No labirinto de Proença
«Não teve a discussão merecida a súbita mudança de opinião dos clubes que acabaram por rejeitar Luís Duque e colocar Pedro Proença na cadeira de presidente da Liga de Futebol Profissional. Depois de uma aclamação generalizada por ocasião da "prestação de contas" da sua gestão e do avanço (induzido por essa aclamação) para uma "renovação" de mandato determinada pela revisão dos Estatutos da Liga, não se compreenderam as razões (a não ser, objectivamente, da Sporting SAD e, perfunctoriamente, da FCPorto SAD) para o decaimento maioritário de Duque e essa conversão súbita ao ex-árbitro. Se foi pelo projecto, não se apreendeu nada de especialmente diferente de Duque ou, na novidade, compatível com os tempos e com a lei. Se foi pela equipa, nada foi avançado quando aos "executivos" que se perfilavam, sendo certo que Proença trabalharia com os órgãos das listas de Duque. Se foi para minar o poder de Fernando Gomes e Vítor Pereira na FPF, só pode ser vista essa hipótese no espectro de um "conto de crianças" – como a rejeição na Federação do sorteio dos árbitros decidido pelos clubes na Liga mostrou à saciedade. Se foi para os clubes obterem jogadores emprestados do Sporting e do FCPorto (táctica usada durante anos para constituir "sindicatos de voto" nas assembleias da Liga), só pode ser ingenuidade pensar que essa cooperação dura mais do que o tempo dos negócios de ocasião. Enfim, se Mário Figueiredo se percebeu, Proença na presidência da Liga é um daqueles factos que parece ter sido uma espécie de capricho concretizado de alguns. Segue-se a pergunta cimeira: o que esperar da vontade de Pedro Proença em assumir este cargo e da capacidade da sua direcção?
Para além dos tacticismos e das manipulações, Proença marca um novo ciclo na gestão de topo do futebol associativo: um agente desportivo "puro", que comungou do relvado e dos balneários com jogadores, treinadores e dirigentes ao mais alto nível. Sabe tudo do jogo e dos seus intervenientes, o que lhe confere outro tipo de autoridade e bom senso. Terá sido lúcido para aprender sobre aquilo que o "negócio" hoje solicita e qual a posição comparativa que o nosso futebol pode ambicionar. Não terá contas para ajustar e, se as tem, deve optar pelo estilo federador (nomeadamente chamando árbitros, treinadores e jogadores para associados da Liga). Terá proveito em socorrer-se de recursos humanos íntegros e capazes, mesmo que isso desagrade aos "interesses". Se Proença agarrar esta oportunidade, outra história se começará a contar.
(Ricardo Costa, Por força da Lei, in Record)
Embora enleado no duplo sentido das perfunctórias ambiguidades e vicissitudes do Acordo Ortográfico, que naturalmente me apressei a dissipar, porque neste blog só por distracção brilharão os reflexos desse verdadeiro atentado à língua de Camões e Pessoa, não deixo de reconhecer que o texto de Ricardo Costa deverá merecer a atenção daqueles que se interessam pelo fenómeno do futebol.
E permitam-me que sublinhe tanto a "ideia nova" que pela primeira vez vi defendida, da opção de um "estilo federador" que recomenda a Pedro Proença, nomeadamente com a chamada de árbitros, treinadores e jogadores a associados da Liga, quanto o proveito que reverterá para a missão do novel Presidente, se tiver a capacidade de "socorrer-se de recursos humanos íntegros e capazes, mesmo que isso desagrade aos 'interesses'", chegando mesmo a prognosticar que, se tal eventualmente acontecer, "outra história se começará a contar".
Fala quem conhece de sobejo e com profundidade suficiente, os bastidores da LPFP e, "pour cause", do futebol em Portugal. E se implicitamente expressa o desejo de que "outra história se comece a contar"...
Fica tudo dito!...
Leoninamente,
Até à próxima
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