quarta-feira, 27 de junho de 2018

Pela conversão dos "ressabiados". Ámen!...

Somos todos uma cambada de ressabiados


Daqui por muitos anos, quando de nenhum dos que hoje são adeptos fervorosos, indefectiveis e incondicionais do melhor entre os melhores clubes do mundo, o glorioso Sporting Clube de Portugal, já nada mais restar do que uma flor murcha sobre a lápide, as sementes que deixarem hão-de ler com o coração em transe e os olhos húmidos de lágrimas de paixão e fervor leonino, a história do dia 23 de Junho de 2018.

Nesse dia, se calhar o dia mais importante de toda a nossa vida colectiva de grande Clube, maior entre os maiores da Europa, terá porventura acontecido a mais transcendente transfiguração, transformação, alteração radical, jamais verificada entre crentes de uma só fé, de uma só religião, de um único ideal...

Nesse dia, os até então considerados "sportingados", com a determinação férrea e leonina que os inundava, viram-se transformados miraculosamente em sportinguistas, numa percentagem superior a 71%, enquanto os autoproclamados "verdadeiros sportinguistas", numa percentagem inferior a 29%, autocrática e abusivamente ocupando o trono do leão, chutados pelas escadarias que antes e na sua déspota loucura, haviam subido em rápida, tresloucada e histérica fúria, usurpando direitos e fazendo tábua rasa de deveres, se viram transformados, como se tocados por bruxa má, em "ressabiados".

Ainda que a fé e a esperança anime os corações e a alma daqueles a quem a data histórica de 23 de Junho, concedeu o privilégio de voltarem a ser sportinguistas, ninguém terá ainda certezas absolutas de como a História registará os dias que estamos a viver, perante o reaccionarismo, o revanchismo e outros "ismos" ainda mais baixos e insolentes dos "ressabiados" que, incapazes de aceitar o "milagre leonino" ocorrido no Pavilhão Atlântico e de se renderem ao veredicto democrático dos "sportinguistas", continuam com a perfídia e sobranceria que sempre exibiram no assalto ao poder, a fazer da savana que apenas aos leões deveria servir de natural habitat, um terrível e hediondo campo minado, sem se darem conta do tresloucado haraquiri que vão cometendo... 

É para todos esses "ressabiados" que por aqui deixo hoje, ainda esperançado na sua reconversão, se a tanto os ajudar a reflexão que lhe deveria estar subjacente, a "CARTA AO RESSABIADO", vertido no singular livro "EU SOU DEUS", pela nova aragem da nossa literatura de hoje, Pedro Chagas Freitas: 




CARTA AO RESSABIADO

«O ressabiado é o labrego do invejoso. O parolo do ciumento. O azeiteiro dos ambiciosos. O lagareiro dos egoístas. O ressabiado é o invejoso com tuning, o ciumento com faróis xénon azuis, o ambicioso com spoilers e ailerons (ler “eilerons”, por favor) a toda à volta, o egoísta com quatro abufadeiras duplas. O ressabiado é aquele gajo que tem, dentro de si, todo o combustível necessário para chegar longe e fazer algo de profícuo – mas que prefere, por ser azeiteiro e parolo e labrego, beber essa gasolina. E ficar, claro está (porque um azeiteiro bêbedo é, para além de um azeiteiro, um bêbedo), ainda mais azeiteiro e parolo e labrego. Que tristeza.

O sol, quando nasce, é para todos. E as minhas letras também. O ressabiado, porque é, parecendo que não, um ser humano como os outros, também é filho (para além de filho disso que estás a pensar e que acaba em –uta) de Deus. Toma lá então esta, meu chungoso.

É para ti, nobre ressabiado, que escrevo. Sim: para ti. Para ti que perdes tempo (e isto sim é perder tempo: atirar, literalmente, tempo ao lixo) a ter inveja da inútil, da que nada (para além de sebo) produz. Para ti que perdes tempo a querer ficar da altura dos que invejas – mas que usas, para isso, a ordinária táctica de rebaixar os outros (ao invés de preferires, como todos os que não são ressabiados sabem, a bem mais interessante táctica de quereres, tu, em ti, erguer-te). Este texto é para ti, meu grande pequerrucho – que acreditas que ser grande é estar, mesmo que por instantes, à altura dos grandes. Mas não, meu pacóvio: o grande, mesmo que por vezes esteja à tua altura, só o está nos instantes em que, como todas as pessoas, precisa de se dobrar um pouquinho para defecar. É facto: os grandes também cagam como os outros. É uma pena que tenha de ser, porque tu insistes em estar lá, no chão, a rastejar, em cima de ti. Vai-te lavar, ó saloio.

