A guerra civil
«Já não sei bem onde li uma bela síntese sobre o que é ser adepto de futebol, de um clube, dessa confraria de eleitos que é a dos grandes jogadores, seja qual a camisola que envergam. Mas vale a pena pegar nessa síntese, de autoria perdida no tempo histórico. Ser adepto é viver e construir uma história de momentos, partilhada depois com outros, integrados pelo mesmo sistema de crenças e paixões. Como esquecerão os benfiquistas aqueles momentos geniais de Eusébio, em qualquer jogo, os golos frios e rápidos de Nené, o pontapé fenomenal de Vítor Baptista no dérbi em que perdeu o brinco?! Os sportinguistas, os portistas, os amantes de bola em geral, jamais esquecerão os golos desse artista do drible na pequena área que era Manuel Fernandes, a estética felina de Jordão, a arte de Paulo Futre e Chalana, as corridas de Seninho, a intuição elegante e letal de Gomes, os passes milimétricos de Octávio ou o génio de António Oliveira. Todos eles, ídolos de quem gosta do futebol, para lá das cores das camisolas. Mas estas contam, e se contam. Nunca antes, como nos tempos de guerra civil que hoje vivemos.
O ambiente doentio de clubite que se vive há muito, os interesses instalados em torno das SAD, os esquemas de promiscuidade entre dirigentes e empresários, a geografia de um pouco de tudo isso na arbitragem, a transformação dos jogadores em meros instrumentos de ambições alheias, empurraram alguns clubes para a pura ilegalidade. E para a guerra civil que aí está, cheia de esquemas subterrâneos, insidiosos.
Do Apito Dourado para cá, ou melhor, do controlo vergonhoso das suas consequências a partir de dentro das próprias instituições e dos tribunais, multiplicaram-se as as operações negras. Os processos judiciais, por exemplo, transformaram-se em território da mais selvagem batalha. O ‘saco azul’ descreve esquemas inacreditáveis na circulação do dinheiro. Tal como essa mistura explosiva, para o Benfica e para a credibilidade do futebol português, que é a soma do Mala Ciao, Vouchers, E-mails e tudo o que respire, é uma verdadeira máquina de produzir sujidade. Que vai criar um pântano de onde o futebol (não apenas o Benfica) não vai sair na próxima década. Sim, leram bem, na próxima década. Para não falar dessa investigação de fim incerto, misteriosa, já demasiado aguardada, quase a perder actualidade, que é o Prolongamento e o seu irmão gémeo Cartão Vermelho. Preparem-se, portanto, apertem os cintos, os momentos passados, actuais e futuros, de construção do sentimento de pertença, de ser adepto de qualquer coisa, soarão demasiado a ‘fake’ e estarão sob sistemática suspeita. Habituem-se! Como diria o doutor António Costa. Não vai ser bonito!»
Pese embora toda a subjectividade com que, porventura com boas intenções, Eduardo Dâmaso pretendeu escrever um texto capaz de misturar todo o tipo de farinhas num mesmo e único saco, o propósito parece-me óbvia, linear e indiscutivelmente falhado: ainda vão havendo, mesmo que escassas, muito boas, finas e dignas farinhas no futebol português, que não merecem a mentirosa e injusta generalização de que o articulista usou e abusou!...
Não fora assim e...
Borraria com merda a minha cara de adepto!!!...
Leoninamente
Até à próxima
Tantas vezes elogiado. Agora toma.
ResponderEliminarVá preparando o balde.
ResponderEliminar