JESUS AINDA APERTA COMIGO NOS TREINOS (LINK 04:10)
R: Trabalhou na formação com José Lima e Abel Ferreira, entre outros. Algum treinador o marcou ao longo desse trajecto?
GM – Todos os treinadores me marcaram e me ajudaram a crescer de alguma maneira. Sempre tive boa relação com todos.
R: E Aurélio Pereira, continua a ser um bom conselheiro?
GM – Sim, até hoje. Continuamos a falar. Ele manda-me mensagens a desejar bom jogo e a dizer-me que vá focado. Tem sido importante.
R: Ele diz que o Gelson já não deixa nada por fazer e que se transformou num jogador de campo todo.
GM – Concordo. Ele estava a referir-se ao aspecto defensivo. É o mais difícil para jogadores como eu, apesar de ter jogado a lateral-direito. Procuro empenhar-me e ajudar a equipa. Não pode ser só para a frente. Tem de ser para trás também.
R: Aproximou-se do que Jorge Jesus pretende de si?
GM – Tenho melhorado muito. Sei trabalhar mais em prol da equipa desde o ano passado.
GM – Fechar por dentro, para a equipa estar junta. Essas situações.
R: Jesus entende que lhe falta decisão para ser um jogador de topo.
GM – Os jogadores da minha idade nem sempre decidem bem. Falta-lhes decisão. Tendo um treinador que me ensine melhor, como o míster faz, vou aprender muito mais depressa do que aprenderia em condições normais. porque é algo que vem com o tempo.
R: Sente que pode evoluir na finalização e no último passe ?
GM – Sinto e tenho de o fazer. Para melhorar o meu jogo, para ser melhor a cada dia que passa, tenho de evoluir muito nesses aspectos.
R: Lembra-se da primeira conversa com Jesus em 2015?
GM – Foi na pré-época. Deu-me conselhos e ensinou-me a corrigir falhas que eu tinha e que ele viu.
R: Qual foi a primeira?
GM – Jogar para a equipa. Disse-me que eu jogava muito sozinho.
R: E como era nos treinos? Apertava consigo?
GM – Claro.
R: Ainda é assim hoje?
GM – É. Ainda é. Faz parte. Da exigência e do trabalho.
R: Se não fosse essa exigência, se não se tivesse cruzado com Jorge Jesus no Sporting, pensa que a sua carreira teria sido diferente, na medida em que demoraria mais tempo a chegar onde está?
GM – Sinceramente, acho que sim. O míster Jorge Jesus acelerou o processo. Só se pode evoluir se se estiver a jogar. Ele deu-me a oportunidade de fazer vários jogos e isso permitiu-me melhorar ainda mais, porque pude estar sempre em competição.
R: Por si, trabalhava com ele até 2022, que é quando acaba o seu contrato com o Sporting?
GM – Sim, por mim continuava a trabalhar com o míster.
R: Dos jogadores do actual plantel do Sporting, que ainda não conhecia, algum o surpreendeu?
GM – De uma forma ou outra, todos me têm surpreendido. Gosto de jogar com todos.
R: À excepção de Bas Dost, é opinião generalizada que os reforços ficaram aquém do que se esperava deles. Foi um problema de adaptação?
GM – Não sei. Sobre a adaptação eles é que podem dizer. Mas é normal. Eles vieram para jogar e não esperavam, talvez, encontrar jogadores que estavam bem na posição deles. Se calhar isso fez com que não tenham tido motivação. Ela ganha-se nos treinos, no dia a dia, mas quando se joga a motivação é diferente de quando não se joga.
QUERO GANHAR O TÍTULO NO SPORTING (LINK 05:50)
R: Em três anos, renovou contrato três vezes: Março de 2014, Abril de 2015 e Fevereiro de 2017. Sente-se reconhecido a Bruno de Carvalho pela confiança depositada em si ao longo deste tempo?
GM – Sinto a confiança do presidente. Trabalhei sempre e fiz por merecer. Ele notou isso e confiou em mim. Agora, tenho de trabalhar para retribuir a confiança.
R: Esta última renovação foi ‘merecida’, como dizia Bruno de Carvalho uns dias antes de assinar o seu novo contrato, até 2022?
GM – Sim, se o presidente confia em mim é porque sabe que eu mereço. Mas tenho de provar.
R: Jorge Jesus chegou a afirmar que não esperava perdê-lo em Janeiro. Em algum momento houve essa possibilidade?
GM – Que eu saiba, não.
R: Adrien disse um dia que não sairia do Sporting sem ser campeão. É capaz de dizer o mesmo: que não quer sair do Sporting sem ser campeão?
