobretudo, de encontrar a forma de mais rapidamente
estabilizar o clube, garantir a sua sustentabilidade financeira e preparar a
próxima época desportiva. Na verdade, neste momento há algo mais importante do
que isso. A crise no meu clube ganhou uma dimensão existencial. Já não está
apenas em causa quem pode gerir melhor o clube, oferecer-nos mais sucessos ou
melhor preservar e promover a sua imagem. Está em causa a sua sobrevivência. E
não apenas (nem sequer fundamentalmente) a sua sobrevivência económica. Está em
causa a existência do clube como repousando na soberania dos sócios e em que o
poder é exercido de acordo com as regras e de forma democrática.
Na sequência da crise, os
sócios têm-se divido na apreciação da gestão de Bruno de Carvalho. Alguns,
apreciando mais ou menos o estilo, defendem a sua continuidade valorizando,
sobretudo, a capacidade para renovar o entusiasmo dos sócios e adeptos e os
sucessos nas modalidades amadoras. Outros, como eu, entendem que o Presidente
tem, pelo menos, uma responsabilidade objectiva no clima gerado no clube e na
situação actual de profunda instabilidade e permanente conflito. Já escrevi o
porquê da minha avaliação e não vou voltar à mesma. Era (e é) a minha opinião.
Outros sócios terão a sua. Quem crítica deverá ter a possibilidade de expor
livremente os seus argumentos e o Presidente de os contrariar e apresentar os
seus.
Era este o clube que, ainda que
dividido, tínhamos. Perante diferentes avaliações da gestão do Sporting e, em
particular, do Presidente competia aos sócios, de acordo com os Estatutos e as
competências próprias dos diferentes órgãos sociais, ser chamados a decidir
sobre isso mesmo. O que aconteceu nos últimos dias pretende, no entanto,
subverter este principio fundamental de que o clube pertence aos sócios e não a
quem o dirige. Já não estamos perante uma avaliação da gestão nem da
personalidade do presidente. Foram ultrapassadas fronteiras jurídicas que
existem para proteger o carácter democrático do clube.
Usando o controle que tem sobre
a administração e as instalações do clube, o Conselho Directivo impediu aos
outros órgãos sociais, responsáveis por assegurar a participação dos sócios e a
fiscalização da actividade do CD, de funcionar. Impediu também, de facto ainda
que sem base jurídica, a implementação das decisões que estes adoptaram no
quadro das suas competências próprias. Sem qualquer base estatutária, declarou
mesmo a extinção desses outros órgãos sociais, eleitos pelos sócios e
beneficiando de uma legitimidade igual à do Conselho Directivo. O Conselho
Directivo decidiu, sem qualquer competência para tal, declarar que os
substituía por outros não previstos nos Estatutos. Numa frase: em poucos dias
acabou com a democracia e separação de poderes no clube. Foi como se um
governo, descontente com as decisões de um parlamento e dos tribunais, os
decidisse extinguir e substituir por outros da sua escolha...
Não posso (nem podemos) ficar
indiferentes a isto. Parece-me até absurdo falar de preparação de época
desportiva quando o que está em causa neste momento é a própria existência
democrática do clube. Já não se trata de apreciar a gestão de Bruno Carvalho
mas sim se lhe queremos simplesmente entregar o clube. A forte legitimidade
política anterior do Presidente, resultante das eleições e assembleias gerais
anteriores do clube, não lhe confere poder absoluto. Pelo contrário, quanto
mais forte for o poder político do Presidente mais importante é preservar os
mecanismos de responsabilização e separação de poderes estatutariamente
previstos. E por mais forte que fosse o apoio ao Presidente nunca isso poderia
permitir acabar com órgãos sociais que beneficiam da mesma legitimidade
democrática conferida pelos sócios. É isto que garante que o Sporting funciona
de forma democrática e de acordo com a lei.
O que digo, não implica nem
exige que o Conselho Directivo concordasse com as decisões da Assembleia Geral.
Podia até contestá-las legalmente. A minha opinião é que as decisões da Mesa da
Assembleia Geral estão previstas nos Estatutos e respeitam-nos plenamente. Mas,
caso o Conselho Directivo entendesse o contrário, tinha legitimidade para o
contestar legalmente. O que não fez. Em vez disso, subverteu toda a ordem legal
e democrática do clube para fazer prevalecer o seu ponto de vista!