Não tenho de evitar (porque haveria de não o evitar?) dizê-lo com todas as letras: sou invejado. Sou invejado por muitas. E sobretudo por muitos. E isso nada teria de negativo se esses muitos que me invejam fizessem dessa inveja algo de interessante: se esses muitos, roídos de inveja, se roessem todos para fazer melhor do que eu. Para fazerem do que eu faço quase nada face àquilo que eles fazem. Aí sim: estariam a ser verdadeiramente invejosos; aí sim: estariam a sentir a inveja que vale a pena: a inveja saudável. A inveja que faz andar o mundo. Esses invejosos, que passam os dias a pensar como me conseguirão penetrar com toda a potência à traição e pelas costas, seriam invejosos saudáveis se passassem o tempo a quererem que fosse eu a sentir inveja deles. Do que eles são, do que eles fazem. Mas não. Não é isso que eles fazem. Ressabiados.

Lê com atenção, ó ressabiado: estas palavras (irrepreensivelmente escritas - há que dizê-lo para, desde já, começares a ficar ainda mais ressabiado) são feitas à tua medida: para me invejares como deve ser. Para me invejares com motivo, com força, com intensidade. Para me invejares com propriedade. Já que me invejas, e te ressabias com essa inveja, é bom que tenhas matéria-prima a sério. Embrulha lá mais estes argumentos.

Sou um gajo feliz. Faço aquilo que quero fazer, aquilo que sempre quis fazer. E faço-o bem. Faço-o muito bem. Faço-o bem comó catano. Escrevo, ensino a escrever. Vivo, ensino a viver. Rio, ensino a rir. E sorrio e ensino a sorrir, e também canto e danço e peço a alguém que me ensine a cantar e a dançar (mesmo que não cantar nem dançar nada de jeito não me impeça de ser feliz assim: a cantar; todos os dias a dançar e a cantar: todos os dias a dançar-me e a cantar-me). Fiz dos sonhos realidade, das intenções realizações, do que os olhos olharam o que as mãos tocaram. E há mais: amo e sou amado até à pura da demência, amo e sou amado até à mais intensa das intensidades. E tenho uma família linda: de cima a baixo, de dentro a fora: linda. Absolutamente linda. Perfeitamente linda. E depois. E depois há aquilo que, tenho a certeza, te vai deixar ficar no pico do ressabiamento (até já esfrego as mãos só de imaginar a tua carita de fracassado crónico): para além disso tudo, para além de ter cérebro e escrever e ensinar a escrever e ter amor e paixão e tesão e uma família linda de dentro a fora, de cima a baixo, sou um gajo giro. Yep: um gajo atraente. Um gajo bonito. Só mais uma vez para não teres de ser internado por excesso de ressabiamento: um gajo com bom aspecto: um gajo desejável. Eu sei que era desejável não to dizer assim, de forma aberta. Eu sei que não me fica bem dizer isto – mesmo que o sinta. Mas o que fica bem que vá para o baralho. Eu atiro-te com isto, mais uma vez, à cara (a essa cara que, Deus te ajude, nunca recebeu elogios de um espelho): eu sou um gajo que recebe mais mensagens de elogio e de amor e de pulsão e de desejão por dia do que tu, algum dia, receberás na tua vida inteira. É doloroso, não é? Vá, limpa as lágrimas e anda daí para o último parágrafo. Labrego.