GM – Um dos objectivos que eu tenho é ganhar o título no Sporting. Não quero sair antes, sem ganhar um título de campeão nacional. Mas não sabemos o dia de amanhã. Não posso dizer isso.
R: Acredita que pode acontecer o Sporting ser campeão já na próxima época?
GM – Acredito. Como acreditei esta época. Como acreditei na época passada. Agora, é trabalhar para as coisas acontecerem.
R: Não é segredo para ninguém que está a despertar o interesse de grandes clubes europeus. O que sentiu quando soube que antes de o Real Madrid defrontar o Sporting Zidane já o conhecia e já tinha visto jogos seus?
GM – É sempre bom. Mas não me diz muito. É bom ouvir, mas nada mais do que isso.
R: Soube que Zidane o quis levar para o Castilla em 2014?
GM – Sim. Essa possibilidade chegou-me na altura. Queriam que eu fosse.
R: Porque não aceitou?
GM – Eu estava na equipa B. E era para ir para a equipa B do Real Madrid [o Castilla]. Pensei na minha evolução e não quis fazer essa mudança repentina. Preferi crescer.
R: Foi a opção certa ter ficado no Sporting, tendo existido a possibilidade de ir para o Castilla?
GM – Foi a opção certa. Eu achava que estava na melhor formação. Não fazia sentido sair do Sporting para ir para o Castilla. E ainda bem que fiquei.
R: Falou com Cristiano Ronaldo no final do jogo em Madrid?
GM – Cumprimentei-o. Ele esteve connosco no balneário. Tirámos fotos com ele.
R: É verdade que Marcelo disse que o fez passar mal?
GM – Ele estava no [controlo] antidoping. Disseram-me que ele tinha dito isso. O Marcelo até ficou com a minha camisola e deu-me a dele!
R: "Trata-se de um jovem com muito talento, que o Barcelona tem vindo a observar e vai continuar a fazê-lo. Temos vários jovens referenciados e o Gelson é um deles. Tem potencial para ser um grande, vamos ver como evolui. É por isso que estamos atentos." Estas palavras do conselheiro internacional do Barcelona, Ariedo Braida, fazem-no sonhar com outros horizontes?
GM – Sonhar, sonhar [risos]… Fazem-me acreditar no meu trabalho e continuar a trabalhar para evoluir sempre.
R: Já falamos da sua cláusula de rescisão, que se manteve nos 60 milhões de euros após renovar em Fevereiro. Acredita que, num futuro mais ou menos próximo, pode vir a bater o recorde de João Mário e tornar-se a maior transferência de sempre do Sporting?
GM – Não sei. Não sei dizer isso. Não estou muito por dentro desse assunto. Pode acontecer mas não corro por esse objectivo.
IURI MERECE A OPORTUNIDADE (LINK 06:09)
R: A amizade com Rúben Semedo vem do Futebol Benfica?
GM – É daí. Ele é mais velho do que eu [um ano] mas já o conhecia, porque também viveu na Amadora. Éramos vizinhos.
R: E quando conheceu Palhinha?
GM – Só quando veio do Sacavenense. Identifiquei-me logo com ele. Fico feliz por ter voltado ao Sporting. Ele e o Rúben são os meus melhores amigos no futebol. Passamos muito tempo juntos.
R: Ainda assim, Rúben Semedo ‘acusa-o’ de ser... chato.
GM – [Risos] Pergunte-lhe quem é mais chato!
R: A propósito, como é que ele encarou a fase em que foi suplente?
GM – Esteve motivado. Ele sabia que tinha de continuar a trabalhar para voltar a agarrar o lugar dele quando aparecesse a oportunidade. Era nisso que ele estava focado.
R: Francisco Geraldes e Daniel Podence jogaram consigo na primeira equipa da formação do Sporting de que fez parte, em 2010/11. Como foi o reencontro?
GM – Não há muito tempo, publicámos uma fotografia no Instagram onde aparecíamos eu, o Matheus, o Palhinha, o Geraldes e o Podence. Comentámos entre nós que era a equipa de juniores antes. Sempre tivemos boa relação. É importante tê-los por perto.
R: Podence e Geraldes têm condições para se afirmarem no Sporting na próxima época?
GM – Claro. Todos eles, daquele tempo, têm qualidade para se afirmarem. Há que trabalhar para merecer a confiança do técnico.
R: Acredita que Riquicho e Domingos Duarte, também seus contemporâneos na formação, têm valor para a equipa principal?
GM – Acredito. É como dizia antes. O Riquicho teve a infelicidade de se lesionar na equipa B, mas já ultrapassou. Vai ter a sua oportunidade e vai agarrá-la, como o Domingos.
R: Jogou menos com Iuri Medeiros mas conhecem-se bem. Pela época no Boavista, merece voltar?
