segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Nem milagre, nem roleta, apenas tempo e trabalho !...

O maior treinador do século XX !...
Vejo e revejo o lance do fantástico golo de Marat Izmailov e escasseiam-me os adjectivos para definir o sublime momento do nosso Czar!... É por ali, meus amigos, é por ali, por aqueles terrenos, que Izma deveria andar sempre. Porque nunca nada assentou tão bem como o 10 nas costas de Marat. Sujeitá-lo à terrível luta e à desgastante tarefa que as alas impõem é abdicar de grande parte da sua classe pura, do seu fantástico improviso, da sua potência e colocação de remate. E permitir ou armar a equipa, na presunção de que a sua presença generosa seja natural nas proximidades da nossa área, será sempre uma opção displicente e quase criminosa.
Marat Izmailov é um jogador generoso, que dá o que tem, esteja a equipa na condição de ataque ou acorra ao toque de reunir na condição defensiva. Mas essa generosidade determina que uma grande e porventura demasiada parte do seu esforço se concentre em missões defensivas, em vez de ser maioritariamente canalizada para fulminantes golpes atacantes, como aquele de que resultou a vitória de ontem.
É um facto indiscutível e indesmentível que o futebol moderno jamais poderá ser dissociado do sentido paradigmático que Rinus Michels lhe introduziu: o chamado Futebol Total, o futebol levado ao extremo da beleza poética! O onzes estruturavam-se num 4-3-3 dinâmico, onde todos atacavam e todos defendiam, não havendo posições fixas já que todos os jogadores circulavam com e sem bola num carrossel mágico que enleava os adversários, hipnotizados pela qualidade técnica e táctica dos jogadores. A circulação era a chave do sucesso, com constantes variações de flanco e passes para trás quando necessário, no intuito de criar pontos de ruptura na defesa contrária e em que a tão actual prática da pressão alta, procurando asfixiar o adversário no seu próprio meio-campo defensivo e obter rapidamente a tão ansiada posse de bola, completava o modelo desse visionário e nunca ultrapassado técnico holandês.
Porém a virtude desse modelo não assentava no posicionamento indiscriminado de todos os seus actores, O episódico e circunstancial nunca se sobrepuseram ao sistematismo modelarmente imprimido. Daí que no Futebol Total um defesa continuasse a ser defesa, um médio nunca deixasse de o ser e o avançado fosse quase sempre vizinho da baliza dversária.
Marat Izmailov e porventura Matias Fernandez, deverão, contribuindo embora episodicamente para a organização defensiva da equipa, concentrar a parte mais significativa do seu esforço na vertente atacante, sendo que, para que a sua generosidade não seja tão solicitada, os seus companheiros do sector mais recuado terão de lhes mostrar garantias suficientemente fortes da sua eficiência sectorial. E a equipa leonina ainda está longe de respirar essa filosofia.
Ricardo Sá Pinto parece estar a introduzir na forma de jogar do Sporting, agradáveis "nuances" do futebol que Rinus Michels celebrizou e de que o Barcelona de Guardiola terá conseguido na actualidade ser um ainda melhor e elaborado exemplo. Mas haverá ainda um desequilibrio acentuado entre a repartição do esforço e das áreas do terreno varridas por todos os jogadores. Quando vejo, repetidamente, Marat Izmailov ou Matias Fernandez no interior da nossa área, assalta-me o receio de que momentos depois, a qualquer deles falte a frescura e a capacidade física para oferecerem à equipa, na grande área adversária, a plenitude dos seus formidáveis recursos. Quando assisto a piques impressionantes de mais de 20 metros, protagonizados por  Elias e Schars que, possuindo quase sobrenaturais atributos de visão táctica se apercebem ou adivinham os buracos que os seus companheiros das linhas mais recuadas estão prestes a conceder, concluo que muita ou quase toda da solidez defensiva que Sá Pinto terá em mente ainda não foi conseguida.
Sempre considerei como uma falácia desculpabilizante das deficiências defensivas do Sporting, a apregoada falta de categoria dos centrais. Poderão não ser génios, nem andarem nos lugares cimeiros das bolsas de potenciais tranferências. Mas se forem integrados num sistema defensivo inteligente e devidamente rotinados no cumprimento das compensações necessárias a uma eficaz prestação defensiva, serão tão bons como os melhores. O que manifestamente sempre me decepcionou no consulado que antecedeu Ricardo Sá Pinto, foi a sistemática desarticulação do sector, que indiciava uma confrangedora deficiência de treino que, nem a imensidão de um tempo de quase oito meses, nem a repetição de métodos e conceitos pouco ou nada eficazes, alguma vez conseguiram ou poderiasm vir a corrigir.
Rinus Michels demorou muitos e muitos anos a fazer do seu Ajax e da selecção holandesa as fabulosas equipas que depois viemos a conhecer. O Barcelona de Pepe Guardiola não surgiu de um dia para o outro. Mas as curvas das prestações das formidáveis equipas que construiram, nunca reflectiram desde os seus caboucos curvas sinusoidais, antes mostraram linhas contínuas de evolução positiva, numa relação directa entre o tempo da sua implementação e os resultados alcançados, tanto a níveis exibicionais como na difícil obtenção de resultados.
Ricardo Sá Pinto pode ser o Guardiola do Sporting, como afirmou o treinador Maciej Skorza do Légia de Varsóvia?!... Este novel e conceituado técnico fez esta analogia de ânino leve ou viu alguma coisa no Sporting de Sá Pinto que o levou a produzir uma afirmação tão incisiva?!...  O que o jovem treinador polaco afirmou resulta da impressão que o Sporting lhe causou. Nada deve a Sá Pinto para produzir uma impressaão desta natureza e este pode vir a ser efectivamente um revolucionário no futuro do Sporting. Mas precisa do tempo que outros pediram, sem que a linha da evolução do seu trabalho fosse contínua e notoriamente positiva, reflexo da conjugação do tempo e dos resultados nas coordenadas do gráfico do seu trabalho. Não sendo uma ciência exacta, o futebol pode e deve ser entendido como o resultado da aplicação de muitas ciências que não sendo exactas, articuladas com inteligência, método e muito trabalho, poderão conduzir com bastante mais frequência, ao êxito que os seus adeptos misticamente reclamam. O Sporting de Sá Pinto pode vir a conquistar o futuro que os adeptos sportinguistas desesperam por conseguir. Mas teremoss todos de lhe dar tempo. O "tic-tac" do "Leão Mecânico" nunca chegará por milagre dos deuses, nem pela roleta da sorte!...