É por esta razão que entendi colaborar,
em conjunto com outros juristas, com a Mesa da Assembleia Geral nas acções
necessárias a repor a legalidade no clube e devolver o poder aos sócios (até
porque a MAG está, neste momento, desprovida de qualquer apoio do clube de que
constitui o principal órgão social...). Isso deverá ser feito feito recorrendo
a todos os instrumentos jurídicos disponíveis e só a esses. A legalidade, por
definição, só pode ser reposta por meios legais. É verdade que esta
instabilidade é profundamente danosa para o clube e gera profunda preocupação
nos sócios. Há também receios fundados que a gravidade dos comportamentos
ilegais adoptados possa ter consequências profundas e, nalguns casos,
irremediáveis para o clube. Mas é através da lei, e adoptando todas as iniciativas
judiciais e legais urgentes disponíveis, que devemos repor a democracia e
legalidade no clube. Não se responde à ilegalidade com ilegalidades nem à
intimidação com ameaças. Pelo menos, não no Sporting. A nossa identidade tem de
ser preservada mesmo na forma como se combate quem a está a destruir.
É urgente agir mas, em primeiro
lugar, para garantir a reposição da legalidade e que os sócios retomem o seu
poder sobre o clube. É verdade que, estando as condições de justa causa
invocadas pelos jogadores associadas ao comportamento do Presidente (como este
já reconheceu), a retirada deste retiraria também força a essa justa causa (em
particular porque a lei exige que seja praticamente impossível a manutenção do
vinculo laboral, o que deixaria de ser o caso). Não devemos, no entanto,
decidir sobre o Conselho Directivo ou o Presidente com base em considerações
deste tipo. Nisso, ele tem razão. O que está em causa, neste momento, e
infelizmente, é muito mais importante.»
O mais importante é o Sporting!...
Leoninamente,
Até à próxima
Leoninamente,
Até à próxima
Depois de me certificar que MPM é de facto advogado (advogado geral mesmo pelo que a Wiki me disse) obrigado me sinto de me pronunciar sobre o texto maravilhosamente escrito! Um pouco demasiado longo e repetitivo mas tal é normal para advogados que fazem pagar ao cliente o número de páginas e fotocópias.
ResponderEliminarDas poucas pessoas que conheço (pela CS e/ou por blogs) só reconheço uma capacidade de resposta do mesmo tipo a duas: o Álamo e o Rogério Alves! Melhor dizendo este texto (do Facebook pelo que o Trio de Ataque me informou) nunca terá resposta.
Estive de facto a ver o Trio de Ataque só para saber quem passou a representar o Sporting. Chama-se Luís Paulo Rodrigues e é mais um que não conheço de parte nenhuma. Notei-lhe uma enorma capacidade de rir mas o Gobern pouco me deixou escutar dos seus argumentos.
Pela minha parte nunca pretenderei responder a MPM eu que nem conheço os estatutos do SCP.
Só faltam 3 meses para que eu deixe de ser sócio do SCP e não assistirei a nenhuma das AG's para as quais fui convidado via e-mail!
O meu amigo Aboim Serodio ainda me arranja alguma "estrangeirinha" parecida consigo! Creia que estou aqui muito bem no meu humilde canto e as minhas únicas ambições decerto que as conhece: alcançar um "campeonato longo" e ver o Sporting Campeão uma dúzia de vezes antes desse campeonato acabar. Nada mais...
EliminarE já que falou no meu amigo "facebookiano" Luís Paulo Rodrigues, permita que lho apresente: a par de Luís Paixão Martins, será um dos maiores "experts" em comunicação que teremos actualmente em Portugal.
Foi na sua juventude o autor de um dos melhores blogs sportinguistas de todos os tempos, LEÃO DA ESTRELA, que infelizmente teve de encerrar por força das grandes responsabilidades contraídas na sua área profissional. Depois de uma longa temporada no Brasil, respondendo a um honroso convite de trabalho, regressou a Portugal e soube agora pelo meu amigo que passou a ser comentador residente no Trio d'Ataque, de que passarei a ser fiel espectador, porque LPR é do melhor em termos de comunicação que teremos por cá e, como antigo autor de um blog sportinguista da dimensão de Leão da Estrela, escusado será falar sobre o seu fervoroso e indefectível sportinguismo. Pecará quanto a mim neste momento, por continuar a ser com toda a legitimidade do mundo, um fervoroso apoiante de Bruno de Carvalho, mas as realidade, estou certo, há-de acabar por se impôr na sua consciência. Adivinho que não tarde muito...
Um grande e leonino abraço e os melhores desejos de que passe bem.
Para despedida final que grande filho da puta Alamo te tornaste!
ResponderEliminar"Sei que pareço um ladrão,
EliminarMas há muitos que conheço,
Que não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço"!...
Como sportinguista, envergonho-me de ti "anton"!...
E o Carlos Vieira, o que se passa com a grande credibilidade deste gestor?...
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