Hoje decidi dar-te motivos para seres ressabiado. Hoje decidi dizer-te que tens todos os fundamentos para me invejar. Tenho a vida que provavelmente queres, o talento que não tens (ou tens e preferes gastar a gastar o meu), a respiração tranquila e pacífica que não consegues ter. Tenho a plena convicção de que a minha vida vale a pena. A minha vida. Ele em ela. Ela em eu. Ela sem precisar da tua ou da de outros como tu. E é essa a verdade que tens de encarar (para transformares o ressabiamento em monumento: o teu monumento, saído de ti e não do não-outros): tens de ser pró-tu – e não, aprende lá isto por favor, o anti-outros. Tens de ser a favor de ti. Sem pensar em matar os outros para te fazeres viver. Sem precisares de apertar o pescoço dos outros para tirares o teu pescoço do cepo. Tens de ser invejoso, sim; tens de ser ciumento, sim; tens de ser ambicioso, sim; tens de ser egoísta, sim. Tens de ser essa merda toda que só é negativa se tudo isso se transformar em não fazer – ao invés de se transformar em só fazer. A inveja e o ciúme e a ambição e o egoísmo só são maus quando se lida mal com eles – quando são transformados, todos eles, em reles ressabiamento. Eu quero, e gosto, que tenhas inveja de mim. Dei-te motivos para isso – muitos e variados. Eu próprio, se estivesse no teu lugar, tinha inveja de mim. Chamava-me cabrão, dizia que eu era uma bosta e que nada tenho de especial. Mas eu, se estivesse no teu lugar, só perdia uns segundos a pensar e a dizer isso. Depois, logo a seguir a esses segundos, deixaria de dizer e pensar isso e passaria a tentar ficar eu do lado de cá: do lado que se é motivo de inveja e não invejoso. Do lado que é água que cai na fonte e não a fonte onde cai a água. Eu, se fosse invejoso, já não estava a ler este texto e a sentir-me ressabiado por não ter sido eu a escrevê-lo e a senti-lo. Eu, se fosse invejoso, já não estava ressabiado. Mas eu, se fosse tu, já não tinha motivos, sequer, para estar ressabiado. Porque eu, bem vistas as coisas, vou ser sempre eu: o cabrão que tem todos os motivos, e acabou de to esfregar na cara, para fazer da vida uma festa. Uma festa de sentidos: uma festa com todo o sentido. E tu: vais fazer fazer algo de útil com isso que sentes – ou vais preferir despejar a bílis a falar mal de mim? Pois. Temos pena.»
Pela conversão dos "ressabiados". Ámen!...

Leoninamente,
Até à próxima

9 comentários:

  1. Belo post a apelar à união da nação leonina.

    A continuar este incentivo ao Apartheid dos sportinguistas não vamos longe.

    SL

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    1. O apelo foi no sentido da "reconversão democrática" de quem não soube ou não foi capaz de aceitar a derrota e se julga no direito de exigir que lhe seja oferecida a outra face depois de nos esbofetear na primeira. Por mim, já não suporto mais ressabiamentos. O Sporting parece agora a caminho de alcançar a paz que tanto desejámos. Aqueles que assim não o entendam, que formem um clube só para eles. Nunca em parte alguma houve insubstituíveis. No Sporting há muita gente séria e competente. No dia 8 de Setembro os sportinguistas terão oportunidade de escolher em definitivo quem dirija esta imensa nau, que prosseguirá a sua rota como há 112 anos. Dos responsáveis por este triste "apartheid" não rezará a História!...

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    2. Sr.Álamo,acha que foi uma luta justa?com a CS toda de um dos lados?A metralhar diáriamente e ao segundo,a repetir pela enésima vez tudo o que a cartilha dos notáveis queria? não tarda muito e o Sr.Álamo estará outra vez do lado do Sporting...sim,porque este lado actual não é o lado do Sporting que eu amo há 55 anos.Fomos vendidos,estamos a ser esquartezados,a ser entregues aos abutres dos empresários comissionistas,aos encostas que se encostam a qualquer um que lhes prometa um prato de lentilhas.Este também não é verdadeiramente o meu Sporting.SL

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    3. Caro Guri, não vimos o mesmo filme que passou no Pavilhão Atlântico no dia 23 de Junho. Tenho pena e só eu sei quanto o lamento...
      Quanto ao outro filme de que fala que vai passando agora no Alvaláxia, deixe que lhe diga que não será o filme tenebroso e horripilante que lhe parece ser. Quando muito será um simples documentário, muito curto por sinal. No dia 8 de Setembro, então poderemos escolher o filme de que cada um mais gostar: SL

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    4. Caro Guri,
      sinceramente não entendo essa conversa sobre a CS (comuiicação social)... aliás muita gente tem a mesma conversa.

      Sem dúvida que a CS polui demasiado e não é isenta mas a verdade é que pouco tem influenciado os sócios. É minha convicção. Pense comigo. O BdC sempre foi muito atacado e no entanto ganhou eleições, ganhou AG's e por larga margem. No entanto entre a AG de Fevereiro e a de 23-Jun o seu apoio passou de 89,5% para 29,5% e com a mesma CS a poluir tudo. Não foi a CS que mudou, foi o próprio BdC e a perceção que os sócios tinham dele. Acredito sinceramente que os sócios têm inteligência suficiente pare entender as noticias. Acho que as “fake news” da imprensa só resultam em gente que apanha as noticias apenas pelas orelhas. Quem acompanha os temas de forma mais constante e aprofundada não se deixa enganar com facilidade.

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    5. Completamente de acordo com o pensamento de Filipe Silva.

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  2. Pela conversão dos "ressabiados". Ámen!...
    (Num momento oportuno, um texto oportuno, que lhe agradeço por tê-lo trazido aqui dando-me a possibilidade de o conhecer)

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