Leoninamente,
Até à próxima
  

2 comentários:

  1. É preciso paciencia e uma grande vontade de ajudar a equipa...é efectivamente o que se pede aos adeptos, sobretudo neste momento, mas também no futuro...

    Os adeptos deverão ser sempre o 12º jogador que com o seu entusiasmo e entrega, ajudarão a catapultar a equipa para os patamares que todos desejamos...

    Mas para isso...é necessário arregaçar as mangas...abrir as mãos e batê-las bem forte uma contra a outra, ao mesmo tempo que se abrem as gargantas para gritar bem alto...e o Sporting é o nosso grande amor...!!

    Quem não tiver estaleca para uma prestação destas, só tem um caminho...: ficar em casa em vez de ir ao estádio empurrar a equipa para o fosso...

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  2. Caríssimo MaximinoMartins,
    Palavras sábias as suas, que eu subscrevo e aplaudo!...
    Que todos aqueles que possam não compreender o momento que o Sporting atravessa, que não se sintam capazes de aceitar os erros naturais que a equipa possa cometer e de incentivá-la mesmo assim, fazendo-lhes crer que estamos com eles e que melhores momentos virão a seguir, fiquem em casa, barafustem consigo próprios, assobiem para as paredes e lancem impropérios a quem quizerem, mas não estraguem o que Sá Pinto e os seus comandados estão a tentar fazer. E poderão cantar até, se quizerem: "Só eu sei, porque fiquei em casa!..."
    Assistam aos jogos da Liga Inglesa e aprendam, aprendam com aqueles formidáveis adeptos. Copiem-lhes os gestos, os cânticos, a confiança e a fé inabalável que transportam consigo.
    O futebol é um jogo, onde são possíveis três resultados. E o amor que se tem a um clube, jamais poderá ser posto em causa por um frango ou um penalty falhado. É preciso apoiar, é preciso compreender que nem no futebol as coisas acontecem como desejaríamos. Nós sportinguistas teremos de alterar muito rapidamente o nosso modelo cultural e, por inerência, o nosso comportamento.
    Obrigado pelas suas palavras. Obrigado pela visão correcta que tem da defesa do Sporting. Havemos de calar os assobios...

    Um abraço amigo e leonino

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