GM – Joguei pouco com o Iuri na formação, só na equipa B, porque ele é um ano mais velho. Tenho acompanhado o que tem feito no Boavista. Falamos de vez em quando por mensagem. Merece a oportunidade de se mostrar e comprovar o valor que tem.
R: Pode ser um concorrente...
GM – Assim trabalho mais! Melhor ainda, porque exige mais de mim.
R: Matheus Pereira foi promovido na época passada, como você, mas não tem jogado com tanta regularidade, o que o obriga a ser paciente. Vê-o motivado?
GM – Vejo a motivação do Matheus, até porque ele mereceu a aposta nestes jogos. Esteve bem. Mostrou que está empenhado. As coisas acontecem quando têm de acontecer. Todos nós temos um tempo certo e quando ele aparece temos de aproveitar.
R: "Os melhores do Mundo nascem aqui e é aqui que eu vou ficar", disse em Fevereiro, após renovar até 2022. É a razão por que escolheu o Sporting logo em 2010?
GM – Já tinha a ideia que o Sporting era o clube que melhor trabalhava na formação. Sabia os jogadores que passaram por cá, como o Ronaldo ou o Nani. Foi a escolha mais acertada.
R: O Sporting mantém a liderança na formação ou corre o risco de ser ultrapassado pelos rivais?
GM – Não. Eu acho que temos a melhor formação. Pela qualidade que eu vejo, o Sporting continua a ser o melhor.
SER COMO NANI E RONALDO (LINK 07:31)
R: O que será para si chegar ao topo dos topos, como diz?
GM – Ser uma referência, como Nani e Ronaldo. Trabalhar para isso. E afirmar-me na Selecção.
R: Foi chamado pela primeira vez em Outubro. Como soube?
GM – Sabia que ia sair a convocatória mas não estava a acompanhar no momento em que ela foi divulgada. Ligaram-me a perguntar se tinha visto e eu respondi que não. Assim que me disseram fui logo confirmar à internet. Já estava ansioso. Quando vi o meu nome senti orgulho.
R: Foi bem recebido no grupo?
GM – Fui muito bem recebido, por todos, de maneira espectacular. Integraram-me bem no grupo e eu gostei de me sentir integrado.
R: Foi praxado?
GM – Fui. Tive de cantar. Já não sei o nome mas foi uma música portuguesa conhecida. Fui ver a letra ao telemóvel [risos].
R: Como tem sido trabalhar com Fernando Santos?
GM – Bom. O míster ajudou-me muito. Disse-me para estar confiante. Para não ter medo de fazer o que eu faço no Sporting.
R: Que objectivos tem na Selecção – qualificar-se para o Mundial e ganhá-lo?
GM – Ser convocado. Tenho de trabalhar no Sporting para ser opção na Selecção. O primeiro objectivo é estar lá. Estando lá, tudo pode acontecer.
R: Onde estava, com quem e de que forma acompanhou a conquista do Europeu?
GM – Estava com o Rúben [Semedo]. Vimos o jogo juntos em Lisboa. Foi uma festa. Ficámos orgulhosos.
R: Fez uma época positiva no Sporting. Ainda teve esperança de ser chamado?
GM – Não.
R: E teve pena de não ir aos Jogos Olímpicos? Houve possibilidade.
GM – Houve. Tive pena e não tive. Como quase todos os jogadores, eu gostaria de ter ido aos Jogos Olímpicos. Mas, se fosse, ia pensar que também gostaria de ter ficado cá com a equipa a trabalhar, na pré-época. Seria igual.
R: Representa Portugal desde os sub-18. Jogar pela selecção de Cabo Verde foi um cenário falado no ano passado quando esteve no arquipélago com Rúben Semedo, em férias. Chegou a ser oficialmente convidado?
GM – Não falámos em eu ir para a selecção de Cabo Verde mas fomos à sede [da federação]. Estivemos com eles, naturalmente, mas não houve nada disso. Para mim, nunca foi nem seria opção, porque represento Portugal desde miúdo. Não ia mudar.
NUNCA HOUVE NADA DE CONCRETO COM O BENFICA (LINK 07:41)
R: Quem o levou para o Futebol Benfica, em 2008/09?
GM – Um amigo da escola que está a jogar lá. Chama-se Helivelton.
R: Iam a pé para os treinos?
GM – Ele vivia em Benfica, eu na Amadora. Para mim era mais longe [2 km]. Às vezes ia a pé, outras de autocarro.
R: Brilhou contra o Benfica nos iniciados do Fofó. O rival tentou contratá-lo?
GM – Marquei dois golos. Já me tinham falado do Benfica, mas nunca houve nada de concreto. Foi o Sporting que se mostrou mais interessado e me chamou para treinar.
