«No avião que o fará partir depois da cerimónia que atira o Aeroporto da Madeira para os braços do seu nome particular, Ronaldo sentir-se-á a voar sobre si. Não a voar sobre os centrais como, num jogo de dupla, Veloso e Tê tão bem celebrizaram Jardel nas canções. Ainda que com estranheza, Ronaldo sobrevoará tudo o que conseguiu e tudo o que está para vir. Voará vivo, não em sonhos ou segundas vidas. Não foi preciso nascer duas vezes ou reinventar oásis à sombra da meia banana. Não foi preciso morrer, desta vez.
Um país que só reconhece os seus ídolos ou heróis após a hora da morte é um país que não faz justiça ao seu espelho de amor. É um país menor, o país do medinho e da canonização nas nuvens. Quando todos passam a iguais após a vida, eis que desaparecem os defeitos que o corpo levou a enterrar. Modelo de falsas virtudes, um país que não admite mestres mas adora gurus. Servil ao medo de errar, crucificado em antecipação pelo nervoso miudinho de se antecipar ao julgamento da história, país que serve frios os mártires para o panteão. Só pela ruptura epistemológica, sabe muito bem. A atribuição do nome de Cristiano Ronaldo ao Aeroporto da Madeira é a glorificação do presente indesmentível.
Diz bem da intranquilidade portuguesa com o nosso simbolismo, esta falta de consenso sobre a justeza de ter um aeroporto com o nome de um jogador de futebol. Há quem defenda até que, para Ronaldo, só um campo relvado ou pavilhão gimnodesportivo. A lógica de que, para escritor, só biblioteca ou jardim romântico. A lógica de que, para médicos, só hospitais e fontes de água potável. Se para políticos ou militares tudo é possível, nomeie-se a ala psiquiátrica para o povo que lava neste rio. Deitados no divã, a seu tempo, descobriríamos quão falível é a nossa relação com os símbolos que temos como certos e com as coroas de glória que julgamos moldar a história e traçar-nos o destino.
Para a civilização que conhecemos, a madeira simbólica é matéria-prima, centro da vida, quase fulgor do útero materno. O saber no coração da floresta. Mas, aparentemente e com tiques de dono, Portugal Continental manifestou estranheza pelo rebaptismo do aeroporto. Eterno complexo de inferioridade nacional, este, que traça a qualidade dos seus símbolos pela nobreza escolástica das aptidões ou dos pedaços de barro. Lamentavelmente para alguns, a Madeira não é só a terra da poncha-banana ou de Alberto João Jardim a quem já caberia muito bem, para muitos, dar nome a aeroporto (e que até o terá recusado). A Madeira deve hoje ao Arquipélago Ronaldo muito do que permanece. O país inteiro deveria entender que não pode nacionalizar os interesses regionais por decreto. Muito menos quando estes pertencem ao Mundo.»
(Miguel Guedes, músico e advogado, Opinião, in JN)
Leoninamente,
Até à próxima
Que texto mais mal escrito!!! Quase tão mau como as suas musicas.
ResponderEliminarO conteúdo é defensável, bem como o contrário, mas parece-me um assunto menor, típico do tuga-discute-se tudo e nada só porque sim.
Sendo verdade que o texto não é bom (não conheço as suas músicas) o que ele hoje lhe deu para defender e que eu acho ridículo terá por certo um sentido para quem lê o JN. Para mim não tem!
ResponderEliminarEspero não acordar um dia destes e, ao abrir a Internet, dar com uma notícia de que em Buenos Aires (capital do Messi) se tenha descarrilado um combóio! Por exemplo. Que nos reste um pouco de decência não será pedir muito! Já temos o Figo Maduro que espero nada tenha a ver com o Figo pesetero! Ai Portugal, Portugal! Estás a ser comido de cebolada! E não é por mim!