quarta-feira, 15 de março de 2017

Dois fenómenos à espera do título de campeão!...



MUITO MAIS DO QUE UM SIMPLES XERIFE

«Dizia um dos grandes centrais da história do futebol, que atravessou o Atlântico para triunfar na Europa e conquistar o Mundo, que o primeiro impacto com os padrões defensivos de referência no Velho Continente lhe travou a afirmação automática em Portugal. José Carlos Nepomuceno Mozer transportava, aos 27 anos, um fabuloso talento em bruto mas trazia o disco rígido quase vazio em termos tácticos. Não lhe foi fácil assimilar a preenchida cartilha de Toni, que assumiu o cargo de treinador do Benfica em substituição de Ebbe Skovdahl (1987/88). A complexidade das combinações necessárias para harmonizar a acção defensiva não permitiu que se impusesse mais cedo. O próprio Mozer confidenciava que, em jogo, não conseguia processar a informação na totalidade, pelo que, quando tinha de tomar decisões (atacar o adversário, ter olhos na bola, defender o espaço, articular-se com as necessidades…), ia ao homem e travava-o de qualquer maneira. Era uma questão de sobrevivência.

Também com 27 anos, Felipe revelou alicerces suficientemente fortes para abordar o embate de trocar a América do Sul pela Europa e o Corinthians pelo Porto. Porque as diferenças são hoje menores do que há três ou quatro décadas, o choque teve efeitos menos comprometedores. Marinho Peres, capitão do Santos de Pelé e do escrete canarinho em 1974, tinha igualmente 27 anos quando foi contratado pelo Barcelona, referenciado pela esmagadora figura de Cruyff. No primeiro treino de conjunto em Camp Nou, marechal Michels gostou do que viu mas fez um reparo: teria de jogar 20 metros à frente. Isto é, tinha de refazer por completo o futebol que aprendera e consolidara.

Felipe tem o estilo guerreiro e o temperamento destemido de quem joga, a cada instante, não apenas a dignidade pessoal mas, principalmente, o bem-estar da comunidade em que está inserido. No início cometeu exageros nocivos, todos relacionados com a imprudência na abordagem aos lances – incapaz de avaliar as situações em toda a sua extensão, tornava-se perigoso nas duas áreas, autêntica montanha-russa entre acertos relevantes e erros comprometedores. Não é esse o registo do grande central.

O tempo está a conduzi-lo para patamares de excelência e a orientar-lhe o estilo para as novas exigências. Está a ultrapassar o culto do xerife, que encarna a autoridade máxima por delegação; para quem mandar é puxar dos galões, mostrar as garras e exorbitar da função que atribui a si próprio, agindo como se a lei fosse ele. Esse desejo perverso de demarcar o terreno e agredir potenciais invasores nem sempre corresponde a uma atitude eficaz. Ou inteligente. Não se trata de reverter a seu favor o sentido estético que nunca terá; de tratar por tu os craques que jamais olharão para ele como parceiro; ou de reclamar a descendência directa dos raros defesas que a história aceitou como figuras míticas. Cabe-lhe, isso sim, chegar onde as condições lhe permitem. E pode chegar muito longe.

Felipe aperfeiçoou a sobriedade dos gestos, o acerto dos movimentos e a eficácia nas ações; melhorou o jogo combinado com o outro central (importantíssimo o papel de Marcano), ocupa melhor o espaço e harmonizou a intervenção na perspetiva conjunta de quem o rodeia. Habituado a defender em permanente contenção, em linhas muito recuadas, reduzindo a finalidade ao sucesso individual, está a formar-se como central superlativo, à custa de talento, perspicácia e assimilação de princípios, beneficiando também da dimensão planetária de Danilo e da experiência dos laterais Layún, Maxi Pereira e Alex Telles. O Porto tem a melhor defesa da Liga e uma das melhores da Europa. Felipe está a apetrechar-se com argumentos que farão dele um central capaz de exercer na esmagadora maioria dos clubes europeus. Veremos onde a história vai parar.

Técnica sublime de Bas Dost
Com 4 golos em Tondela reconquistou privilégios na lista dos marcadores 

Bas Dost é muito mais do que um avançado goleador. Com o decorrer da época tem aperfeiçoado gestos e movimentos, razão pela qual é hoje, seguramente, muito melhor jogador do que era quando chegou às mãos de Jorge Jesus. A aparente desarticulação motora é isso mesmo: aparente. O holandês não é habilidoso mas tem uma técnica incrível na recepção, no domínio, no passe e no remate...»

O pé esquerdo de Iuri Medeiros
As boas notícias oriundas do Bessa têm quase sempre o mesmo mensageiro

«... Iuri Medeiros voltou a ser deslumbrante no jogo com o Marítimo. Vistas as coisas a esta distância, com aquele pé esquerdo abençoado poderá jogar até aos 40, mesmo que seja só para marcar pontapés de canto e todos os livres, mais perto ou mais longe, na zona central ou de qualquer dos flancos. Até lá, será criminoso se não tiver uma oportunidade a sério no Sporting. Se a agarrar, pode ser um fenómeno.»

A primeira parte desta belíssima crónica "De pé para pé" de Rui Dias, não nos dirá propriamente respeito, a nós sportinguistas, entendidos como singular universo, apenas relativamente interessado com aquilo que se vai passando em casa alheia. Mas haverá um jovem e promissor atleta leonino a quem a leitura e a reflexão deste texto fará certamente muito bem: Rúben Semedo! E fico-me por aqui...

Quanto a Bas Dost e Iuri Medeiros, Rui Dias que me perdoe, mas não terá ido muito além daquilo que nós sportinguistas há muito interiorizámos: para além de muitos outros, estão ali...

Dois fenómenos à espera do título de campeão!...

Leoninamente,
Até à próxima

4 comentários:

  1. Rubén... Lê, ouve... mas NÃO FAÇAS...!!! É que se deres uma de Mozer(que era um excepcional zagueiro)... na melhor das hipóteses jogas 17 jogos num campeonato de 34......!!!

    SAUDAÇÕES LEONINAS

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    1. Rúben, lê, ouve e faz! Não ligues ao que o grande sportinguista ZE diz, porque ele é como as corujas, para quem os filhos serão os mais bonitos do mundo! E tu Rúben, poderás vir a ser um central de eleição, titularíssimo a breve prazo, da nossa selecção, mas... há ainda um camião de defeitos que transportas contigo e que, rapidamente, terás de eliminar, começando por colocar a cabeça bem assente em cima dos ombros e terminando com essa tua mania de te julgares o "xerife" da defesa do Sporting, que tem de fazer sozinho o trabalho que só o colectivo poderá levar a cabo!...

      Vai por mim, que muito te aprecio, mas que não tapo com a peneira as tuas falhas, as tuas precipitações, os teus impulsos de menino irreverente e quase doido tantas vezes!...

      Está nas tuas mãos, Rúben!...

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    2. Meu caro... talvez não me tenha feito entender... Concordo com tudo o que diz... porém contudo no entanto Mozer, que repito, era um excepcional zagueiro... era um 'avia porrada' daqueles... o que se replicado pelo nosso menino... só lhe valerá expulsões jogo-sim-jogo-sim o que, pelas minhas contas, dará uma intermitência arbitral só conpativel com a punição permanente do dito...

      SAUDAÇÕES LEONINAS

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  2. Muito boa analise do sr jornalista Rui Dias. E dos poucos jornalistas que percebem de futebol. A maioria deles sao jornaleiros ao servico do interesses do carnide e da labregagem.

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