NÃO ME IMAGINO A BATER PENÁLTIS PORQUE NÃO GOSTO MUITO (LINK 08:10)
R: Imagina-se a bater penáltis, se um dia for preciso?
GM – Se for preciso, sim. Mas não me imagino a bater penáltis, porque não gosto muito. Nunca o fiz na formação.
R: Usa o 77, já usou o 60, já foi o 10, o 7, o 18. Tem um número de camisola preferido?
GM – É indiferente.
R: Os amigos tratam-no por ‘Gel’. É o mais parecido que tem com uma alcunha?
GM – [Risos] É um diminutivo. Não me lembro de ter alcunhas.
R: Admira algum atleta de outro desporto que não o futebol?
GM – Usain Bolt. Mas não o desafiava para uma corrida!
R: Qual é o seu filme favorito?
GM – ‘Velocidade furiosa’.
R: Inspira-o para ter essa atitude em campo?
GM – [Risos] Não é bem por aí mas gosto de ver.
R: Estilo de música preferido?
GM – Rap e hip-hop.
R: Cidade e viagem de sonho?
GM – Lisboa e Cabo Verde – fui lá no ano passado.
R: Já vai em 38 jogos no Sporting em 2016/17. Fará provavelmente a terceira época seguida acima dos 40. Como depende muito da capacidade muscular, faz horas extras no ginásio?
GM – Sim, faço antes, como prevenção, e às vezes depois. Também tem a ver com os dias de jogo. Posso passar no ginásio mas o descanso também é importante. Procuro fazer esse trabalho específico.
R: E que outro tipo de cuidados tem fora dos relvados, a nível de comportamento?
GM – Descanso.
R: Em Junho, por exemplo, voltou mais cedo das férias e foi treinar para a Academia.
GM – Com o Rúben [Semedo] e o Palhinha.
R: A sua exibição em Madrid teve grande repercussão na imprensa espanhola. Viu os jornais no dia a seguir?
GM – Vi. Mandaram-me o que tinha saído nos jornais.
R: Sabendo desse impacto mediático, ainda considera o golo da vitória [2-1] sobre o Porto em Agosto o seu momento mais marcante no Sporting?
GM – Para mim foi mais importante o golo ao Porto, porque nos deu a vitória.
R: Qual considera o melhor golo da sua carreira? O que fez em 2014 à Hungria no Europeu sub-19 [Portugal perdeu na final com a Alemanha]?
GM – Gostei mais do golo à Nova Zelândia, no Mundial sub-20. Tinha um jogador pela frente e simulei que ia rematar, veio outro, simulei de novo e depois fiz uma trivela, de pé direito, de fora da área.
R: Marcou o golo 5 mil do Sporting na Liga. Ainda se lembra como foi e contra quem?
GM – Lembro-me, sim. Foi contra o Tondela [15 de Janeiro de 2016, 2-2, em Alvalade]. Foi um remate forte, também com o pé direito.»
Creio ter verificado nesta entrevista de Gelson Martins ao jornalista de Record, Vitor Almeida Gonçalves, um assinalável e curioso contraste entre a humilde simplicidade e a tímida moderação do discurso do homem, com a exuberante presença e quantas vezes intratável e quase selvagem postura exibicional nos relvados, sempre que nos confronta com aquilo que é como atleta.
Julgo que não estarei sozinho na convicção de que esta entrevista terá ajudado a conhecer melhor e mais profundamente as suas extraordinárias qualidades humanas, que agora poderemos juntar ao talento que já se havia apossado do coração de todos os amantes do futebol, independentemente dos afectos clubísticos e que a esta feliz simbiose não deverá ser estranha a poderosa influência recebida ao longo de mais de 6 anos na Academia Sporting, precisamente na fase mais importante da sua formação como homem e atleta.
Apesar de tudo e pesem embora as "quase solenes" afirmações que produz em relação ao seu futuro no Sporting, serão poucas as minhas esperanças de que o seu futuro próximo e imediato não venha a ser muito semelhante ao de quem o antecedeu no percurso, no talento, e nas expectativas. Ou muito me engano, ou esta entrevista terá sido..
A crónica de uma saudade anunciada!...
Leoninamente,
Até à próxima
Vai deixar saudades se sair mas se tivermos soluções para atacar o titulo sem ele que seja o que tiver de ser
ResponderEliminarPenso que o vamos ter por cá mais uma época, ele próprio deve sentir que precisa de "mais Europa" até chegar o momento.
ResponderEliminarEssa será a posição lógica e racional, amigo Liondamaia! Porém, alguma vez os "tubarões" serão lógicos e racionais?! É deles que poderá vir o "perigo"!...
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